Vivências no Analfabetismo
Por Marilene Schwinn | 14/01/2009 | Educação
INTRODUÇÃO:
A Educação é uma oportunidade para atualizar e incluir socialmente pessoas de várias classes no processo de aprendizagem, reforçar sua capacidade crítica nas práticas que nela se realizam, e, através de suas vivências no analfabetismo, levar em conta que, o voltar a estudar, é uma necessidade diária, e não apenas uma preocupação abraçada pela Educação de Jovens e Adultos (EJA), mas é também uma luta pessoal, muitas vezes difícil, quase sempre árdua, com inúmeras dificuldades enfrentadas por essas pessoas, sendo elas, de cunho particular, profissional, escolar e a não valorização cultural do indivíduo no seu desenvolvimento como cidadão.
É preciso considerar que estes alunos possuem uma história de vida, uma grande bagagem de conhecimentos e saberes, nos quais o trabalho docente desenvolve a partir deles, suas potencialidades, traçando percursos formativos de incentivo ou de manutenção da situação de aprendizagem, visualizando esse histórico é que se experimenta o desafio de analisar, no processo de escolarização de jovens e adultos, a realidade da escola e do contexto social, em que professores e alunos constroem através de suas vivências a prática social da leitura e da escrita, construindo o conhecimento conjuntamente.
Os motivos que levam essas pessoas a procurarem escolas que oferecem educação de Jovens e adultos são os mais diferenciados e variados, mas podemos perceber que todas elas conheciam as moedas em circulação e as utilizavam em pequenas transações como pagar o ônibus e comprar alguns produtos na venda próxima à suas residências, buscam através do conhecimento das letras, ou seja, leitura e escrita em situação reais de suas vidasaprender a ler e escrever.
OBJETIVO
Esse artigo tem por objetivo pesquisar as dificuldades encontradas por uma clientela de diferentes idades para que possam ser inseridos na sociedade em que vivem e nas práticas sociais da leitura e da escrita, através de suas vivências no analfabetismo e compreendê-la como resgate de educando como cidadão capaz de mudar sua própria realidade.
Este estudo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa feita com jovens e adultos em duas turmas de EJA. Para o alcance dos objetivos propostos, optamos pelo método qualitativo de pesquisa, utilizando a observação da dinâmica da sala de aula, considerando os atores sociais como sujeitos ativos dos processos histórico, cultural e político. No sentido de colaborar nesse campo de estudo propusemos um questionário com perguntas voltadas ao uso social da leitura e da escrita, baseada na própria cultura do aluno e na valorização deste como sujeito ativo de sua aprendizagem. Destacamos o interesse e a participação dos alunos nesse processo educativo.
É comum ouvirmos que o analfabeto é como se fosse um cego, que vive nas trevas da ignorância e que o analfabetismo é uma doença que precisa ser extirpada do nosso país. Podemos escutar falas dos educandos tratando dos constrangimentos e desafios de viver numa sociedade sem muita familiaridade com a leitura e a escrita. Aqui é posta em questão a idéia comum de que para o analfabeto superar esta condição é uma mera questão de empenho e responsabilidade de cada indivíduo, sem qualquer relação com determinantes sócio-econômicos e nos permite compreender o acesso à leitura e à escrita dentro das lutas sociais travadas em nosso país e o direito à educação por parte dos jovens e adultos como uma conquista inacabada.
A análise dos dados apresentados revela a exclusão do direito educativo imposta aos jovens e adultos em nosso país, marca histórica da desigualdade social que não é tratada somente no plano das relações entre classes, mas numa abordagem que envolve outras dimensões que os anulam como sujeitos produtores de cultura e de saberes em seu processo de constituição histórica, com olhares no ontem hoje e amanhã e importante papel que podem desempenhar dentro da compreensão do que se entende por analfabetismo, valores sociais a ele atribuídos e ao conceito de letramento e suas vivências com a cultura escrita. Além da escola, nos espaços de convívio religioso, do trabalho, do lazer, da família, na interação com os meios de comunicação, os indivíduos mantêm contato com a leitura e a escrita. Portanto, criam estratégias de leitura e desenvolvem mecanismos de sobrevivência no meio letrado, valendo-se da capacidade de observação, oralidade, memória, cálculo mental e retorno aos estudos e a escolarização são aspectos, dentre outros, que compõem as transformações das sociedades tradicionais que deram origem ao Ocidente Moderno. Além disso, segundo estes estudos, a relação destes termos com o desenvolvimento social e econômico não é mecânica, não está marcada por uma perspectiva evolucionista.
