William Waack e a Intentona Comunista Portuguesa
Por Félix Maier | 05/05/2009 | PolíticaNo dia 25 de abril do ano em curso, o repórter da TV Globo William Waack abordou, no Jornal Nacional,
os 35 anos da Revolução dos Cravos, que, segundo ele, teria dado início
à redemocratização de Portugal. Nada mais incorreto. O que é de se
lamentar, tratando-se de William Waack, um historiador sério, autor de Os Kamaradas (Cia das Letras, SP, 1993), a obra mais completa já escrita sobre a Intentona Comunista, ocorrida no Brasil em 1935.
Após
o longo governo do ditador Antônio Salazar, iniciado em 1926, ocorreu,
em 25 de abril de 1974, o golpe contra Marcelo Caetano, elaborado pelo
Movimento das Forças Armadas (MFA), composto por oficiais jovens,
principalmente capitães que tinham participado das guerras coloniais,
com princípio anarcossocialista, de tendência esquerdista radical. A
multidão foi à rua para aplaudir o golpe, colocando cravos nos canos
dos fuzis dos soldados – daí o nome "Revolução dos Cravos".
Após
o golpe na Terrinha, esquerdistas do mundo inteiro acorreram a
Portugal, especialmente vindos da América Latina, em busca de mais uma
utopia socialista. Assim como José Serra "refugiou-se" no Chile do
socialista Salvador Allende, após a Contra-Revolução brasileira de
1964, Márcio Moreira Alves, o "Marcito" do famoso discurso de 1968 na
Câmara, foi um dos muitos brasileiros que se aliaram às hostes dos
comunas portugueses. Foi em Lisboa que Moreira Alves, falecido recentemente, escreveu o livro O Despertar da Revolução Brasileira (Seara Nova, Lisboa, 1974). No livro, diz Moreira Alves: "O protesto [discurso na Câmara] que escrevi era uma crítica por dentro. De um modo geral era eu simpático ao governo militar" (pg. 50). Para "Marcito", foi um alívio ver a saída de Jango, pois "achava-o
oportunista, instável, politicamente desonesto... Aparecia bêbado em
público, deixava-se manobrar por cupinchas corruptos... e tinha uma
grande tendência gaúcha para putas e farras" (pg. 51 e 52).
Moreira Alves foi também o criador da expressão "ditabranda", por não
considerar como sendo uma verdadeira "ditadura" o período do governo
dos militares que antecedeu o AI-5. Recentemente, a Folha de S. Paulo
utilizou essa expressão em um editorial, o que rendeu protestos
veementes dos esquerdistas herbívoros e carnívoros de plantão, a
exemplo da libélula (*) uspiana Maria Victoria Benevides.
Nos
18 meses que se seguiram ao golpe português, cujos líderes se dividiam
em facções concorrentes - conservadora, moderada e marxista -, Portugal
viveu um grande tumulto. Seis governos provisórios se sucederam, foram
tentados golpes e contragolpes, houve greves, tomada de fábricas,
fazendas e meios de comunicações.
Havia
a ameaça de uma guerra civil entre o Norte conservador e o Sul radical.
Parecia a repetição da Rússia de 1917, com Caetano como Nicolau II e o
ministro Mário Soares como Kerenski. Porém,
o Lênin da verdadeira revolução democrática portuguesa foi o pacato
coronel Antônio Ramalho Eanes, que, ao invés de lançar Portugal numa
ditadura marxista, no dia 25 de novembro de 1975 subjugou os radicais
de esquerda nas Forças Armadas e garantiu a democracia em Portugal.
É
uma pena que William Waack não saiba disso. Ou não deixam que saiba,
pois os meios de comunicação do Brasil, dependentes de verba
publicitária oficial, não conseguem sobreviver sem fazer afagos aos
atuais donos do poder, especialmente a Franklin Martins, antigo
terrorista do MR-8, mentor do seqüestro do embaixador norte-americano,
Charles Elbrick, e atual ministro da propaganda do governo Lula. "Isto
é uma vergonha" – como diria aquele apresentador expulso da TV Record,
por fazer sistemática crítica aos petistas.
(*) Libélula – Neologismo que criei, deriva-se de Libelu - Tendência Liberdade e Luta,
grupo estudantil-lambertista, que atuava na USP (Pierre Lambert foi um
dos ideólogos da IV Internacional - Trotskista). O ministro da Fazenda
do Governo Lula da Silva, Antônio Palocci, foi um de seus integrantes.
A USP foi fundada em 1934, no Governo Armando Sales de Oliveira, e
nesta, a Faculdade de Filosofia e Letras, que se tornaria, com
Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni numa das
matrizes de difusão do Marxismo.