Vou morrer fora de forma sim, e daí?

Por NEILAYNE FERREIRA DE SOUZA | 05/06/2015 | Crônicas

  A uns dois meses atrás decidi começar - de novo, a malhar, treinar ou seja lá como estejam chamando hoje. Esse termo treinar soa tão ridículo aos meus ouvidos. O que estou treinando? Só se for a força de vontade e determinação em perder essa pochete de gordura alojada na minha cintura.

   Para começo de conversa me revolta ter que pagar para sentir dor, ficar suada, e irritada, consigo tudo isso lá em casa numa sessão de faxina. Outro detalhe interessante são essas fantasias, não me atrevo a chamar de roupas essas peças coloridas e excêntricas vendidas a peso de ouro. Não sei quem inventou essas malhas reveladoras, mas com certeza não teve compaixão por quem ainda não está com o corpo de Panicat. Sou capaz de apostar que foram criadas por alguma mente maldosa para te envergonhar e recriminar a nós meros mortais, que temos vivido os últimos anos de nossas vida - para não dizer quase todos, deitados no sofá lendo com uma mão o livro e com a outra um pacote de bolacha recheada, enquanto desfrutávamos do nosso doce ócio.

    As academias são desenhadas e projetadas para quem já está em forma e não para aqueles que buscam se redimir de anos de maus hábitos. Primeiro, te atenderá uma recepcionista que ao escutar que você nunca malhou ou que precisa de acompanhamento pois não sabe usar o maquinário, faz uma cara como se tivesse escutado que você rouba bebês para vender os órgãos. Depois se sua cara não rachar de vergonha o suficiente e você seguir com sua auto punição, se deparará com o terríveis espelhos. Eles estão por toda a parte, te espreitando e julgando, são gigantes e capazes de detectar celulites desconhecidas e flacidez em locais que até então haviam passado despercebidas,

    Continuando a narrativa de minha expedição naquele antro de máquinas de torturas medievais academia.. Em meu primeiro dia fui recebida pelo proprietário simpático. Ele depois de algumas perguntas, chamou uma tal de Vanessona, que emergiu de uma porta atrás da recepção e para me assustar mais só, se o próprio Jason ou o Fred Kruger tivessem saído por aquela porta. Ela era uma mocinha - eu acho, mas tenho minhas dúvidas, de aparência pequena, mas muito intimidadora com seus músculos de pedra espalhados por cada centímetro de seus cerca de 1,65m, voz grossa e tatuagens.  Ela quando me viu, me deu uma olhada de cima a baixo, e fez um muxoxo de desprezo, e  imagino que deve ter pensado: Lá vem mais uma sedentária para acabar com minha paz. Vamos ver quando tempo essa dura. Minha mente imaginativa, fantasia que em sua mente ela dê uma risada de vilão e um sorriso maldoso após essa frase.

    O gentil careca lhe informou então que ela deveria me coagir orientar no uso dos instrumentos de tortura aparelhos, e assim nasceu nosso caso de ressentimento recíproco.  Ela me seguia a toda parte contando exercícios e corrigindo posturas, quando no meu nível de cansaço eu mal conseguia articular frases e lembrar de respirar.

Sim caros leitores, sou preguiçosa e me cansei nos primeiros 5 minutos. Os outros 55 que passei nesse local, poderiam ilustrar um livro sobre superação e vexame.

No fim, cansada, suada, ainda sentada no leg press, olhei com amor a porta de saída, sorri, reuni minhas últimas energias, fruto de minha alegria pela fuga eminente e me levantei, quase me levantei, neste exato momento minhas pernas deram uma dobrada repentina, e por pouco não cai de joelhos. Estava sentindo o efeito do treino neste corpo fora de forma, cada passo era uma falha das articulações e uma dobrada involuntária no joelho. Procurei aflita testemunhas risonhas da minha vergonha, mas graças a Deus essas paredes espelhadas serviram de distração, cada um dos alunos estava preocupado com a própria auto análise e busca histérica pela perda das calorias das refeições anteriores.

    Reuni os frangalhos da minha dignidade, e marchei para a liberdade por entre os aparelhos, fingindo ser uma deles, me camuflando no ambiente, aparentando indiferença, e me apoiando disfarçadamente em qualquer barra de ferro próxima, até que sentia a brisa noturna tocar minha pele trêmula e soube que o suplício estava quase no fim, só teria que caminhar mais meia quadra até o carro.

   Graças a Deus, do lado de fora não haviam  espectadores, pois dei uma tropicada nos paralelepípedos e como mal tinha forças para andar, me estabaquei com gosto no chão. Me ergue irritada, terminei o trajeto até o carro, abri a porta e me joguei no banco. Fechei a porta, encostei a cabeça no volante, suspirei e esperei uns minutos até recobrar o domínio do meu corpo e para poder conduzir até em casa. Depois de uns 10 minutos, desestacionei e arredei dali. Deu uma última olhada para trás, e jurei que jamais voltaria ali, com um sorriso de vitória no rosto, apesar de ter perdido o dinheiro da mensalidade.

   Abençoada genética da minha família que é magra.