Violência: um problema resolvido a partir de Jesus Cristo
Por Josimar Saldanha Nogueira | 03/04/2024 | Religião
UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA
CURSO DE TEOLOGIA
Violência: um problema resolvido a partir de Jesus Cristo
Josimar Saldanha Nogueira
Vassouras
2009
UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA
CURSO DE TEOLOGIA
Violência: um problema resolvido a partir de Jesus Cristo
Josimar Saldanha Nogueira
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Teologia
da Universidade Severino Sombra
para obtenção do grau de Bacharel.
Professor Orientador:
Vassouras
2009
UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA
CURSO DE TEOLOGIA
Josimar Saldanha Nogueira
Violência, um problema resolvido a partir de Jesus Cristo
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
apresentado ao Curso de Teologia
da Universidade Severino Sombra,
para obtenção do grau de Bacharel.
Aprovado em Dezembro de 2009, com média ....................
Banca Examinadora
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“Eu te amo, Iahweh, minha força, meu salvador, tu me salvaste da violência.”
Cf. Salmo 18, versículo 2.
Eu dedico esta obra a todas
as pessoas que sempre me
incentivaram a caminhar em
busca de um amanhã melhor,
forma especial minha família.
Agradeço a Deus por cada
pessoa que ajudou a tornar o
Curso de Teologia da Universidade
Severino Sombra uma realidade:
Funcionários, professores, alunos e
todos os demais colaboradores.
Tabela de Siglas
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
IPEA
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
PNUD
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
RITLA
Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana
EBC
Empresa Brasil de Comunicação
CIMI
Conselho Indígena Missionário
AIDs
CNBB
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
IBMR
Internacional Bulletin of Missionay Research
Violência, um problema resolvido a partir de Jesus Cristo
Este trabalho tem por finalidade apresentar as diversas faces da violência em nossa sociedade, e a partir deste ponto nos convidar para adotarmos uma postura contrária a esta realidade preocupante.
De modo particular eu me sinto profundamente incomodado com a violência que presencio no mundo, desde a violência doméstica até a guerra entre nações, eu acredito fielmente que esta realidade tão desumana exige uma resposta urgente da cada pessoa que não concorda com esses atos extremamente bárbaros que presenciamos no nosso cotidiano.
Como toda criança criada no berço de uma família cristã, eu cresci ouvindo falar dos ensinamentos de Jesus, do amor ao próximo, do respeito à vida, e outros ensinamentos que seguem este mesmo caminho, hoje com 27 anos, trabalho como profissional de segurança pública há mais de três anos, e durante todo este tempo, venho acrescentando conhecimentos de diversas leis que são criadas para assegurar o direito de vida do próximo, de certa forma eu compreendo uma proximidade muito grande entre essas leis e os ensinamentos que eu recebi durante minha caminhada na Igreja.
Toda essa formação que eu apresentei no parágrafo anterior, hoje exige algo maior da minha parte, acredito fielmente que seja este o motivo que me conduziu a optar tratar deste assunto, pretendo usar todos os conhecimentos adquiridos em minha vida durante estes três anos de Curso de Teologia na Universidade Severinho Sombra ao meu desejo de ver esta realidade violenta que tanto me incomoda se transforma em algo melhor.
Hoje posso compartilhar com todos vocês esta obra que recebeu o titulo; “Violência, um problema resolvido a partir de Jesus Cristo”, divida em dois momentos, poderemos primeiramente obter o conhecimento de algumas conclusões não só no campo teológico, mais também antropológico. Após esta reflexão sobre a violência, poderemos constata a situação da letalidade no Brasil, principalmente por meio de dados que nos revelam a situação deplorável e desumana que nos encontramos.
Resumem
Violencia, un problema decidido de Jesús Cristo
Que este trabajo tiene para que El propósito presente las caras diversas de La violencia en nuestra sociedad, y de este punto en La invitación de ellas que adopten una posición contraria a esta realidad de preocupación.
En el primer momento de esta ejecución, tendremos un breve análisis de la violencia en El antropológico y el contexto teológico, yéndose para el conocimiento de algunos números que retraten la violencia en el Brasil.
