VIVA O BRASIL

Por Julio Amaral Albuquerque Filho | 21/06/2013 | Política

Sempre procurei ser um cidadão politizado, mas confesso que nem sempre (ou quase nunca) participei ativamente, pelo menos fisicamente, de nenhum ato que exigisse minha presença, corpo a corpo, protestando ou me manifestando em favor ou contra alguma causa. De qualquer modo, ao longo de minha vida, procurei me posicionar dentro da vida política, expondo minhas opiniões e minhas convicções sem ter medo de ser contestado (infelizmente as pessoas não têm esse costume, o que limita a saudável discussão).

Pois bem, depois de tanto tempo cedi aos pedidos de minha mulher e resolvi acompanhá-la em uma das manifestações que assolam o país, precisamente aqui em Goiânia. Ainda meio tímido, meio contrariado e até com um pouco de receio pela segurança do evento, fomos lá!

Estacionei nosso carro em uma rua próxima e andamos até o local da manifestação. Já na ida, fui observando as pessoas que se dirigiam para o local. Na grande maioria jovens estudantes com suas caras pintadas de verde e amarelo e roupas brancas estampando algum tipo de mensagem. Iam a pé, pois, ao contrário do que foi divulgado, pouquíssimos ônibus circulavam pela cidade temendo, obviamente, a repetição de vandalismos que terminam por atingirem esses veículos como sendo eles, os grandes vilões da situação.

As pessoas caminhavam alegres e estimuladas por uma força quase inexplicável que lhes tomava o espírito. Acho que sentiam a sensação de poder. Um poder sem armas, sem discursos, sem força bruta, sem dinheiro... Muitos sorrisos, gritos de guerra, “apitaços” e “buzinaços”, além de uns poucos fogos de artifício compunham seus “equipamentos de guerra”. Sim, uma guerra! Do bem contra o mal. Do oprimido contra o poderoso. Da pobreza contra a riqueza desonesta. Do eleitor contra os políticos. Do povo contra os partidos. Da justiça contra o crime. Da igualdade contra a discriminação.

E com essas poucas, mas eficientes armas, esses jovens pareciam sentir que podiam mudar seus destinos e iam à luta. Mas não foram sós: pais, irmãos, tios e até alguns avós engrossavam as fileiras dos descontentes. Munidos de cartazes das mais diversas formas e com os mais diversos textos, tornavam a manifestação colorida, séria (sem desprezar o bom humor inerente do brasileiro) e verdadeira. Lá expunham suas reivindicações sem a presença de discursos demagógicos nem líderes mal intencionados que aparecem nestas horas na tentativa de se promover. Não vi nenhuma bandeira e nenhuma manifestação de algum partido político. Eles parecem que perceberam que o movimento não tem dono. É do povo. Somente do povo. Cada uma das pessoas que lá compareceu levava um ou mais desejos de mudança que se juntavam em uma só voz: ACORDAMOS! VAMOS À LUTA!

A manifestação ou “protesto” como dizem alguns nada mais são do que uma passeata sem início nem fim, aparentemente sem direção, onde todos, numa organização natural e intuitiva, puderam se manifestar livremente sobre seus desejos, suas discordâncias e suas opiniões sobre o que vem acontecendo na vida pública, conseqüência, principalmente, da má administração dos recursos públicos, pela crescente corrupção que alcança todos os níveis da sociedade, pelos desmandos dos políticos, pelas injustiças, pela falta de respeito às leis e por muitos e muitos casos de opressão, descaso e desrespeito ao cidadão que paga seus impostos e não recebe de volta o que lhe é de direito.

Não vi bebedeira, não vi brigas, não vi desrespeito a quem quer que seja (político não merece respeito mesmo...). O que vi foi um povo que, apesar do sofrimento que lhe é imposto, sabe se comportar, tem imenso orgulho pelo seu país e agora começa a ter a consciência do poder que tem.

Negros, brancos, pardos... Heterossexuais, gays, lésbicas... Pastores, ministros, padres... Professores, doutores, estudantes, garis... Homens, mulheres, crianças... Estavam todos lá, unidos em busca de mais justiça, mais dignidade, mais atenção com as suas causas e suas necessidades que, diga-se de passagem, passam longe de belos e caríssimos estádios de futebol.

Meu temor foi sendo substituído por uma sensação de alegria por estar ali. Pensei quase todo o tempo em nossos filhos. Pensei que não estaria vivo para ver as conquistas desse movimento, afinal nada acontece de um dia para o outro, mas se aquilo for a semente de uma mudança para melhor na vida das pessoas, certamente meus filhos poderão ser beneficiados. Quem sabe até os jovens manifestantes de hoje não colham os resultados dessa empreitada?

É só uma sementinha. É o início. Espero que seja o começo de uma grande mudança nos rumos desta nação que cansou de ser explorada, de ser tratada com desrespeito, de ser roubada nos seus direitos de cidadão e nas suas riquezas. Cansou de andar em ônibus cheios, mal conservados e de pagar caro por isso. Cansou de eleger políticos corruptos que não tem outro objetivo a não ser de locupetrar. O povo não aguenta mais pagar tantos impostos e ver seus familiares morrerem sem atendimento nos hospitais públicos, não terem educação adequada nas escolas, serem vítimas constantes da violência urbana, cada vez maior e outras tantas e tantas situações que os fazem sentirem-se seres humanos envergonhados de sua própria existência.

Voltei para casa de espírito renovado. Com um pouco mais de esperança no futuro. No futuro de meus filhos. Voltei orgulhoso pelo poder demonstrado por essas pessoas que, sem disparar um único tiro, mesmo de borracha, causa imenso estrago no “quartel general” daqueles que nos oprimem. Vamos derrotá-los não os deixando dormirem... Vamos derrotá-los calando suas bocas... Só não vamos cegá-los para que possam ver, amordaçados, a vitória desse povo sofredor que se cansou de ser manipulado e vítima de tanta injustiça e desigualdade. Tenho fé nisso!

VIVA O POVO! VIVA OS JOVENS! VIVA O BRASIL!