ZIMBO TRIO AINDA É O FINO DA BOSSA
Por Renato Ladeia | 07/12/2010 | ArteO ZIMBO TRIO AINDA É O FINO DA BOSSA
O velho e bom Zimbo Trio ainda está vivo, muito vivo. A apresentação no teatro Fecap, na Liberdade, no dia 20 de novembro, de um show que servirá de base para um disco ao vivo foi para lá de bom, foi ótimo, eletrizante, comovente, agradável aos ouvidos e parece que o tempo passou muito rápido. Sim foi rápido demais, pois mal nos acomodamos nas cadeiras e o show estava terminando.
Será o primeiro disco autoral do mais antigo e persistente trio da MPB, que vem sobrevivendo desde os anos 60, com competência e sensibilidade, apesar das dificuldades inerentes a um grupo puramente instrumental no Brasil. O Zimbo Trio ao longo de sua extensa e produtiva carreira acompanhou e gravou com grandes nomes da MPB, entre eles a cantora Elis Regina.
O grupo, percebendo que somente como músicos instrumentistas seria difícil sobreviver por muito tempo, teve a idéia de criar uma escola de música, o CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical), onde ensinariam aos jovens a velha e boa música popular brasileira, tendo o grupo como referência. Foi uma sacada certeira, pois a escola formou e ainda forma excelentes músicos, desmentindo a infeliz frase do Vinicius de Moraes de que São Paulo é o túmulo do samba.
O pianista Amilton Godoy, que fez a direção musical do show, comentou que o disco autoral é um antigo sonho do grupo e para isso foram retiradas das gavetas composições que eram conhecidas apenas no âmbito familiar e por amigos mais chegados. "É chato só ser aplaudido só em casa e por isso resolvi compartilhar com vocês", confidenciou ele.
Na platéia, muito mais cabelos brancos do que nos velhos tempos do Fino da Bossa, programa semanal da TV Record, comandado pela Elis Regina e Jair Rodrigues. Um público maduro, fiel e de bom gosto, que acompanha o grupo desde os idos tempos, ao qual, modéstia a parte, me incluo.
Tivemos com o grupo um contato muito próximo, quando minha filha, hoje a cantora e compositora Mariane Mattoso, estudava musicalização e piano no CLAM. Na época, ela com nove anos, participava do grupo de flauta doce, o qual se apresentou inclusive em um programa de televisão de grande audiência, cantando e tocando o clássico Aquarela do Brasil de Ary Barroso, acompanhado pelo Zimbo Trio. O grupo de Flauta doce ganhou um disco: Zimbo Trio e as Crianças. Além da Mariane, minha mulher, a educadora musical Célia Mattoso, estudou piano com o Amilton Godoy durante bom tempo. Naqueles tempos tivemos até o prazer de recebê-los em visita a nossa casa em São Bernardo para um cafezinho e um saboroso bate papo quando o grupo estudava a possibilidade de criar parcerias musicais na região.
Bons tempos também eram aqueles das audições do CLAM, quando encontrávamos a mãe do Amilton, hoje com 97 anos. Ela falava com prazer como disciplinou os meninos (Amilton, Amilcar e Amilson) a estudar piano em Bauru, nos anos quarenta. "Eram 8 horas de estudo por dia e nada de brincar enquanto não terminassem as lições". Está aí a prova de que talento não é só inspiração, mas também precisa de muita disciplina e transpiração.
E assim, o velho e bom Zimbo Trio, que agora é quase "Zimbo Quatro" rejuvenesceu com a entrada do competente contrabaixista Marinho Andreotti que substituiu o saudoso Luiz Chaves e também do Pércio Sápia um baterista jovem e talentoso que faz revezamento com o inigualável Rubinho Barsotti. O grupo promete que continuará por muito tempo se apresentando pelos palcos deste Brasil profundo e sensível à boa música, considerando que Amilton ainda está em plena forma, deitando e rolando durante em mais de uma hora de show.