Iremos-nos más adelante para La contestación de La violencia con no La violencia, las actitudes que encontramos en mártires, y finalmente de La muerte y de La resurrección de Jesús Cristo que buscaremos nuestra esperanza y certeza de La Victoria.
Sumário
Introdução......................................................................................
Capítulo I: O problema chamado “violência”.............................
I. 1 – Reflexão sobre a realidade e as causas da violência humana.......
I. 2 – Apresentação do contexto de violência no Brasil.........................
Capítulo l I: Jesus Cristo e sua resposta à violência........................
II. 1 – Morte e ressurreição de Jesus: esperança e certeza de vitória...............................................................................................
II. 2 – O martírio e os mártires, seguidores de Jesus............................
Conclusão............................................................................................
Fontes..................................................................................................
Capítulo I
O problema chamado violência
Como irmãos e irmãs em busca de uma sociedade melhor e, assim, viver a fraternidade entre todos os seres, buscaremos tratar de algo, que questiona e provoca incômodo em todos aqueles inseridos na obra de levar uma mensagem de paz. Trabalharemos, aqui, a questão da violência, tão presente em toda a história da humanidade, e principalmente no contexto do nosso país. Acreditamos ser esta a melhor forma de iniciar esta obra, pois vamos conhecer melhor aquilo contra o qual estamos nos opondo, ao afirmar ser a violência um problema.
I. 1 – Reflexão sobre a realidade e as causas da violência humana
Usaremos como subsídio, um artigo de Afonso García Rubio, em busca de algo, que venha ao encontro da nossa necessidade de curar a angústia que essa realidade violenta provoca em nossos corações.
Em seu trabalho, Afonso García Rubio nos questiona sobre a violência aninhada no coração humano. Não seria cabível iniciar nossa atividade, sem nos questionar sobre este fato, tanto de forma individual como coletiva, para que não cometamos o erro de nos excluir do fato da violência, realidade vivenciada com a participação de cada um de nós. Devido à sua variedade de apresentação, é quase impossível enumerar as distintas modalidades com que se apresenta a violência humana. Muitas vezes, ficamos impressionados com as violências apresentadas pelos meios de comunicação e nos questionamos até que ponto pode chegar à maldade humana. Logo depois de alguns momentos de amedrontamento e lamentação, continuamos normalmente nossa vida. Ao questionar essa violência, acreditamos que não somos capazes de cometê-la, então, pensamos que essa é fruto de condicionamentos culturais e herança genética que habita somente em homens e mulheres prisioneiros da ignorância, condição esta em, que, aqueles que se julgam educados não se enquadram.
Nas relações econômicas internacionais e macros sociais, a violência se faz presente nos países em desenvolvimentos e até mesmo nos subdesenvolvidos; um exemplo claro é a privação de direitos básicos para a vida do povo, devido aos recursos financeiros ser destinados ao pagamento da dívida externa. A compreensão desse fato exige maior consciência do indivíduo, mas o pagamento desta dívida provoca um mal, que atinge a todos os membros inseridos na sociedade, mesmos aqueles que não percebem esta atrocidade.
Poderíamos escrever páginas e mais páginas, relatando as diversas facetas da violência em nosso cotidiano; porém isso não nos apresentaria nenhuma novidade. Nosso objetivo pressupõe que, toda e qualquer forma de violência tem em comum a nossa participação, partindo do ponto, que somos seres violentos e estamos inclinados à violência.
Devemos considerar que algumas práticas, sejam acadêmicas ou religiosas entre outras inúmeras vivências nos educa, e assim torna nossa violência adequada ao meio em que nos encontramos, nos fazendo acreditar que somos pessoas educadas e civilizadas. Então, ficamos propensos a cometer um equívoco quanto a real capacidade da nossa violência. Esse é o maior erro que podemos cometer: ficarmos indiferentes à nossa violência, enquanto condenamos as atitudes dos outros. Por maior que seja o escândalo provocado por uma atitude alheia, não devemos nos julgar incapazes de tal atrocidade e, mais do que isso, devemos fazer algo a respeito. Se não reconhecermos que a violência também está aninhada em nosso coração, não teremos condição alguma para superá-la.
