Vivendo na sombra de alguém

Por Bruno Santos | 08/09/2013 | Filosofia

Podemos encontrar alguém com quem queiramos compartilhar fragmentos esporádicos de felicidade neste mundo de expiação. Podemos escolher alguém para mostrarmos aquilo que mais se aproxima do que verdadeiramente somos. Mas não podemos transferir a nossa responsabilidade de lidarmos com nosso íntimo, de consertarmos nossas falhas, de preenchermos nossos vazios, de transformarmos nossas projeções. Não podemos querer que alguém ou algo faça tudo por nós! Isso é no mínimo egoísta, demeritório. 

Ora, ainda vive-se tempos em que se acredita em magia? Então espera-se que desejos sejam instantaneamente realizados apenas por força de um pensamento? Ignora-se toda e qualquer lei de ação e reação? Quer-se fugir de eventos desencadeados e mudar toda a realidade externa num piscar de olhos? E a realidade interna, quer-se mudar da mesma forma? 

Haveria sempre duas coisas que impediria alguém de concretizar precisamente esse plano egocêntrico: a memória e a consciência! É inevitável nos lembrarmos de quem fomos, de quem somos e nos questionarmos, mesmo que a ignorância insista em perdurar. Por isso os adoradores desse plano, talvez até inconscientemente, sonham com alguém que o execute por eles, que os transforme completamente, assim não restando nem mesmo a memória, surgindo um novo ser. O que tais adoradores não vislumbram é que, mesmo que isso fosse possível, viveriam novos problemas, pois teriam que reaprender tudo por outros caminhos. 

Vejo pessoas sonhando com o dia em que encontrarão alguém que as farão esquecer do mundo e de si mesmas, alguém que as “elevarão” a um estado de transe, de alienação, alguém que realizará todas as suas vontades, que as consumirão. Isso que se espera não é amor, mas sim consequência da falta de amor próprio. Enquanto não se tiver esse pré-requisito básico, não tão fácil de se alcançar ou mesmo de se enxergar, já que amor é tão mal compreendido, um indivíduo não será capaz de amar um outro e estará entregue ao consumismo, às paixões, aos seus caprichos. 

Sim, o Amor é racional! Leve-se para a luz, não fique na sombra de alguém, faça sua parte.