VOO DE RECONHECIMENTO
Por João Felinto Neto | 15/02/2015 | CrônicasNa pista de pouso e decolagem da Base Aérea Albatroz nas proximidades da província de Negar, o caça Otan-1 alçava voo para uma operação aérea tática, cuja tripulação era composta pelo piloto Capitão Estrabão Tortelos e o navegador primeiro Tenente Olhizaino Zâimbo.
- Atenção torre pedindo permissão para manobra de decolagem, Capitão Tortelos, caça Otan-1, operação de reconhecimento.
- Capitão Tortelos, o caça Otan-1 tem a decolagem autorizada. Ecoou uma voz no rádio da aeronave.
Saindo da pequena aldeia de Poeira em busca de água na Lagoa da Miséria, o lugar mais próximo para obtenção de àgua, que fica numa distância de aproximadamente seis quilômetros, Uzuri com sua filha Hidi e muitas outras com suas crianças, ao final da tarde, a vermelhidão do sol se pondo no ocidente, caminham no arrastar de sandálias de sola de couro de camelo enquanto o vento ainda quente levantava o pó de areia como se fosse uma leve fumaça de uma chaminé.
- Hidi filha, já está muito escuro, vem pra perto da mamãe.
A pequena Hide corre em direção à sua mãe no exato momento em que elas escutam o barulho de um avião nas proximidades.
No caça Otan-1, o capitão Tortelos percebe a movimentação nas proximidades da Lagoa da Miséria com o infra vermelho da aeronave, comunica imediatamente à torre o ataque a possíveis terroristas carregando cargas explosivas, provavelmente nitroglicerina. O primeiro tenente Olhizaino confirma com um aceno que a suspeita tem procedência. Depois da autorização para o ataque, o Otan-1 se posiciona e lança o míssil em direção ao alvo.
O encantamento sob a visão daquela luz extremamente veloz em sua direção, faz com que a pequena Hidi pare boquiaberta antes de alcançar os braços da mãe que mesmo antes de se voltar toma consciência do que ocorre.
- Missão cumprida Comando, o ataque foi um sucesso, alvo atingido, sem sobreviventes. Soa a voz do Capitão Tortelos enquanto satisfeito pelo cumprimento do dever, sorri o primeiro tenente Olhizaino.
De volta à base aérea de Albatroz, o caça Otan-1 aterrissa com sucesso. Todos os outros companheiros pertencentes ao Esquadrão de Elite das Operações Estrangeiras de Reconhecimento Tático cumprimentam com efusão o capitão Tortelos e o primeiro Tenente Olhizaino.
Na manhã seguinte a notícia desastrosa, um caça de reconhecimento dizima mulheres e crianças nas proximidades da Lagoa da Miséria, um desastre sem precedentes, houve uso de míssil. A comunidade chora e pede justiça.
No entanto, sendo os responsáveis pela tragédia, militares a serviço de uma organização internacionalmente poderosa, ninguém é punido, ao contrário:
- Capitão Estrabão Tortelos pede autorização à torre para decolagem do caça Otan-2.
- Autorização concedida, Capitão. Ecoa na aeronave.
Em mais um voo de reconhecimento parte da base aérea Albatroz o caça Otan-2 com a mesma tripulação do antigo caça Otan-1: Capitão Tortelos e o primeiro Tenente Olhizaino.
A aproximadamente onze horas da noite, a uns oito quilômetros de Pinda, pequeno povoado não muito longe da aldeia de Poeira, havia um grupo de caçadores, crianças e jovens adolescentes, os mais novos usavam estilingues e os outros espingardas de ar comprimido.
O jovem Zalmai brincava com seu irmão Zelgai de apenas doze anos, que ele com seu estilingue, só matava calango quando devia matar passarinhos.
- Eu derrubaria até um avião com a minha baladeira. Diz em resposta ao seu irmão, sorrindo, Zelgai.
O garoto Zemar que tinha a mesma idade de Zelgai grita: - Aí vem seu avião, derruba-o agora.
Realmente nesse exato momento sobrevoava-os o caça Otan-2 pilotado pelo Capitão Tortelos e seu primeiro Tenente Olhizaino, desta vez o primeiro também em perceber possíveis terroristas:
- Capitão Tortelos, deu para ver nesse vou rasante que realmente são terroristas armados com rifles poderosíssimos e uma curiosa arma talvez usada para lançamentos de mísseis.
- Por ser tarde da noite, mesmo examinando-os através do infravermelho, vamos usar as metralhadoras em vez de míssil, lembra-se da última vez, todos disseram que foi exagero. Diz o Capitão Tortelos.
- Nesse ponto o Capitão tem razão, manda bala, passa fogo nesses terroristas de merda. Grita o primeiro Tenente Olhizaino.
Os meninos olhando para o céu escuro gritam entusiasmados no segundo rasante do caça Otan-2, apenas que dessa vez, mal dá tempo a Zelgai por a pedra na funda da atiradeira, esticar e fazer pontaria pela forquilha tendo como alvo a aeronave. A sua pedra vai de encontro a uma infernal saraivada de bala advindo da metralhadora do avião de caça.
De volta à base aérea, como da outra vez, o Capitão Tortelos e o primeiro Tenente Olhizaino, são saudados com euforia por seus companheiros pertencentes ao Esquadrão de Elite das Operações Estrangeira de Reconhecimento Tático.
No outro dia, pela manhã, corre a desagradável notícia de que um caça de reconhecimento, desta vez executou a tiros, cinco jovens que estavam caçando passarinho à noite, e usavam espingarda de seta e baladeira. Um desastre, agora com precedentes. A comunidade mais uma vez chora consternada com o absurdo e exige justiça.
- Primeiro Tenente Olizaino, aqui pra nós, os poderosos rifles eram espingardas de seta, e a curiosa arma lança míssil era baladeira, e os nossos terroristas eram apenas crianças. E agora? Fala desgostoso o Capitão Tortelos.
- Meu Capitão Tortelos, gente inocente esses terrorista matam a torto e a direito, todos os dias. Errar, Meu Capitão Tortelos, é humano. Além do mais, por que diabos esses meninos foram caçar tarde da noite. Exalta-se o primeiro tenente Olizaino. - Primeiro tenente, sabe que tem razão, não é a toa que pertencemos ao Esquadrão de Elite das Operações Estrangeira de Reconhecimento Tático. Esbraveja com orgulho Tortelos.
Quem sabe, depois de dois assassinatos de extrema perversidade contra civis jovens, mulheres e crianças, sirva de lição para que se evite repeti-los.
- Torre, aqui é o Capitão Tortelos do Otan-3 pedindo permição para voo noturno de reconhecimento...