No artigo citado na página anterior, Afonso García Rubio nos ajuda com uma contribuição muito relevante para o nosso trabalho, a sugestão de vida como irmãos e irmãs, não porque seremos salvos, mas porque estamos perdidos, este fato nos revela uma esperança privada de qualquer recompensa final, porém revela uma opção de cuidado e preocupação com o presente momento, naquilo que diz respeito ao cuidado do próximo.
A proposta de humanização da sociedade é um caminho longo a ser percorrido, além de desconhecido, provoca angústia nos seres humanos, porém sustentados por idéias, exemplos e atos que promovem essa tentativa, basta somar nossa esperança ao amor que cada um traz em seu coração, para poder assim continuar esta caminhada.
O amor não muda nossa realidade, para acontecer à mudança é preciso que cada homem e mulher superem a indiferença e inimizade, partindo para a prática da fraternidade, reconhecendo em cada semelhante um irmão. A vivência da fraternidade é o caminho que nos conduz a humanidade que tanto desejamos, vence a indiferença, supera a inimizade, e promove o bem estar comum.
A existência de um inimigo mantém ao mesmo tempo nossa barbárie e a dele. Nem mesmo o pior inimigo ou o pior criminoso, deve ser excluído da espécie humana, pois ele possui traços que não são criminosos. Por meio do arrependimento e do perdão, encontramos possibilidade de combater e eliminar, o circula vicioso da vingança que encontramos na relação entre inimigos. Assim, só a vivência do amor entendido como fraternidade, pode superar o tremendo poder destruidor da violência e da crueldade.
O Deus amor, não pode congelar o coração humano, para a vivência do amor fraterno. Ao contrário, o encontro vivo com esse Deus, só pode estar unido inseparavelmente, à fraternidade e ao amor-serviço concreto, tal como aparece, com total clareza, no caminho percorrido por Jesus de Nazaré. E a prática de todas as pessoas que no seguimento desse mesmo caminho, levaram a sério o compromisso cristão, nos mostra sem lugar a dúvidas, que a aceitação do Deus cristão, implica sempre no amor oferecido a todos os nossos irmãos e irmãs.
Para oferecer este amor que está presente no final do parágrafo anterior, precisamos compreender aquilo que nos impede de exerce este ato, estamos falando da violência, vamos fazer uso da teoria de Renner Girard, para podermos compreender um pouco sobre esse fato.
A violência está presente na sociedade humana. Mesmo assim não podemos desistir da árdua missão do ser humano, em criar possibilidades para viver em paz.
Como resultado das pesquisas feitas por Renner Girard, chega-se à conclusão de que, historicamente, a reconciliação e a coesão comunitária, têm sido possíveis canalizando a violência de todos para fora do grupo. Trata-se em definitivo, de desviar para alguém, que se encontra fora da coesão do grupo, a violência que, de outro modo, recairia sobre os membros desse grupo. Assim a violência passa a ser considerada, legítima e construtiva. Essa violência contra a vítima não é percebida como tal, é fundante da sociedade, e da cultura, conforme a teoria Girardiana, trata-se de uma violência-sacrifício.
Notemos que o sacrifício da vítima expiatória tem uma importância básica na luta para a superação da violência, pois, no sacrifício, a violência não exige vingança. Sem o sacrifício, impera a vingança de sangue, a dinâmica da represália, num processo interminável. Para que fique oculto, o próprio da violência inerente do sacrifício é necessário que exista uma ordem ou imperativo absoluto, divino. Aqui aparece a importância fundamental do sagrado. Conforme a visão de Renner Girard, o sagrado mostra que a violência não é propriamente humana, é exterior ao ser humano, trata-se de uma ameaça do mundo transcendente. Vista como sobre-humana, a violência fica fora do homem e torna-se benéfica, tendo como resultado a paz e a não-violência. Destaque, a reconciliação obtida pelo sacrifício da vítima expiatória e pelos ritos que o institucionalizam e perpetuam, é a única forma de reconciliação que os homens conseguem vivenciar.
Com o aparecimento do sistema judicial, a vingança continua, mas agora é exercida pela autoridade competente. Ela não é eliminada, pois a represália feita pela autoridade continua sendo violência, agora se trata de uma represália única, que elimina a vingança privada. A vingança do sistema judicial não é vingada, ficando assim, detida a espiral da violência, o sistema judicial, de modo semelhante ao sacrifício expiatório dos primitivos, oculta a violência da vingança.
