Vítimas da modernidade
Por José Nunez | 30/04/2010 | Literatura
Meu capitalismo e meu socialismo não foram aprendidos em livros, meu materialismo e meu socialismo são feito de meu próprio suor e sangue.
Quem entende mais de industrialização e exploração que um operário que sente na pele toda essa conversa fiada de capitalismo e socialismo, que tem seus braços, suas pernas e toda a sua capacidade motora empregada durante quase nove horas num movimento continuou e sem interrupção e com contador de produção lhe dedurando toda hora, e ainda relatórios que fazem um histórico de seu desempenho todos as horas e todos os dias.
Quem entende mais de materialismo dialético e histórico que eu que vejo profissionais sabotando o trabalho do outro, a competitividade que foge a todo o senso de justiça e consideração humana, trabalhadores de chão de fábrica, patrões e superiores vendo suas famílias sendo destruída e seus filhos sem devorados pelo abandono e a falta que eles fazem na condição de pais, a presença, a influência e educação terceirizada de seus filhos que são recompensadas com presentes que acaba de estragar ainda mais seus filhos, que não possuem alma, e são criados para formar a sociedade do consumo e pronto, e o seu desempenho sexual e amorosa que é totalmente comprometido pela falta de tempo e energia, a desestruturação da família que é compensada pelo sexo fácil e pago, a nossa ilusão de progresso materialista só não é maior que a nossa ilusão de progresso com seres possuidores de alma e corpo físico, o nossa desajuste com a vida, nossa incapacidade de aceitar a morte e a vida, nossas teorizações que nada explica, apenas tentam nos dignificar, nossos produtos que tomam o lugar da filosofia, da verdade, da amizade, da ética, da moral, da espiritualidade e de Deus, a e estatística forjada na mentira que na encobre a realidade que vemos nas ruas, a revolta dos oprimidos preste a desmascarar toda essas mentiras, essa mentira são baseada no abandono dos fracos e excluídos que são ignorados nas estatísticas e fica a sensação de que o país vai muito bem.
Não há fraco e oprimido que são seja capazes de uma revolução; é entre eles que nasce a revolta revolução, e assim se faz a eterna rotatividade no poder...
Eu sou máquina petulante e ridícula que suspeita que foi criada...
Eu sou a máquina movida a sangue ralo e alma perdida,
Eu sou a máquina que foge do programa, a máquina defeituosa porque pensa e sente,
Eu sou a máquina que deve ser substituída sempre que possível por outra máquina, de preferência por outra que não pensa, seja ela humana ou não,
Eu sou a máquina com um defeito gravíssimo porque sou desgasto e são se pode fazer qualquer tipo de manutenção, seja ela preventiva ou conserto,
Eu sou a máquina descartável,
Eu sou a máquina furiosa que manipula o tempo e a ordem das coisas,
Eu sou a máquina que questionam, reclama e lamenta...
Sou o operário chão de fábrica, trabalho para agregar valor... E agregar é trabalhar sem pensar, em falar sem ir ao banheiro, beber água o menos possível, sem questionar, sem querer revolucionar, sem olhar nos olhos dos superiores... falar com o patrão, sem pedir nada, sem ficar doente, sem faltar, sem dizer não...
Agregar valor desumaniza os trabalhadores de chão de fabrica feito eu, desumaniza os que podem se referir a mim com essa expressão grosseira e preconceituosa...
A indústria é desumanizadora por si só...
Desumanizou o operário chão de fábrica, Desumanizou os do topo dessa pirâmide, ou melhor, Torre de Babel... Desumaniza patrões, Desumaniza filhos de patrões, esposas de patrões...
Com industrialização perdemos a consciência, a vida, a sinceridade, a capacidade de elogio e reconhecer (somos todos mais o menos inimigos), a alma, os filhos, a saúde, o planeta, as faculdades anímicas, a fé verdadeira, a humanidade, o senso de coletividade,
A consideração humana, a visão holística do mundo, a filosofia verdadeira, o conhecimento objetivo e direto, a introspecção, a paz interior, a tranqüilidade bucólica da vida, a apreciação do homem e da natureza, a ligação direta com o impalpável, a verdade das ações, tudo é falso e manipulado pelo desejo de lucro... Inclusive as religião...
Quem é a vítima? _ Eu, o chão de fábrica, ou a humanidade inteira ao pé desse abismo e de uma catástrofe social e ambiental.
Em resumo: J.Nunez é apenas vítima e fracassado!
E quem não?
Quem não é fracassado? Essa frase massageia meu orgulho... E me alivia e muito...
É natural que qualquer sujo e fracassado queira ver fracasso e sujeira em tudo,
Porque essa generalização faz com que não nos sentimos tão inferiores...
Não importa o quanto o socialismo, o capitalismo, a industrialização e os avanços tecnológicos e cientifico tem beneficiado alguns indivíduos; nada pode reparar a destruição do planeta, a extinção de vidas e a perda de nossas almas e de nossa consciência, se olhamos desse ponto de vista somos todas vítimas da modernidade.
Salomão Alcantra
J.Nunez
MOVIMENTO LITERÁRIO IMPARCIALISMO