Um outro aspecto evidenciado diz respeito ao modo simplista como a relação entre alfabetização e cidadania é normalmente concebida: a primeira seria pré-requisito e porta de entrada para a segunda. As autoras revelam que a relação se torna mais complexa à medida que o acesso à leitura e à escrita é entendido como um processo não neutro. Inscrito nas lutas políticas, o letramento passa a ser visto como um instrumento para a conquista da cidadania.
O terceiro aspecto destacado, presente em pesquisas acadêmicas, refere-se à relação entre alfabetização e desenvolvimento cognitivo. Nos são apresentados estudos que ratificaram a idéia de que os sujeitos adultos não letrados ou de escolarização tardia teriam um desenvolvimento psicológico comprometido. Estes indivíduos estariam privados de habilidades identificadas com a abstração como o pensamento descolado do contexto imediato de ação e o controle sobre os próprios processos de pensamento. A estas conclusões as autoras contrapõem estudos que mostram que aquelas habilidades, supostamente ausentes dentre os analfabetos, teriam modos próprios de desenvolvimento no âmbito escolar. Dessa maneira, as hierarquizações, assim como a desqualificação de outros modos de pensamento, não fariam sentido.Por fim, associada à discussão anterior, duas tradicionais dicotomizações são postas em questão: cultura oral e escrita, cultura popular e letrada. A visão que concebe estes aspectos como conceitos que se opõem e que, não raro, estariam marcados por índices de valor hierarquizados seria frágil e simplista para a compreensão do mundo da cultura e dos processos educativos. Estas polarizações, quando abordadas em contextos históricos concretos, se revelariam incapazes de explicar as relações complexas e as intercomunicações existentes entre tais conceitos nas práticas culturais. Assim, olhar para os fenômenos culturais a partir desta perspectiva dialógica implicaria numa abordagem que busca apreender culturas escritas, culturas populares, como fenômenos plurais, não redutíveis a generalizações.
Quais as contribuições que estes estudos podem trazer para a organização das práticas pedagógicas dos educadores de EJA? Um desafio formulado pelas autoras indica um norte para responder a esta questão: como garantir o direito à educação à população analfabeta e pouco escolarizada valorizando a cultura, as formas de expressão e os conhecimentos de que os jovens e adultos são portadores? Ora, a maioria dos estudos apresentados pelas autoras no quarto capítulo oferece elementos para formulação de uma concepção de fundo: as representações que desqualificam os sujeitos analfabetos ou pouco escolarizados sustentam-se em visões de mundo simplistas e preconceituosas. O olhar para estes sujeitos em suas práticas sociais concretas, procurando reconhecê-los não a partir daquilo que supostamente lhes falta, mas a partir de modos de ser e pensar particulares, faz com que eles possam ser compreendidos como sujeitos produtores de cultura. Nesse sentido, "Preconceito contra o analfabeto" propõe, de forma instigante, uma provocação aos educadores: conhecer o que sabem, o que pensam e como aprendem os jovens e adultos analfabetos ou pouco escolarizados. Investigar as práticas culturais nas quais estes sujeitos estão envolvidos, práticas estas constitutivas de suas subjetividades, e perscrutar as interlocuções – aquelas em curso e aquelas que podem ser intencionalmente planejadas - entre estas práticas culturais não-escolares e aquelas próprias da cultura escolar.
METODOLOGIA
Os resultados foram apurados a partir dos questionários respondidos por quarenta e cinco pessoas, com idades inferiores à 30 anos e superiores à 60 anos.
As entrevistas foram semi-estruturadas gravadas e transcritas, com duração média de 5 á 10 min.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho aqui desenvolvido serve de contribuição para alunos e educadores, pois mostra uma visão de mundo, através dos olhares de pessoas que vivenciam em seu cotidiano o analfabetismo, que muitas vezes os prejudica em tarefas tão importantes, como deslocar-se de um lugar ao outro, ir ao supermercado ou até mesmo em sua entrada no mercado de trabalho, mas que ao mesmo tempo procuram escolas para o desenvolvimento e aprimoramento de suas práticas sociais de leitura e escrita, associadas as sua vivências diárias construindo aprendizagens para o seu aprimoramento enquanto cidadão.
Autoras:
Angela Moraes
Bruna Corrêa
Genice Frederes
Jordana das Neves
Marilene Schwinn
Sabrina Bravo