Volta Maria !

Por Maria Cristina Galvão de Moura Lacerda | 03/11/2006 | Contos

Maria, a quem chamava de minha fiel escudeira, não tão fiel agora, é minha empregada há treze anos.

Ontem pela manhã ela recebeu um telefonema informando que o sogro da sobrinha tinha falecido, coisa já esperada uma vez que ele encontrava-se com câncer há tempos.

Foi o maior "fuzuê" em casa e depois dela receber uma série de telefonemas ela me informou que ia no velório do homem em Ribeirão Preto. Levou os cinqüentinha que vou poder descontar sabe-se lá quando e o único que eu tinha na carteira.

Desconfiada falei que ela não retornaria ontem mesmo mas ela garantiu que voltava pois ia de carona com um neto do falecido e que ele não poderia perder dia de serviço (?).

Pensei comigo que meu dia estava começando bem!

Montei todo um esquema para ver com quem ficaria minha filha depois do colégio enquanto me arrumava para ir trabalhar.

Quando a menina soube que a empregada tinha ido viajar disse que achava bom porque poderia comer a minha comida. Aquilo me deu a maior moral! Faria um almoço à altura, tanto que passei no supermercado para comprar os ingredientes.

Contudo, Lívia, que foi comigo, não me deu sossego enquanto não pegou batatinhas pré cozidas.

Caprichei mesmo no almoço e na correria fui usando todas as panelas e amontoando-as.

Quando ia servir o almoço a Lívia, queria, porque queria, as batatas fritas. Só para não ouvir mais o " frita, mãe", lotei a frigideira de óleo e quando despejei delicadamente as batatas, foi como se houvesse explodido um vulcão: pulou tudo.

Além da queimadura das mãos e no braço, havia óleo por tudo que era lugar.

Pensei comigo mesma que ia disfarçar e deixar para a Maria limpar. Quem mandou ir se bandear pro lado do morto e me deixar na mão, justamente dia de semana!

E assim pensando, fechei a tampa do fogão e coloquei um tapetinho para enxugar um pouco do óleo do chão.

Os pratos e as panelas que usei coloquei na máquina, se bem que era muito além da capacidade da mesma. As panelas que não couberam eu as coloquei em uma bacia e deixei escondida.

Pronto, quando a empregada chegasse teria muito a fazer.

Hahaha, minha vingança seria maligna!!!

Fomos comer pizza no jantar e nem me dei conta que ela não tinha chegado.

Bem feito, chegará tarde e terá ainda que lavar até as louças para o café da manhã, pois estão todas sujas.

De repente, toca o telefone e é o sobrinho da Maria informando que o enterro seria no dia seguinte.

Caramba, tô ferrada!

Ligo a máquina de lavar louças e ela não funciona.

Lavo só o que vou usar no café da manhã e olhe lá.

Tenho dor de cabeça de madrugada, preciso tomar analgésico e ainda tenho que lavar o copo, senão faltará para o café amanhã.

Acordo de mal humor, com dor de cabeça, coloco o leite para ferver e a Lívia vem me dizer que não encontra a blusa do uniforme.

Fico parva porque ela tem quatro camisas e não ter uma na gaveta é demais.

Passo uma e no que estou olhando, no cesto vejo uma saia há muito tempo sumida do meu guarda-roupa.

Detenho-me examinando-a pois ela está queimada, quando, talvez tenha encostado o fio no ferro e é o maior estouro. Fogo por tudo que é lado, inclusive no meu braço.

Oh Jesus! O leite derrama todo!

Corro para desligar o fogo e tropeço no tapeta em frente ao fogo. Bato a boca o chão e começa a sair sangue. Quebro o dente da frente.

Desesperada telefono para a casa do dentista que não consegue entender direito (como é difícil falar sem o dente da frente quebrado!).

A coitada da minha filha, vendo meu desespero, tão solícita, resolve ajudar e começa a limpar o banheiro social.

Inexperiente, derruba o sabão em pedra dentro do vaso sanitário, dá a descarga e dá descarga e nada. Nada e ela dá mais descarga e o banheiro vira uma piscina.

Sem café, com um dente quebrado, com dor de cabeça, os braços duplamente queimados, com os pés molhados, estou procurando urgente nas páginas amarelas um diarista, um eletricista para consertar o ferro, um técnico para a máquina de lavar louças, um desentupidor para o banheiro, senão a Maria chega e vai me dar a maior bronca.