Renner Girard ainda vai apontar para o “desejo mimético”, como ponto de origem dessa violência. A instigante hipótese girardiana, reside em que a mola deflagradora da violência é o desejo. O homem é desejo, mas um desejo de natureza muito especial, mimético, que precisa experimentar a ameaça do outro. Esse outro, porém, só desejará o que eu desejo e vice-versa. Afinal de contas, o desejo é um drama existencial original que se joga a três: individuo x, individuo y e aquilo que é desejado. Assim sendo, podemos deduzir que as relações humanas funcionam de maneira patológica, devido ao desejo mimético. Essa é uma teoria entre muitas outras que existem sobre a origem da violência, porém tratando de responsabilidade humana, isso quer dizer não vamos atribuir a violência original a nenhum ser de outro de mundo ou dimensão, parece que todas as teorias vão questionar certa competição ou disputa entre os seres humanos, seja de caráter individual ou coletivo para justificar a origem da violência.
Como reconciliação sem a vítima expiatória Renner Girard, nos apresenta Jesus Cristo. Na mensagem evangélica abre-se um caminho, que supera a violência, sem o uso da vítima expiatória, porque encontramos uma vitima que será reconhecida como inocente. De modo especial no Novo Testamento, encontra-se a superação do Deus violento, sobretudo na paixão e morte de Jesus. Na morte de Jesus, acontece à grande revelação, que consiste em desmascarar o que estava oculto, a vítima expiatória em conexão com o desejo mimético, constitui o alicerce da sociedade e da cultura, a morte de Jesus cria uma nova perspectiva que ameaça este sistema. Para os cristãos fica muito claro: a vítima, Jesus, é inocente, no cristianismo, o sagrado fica totalmente desvinculado da violência. O Novo Testamento nos apresenta Deus como Pai, um Pai não violento, em contraposição aos deuses que exigem sacrifícios. O Deus não violento, não é causa da violência humana. Tomando partido pela vítima, recusando a vingança e vivendo a atitude do perdão o mal é vencido. Só Jesus pode transcender a violência, precisamente porque é o Deus Amor feito homem, homem não violento e também não prisioneiro da violência.
Movidos pelo Espírito de Deus, que em Jesus nos revela o amor, devemos procurar uma solução para a situação vitimizadora que encontraremos a seguir. A realidade constatada, não exige simplesmente a denúncia dos seus responsáveis, ela implica na criação, de meios que reparem a violência sofrida pelas vitimas.
I. 2 – Apresentação do contexto de violência no Brasil
Entendemos ser parte integrante do tema tratado, apresentar brevemente a situação atual em que vivemos. São muitos, os irmãos e irmãs que estamos perdendo a cada dia, na maioria das vezes são vitimas de mortes injustas que poderiam ser evitadas, com o mínimo de comprometimento das autoridades competentes. Neste momento, cabe a cada um de nós refletirmos sobre oque estamos fazendo ou deixando de fazer a respeito desta triste realidade.
Vamos dar uma olhada no deplorável estado de desrespeito a vida que os números apresentam sobre o nosso País (BR), entre 1991 e 2000 o índice de assassinatos de jovens entre 15 e 24 anos, sofreu um aumento de 48%, deixando o Brasil em terceiro lugar no ranking da UNESCO, que considerou um universo de 60 países com dados comparáveis. Outro dado importante localizado nessa pesquisa faz referência ao numero de homicídios por 100 mil habitantes, que cresceu 29% no mesmo período. Das 45.919 pessoas assassinadas em 2000, 17.762 eram jovens. Entre 1998 e 2000, o uso de arma de fogo nos homicídios juvenis cresceu de 66% para 74%, mas uma forte corrente se formou, reivindicando uma atitude não somente das autoridades, mais de toda a estrutura que forma a nossa sociedade, para lutar contra esse mal, com a mesmo rigidez que o país apresenta no combate ao fumo, e nas investidas que resultaram na quebra de patentes, de remédios usados no tratamento dos pacientes que são portadores do vírus da AIDS.
Outros dados alarmantes encontrados foram às taxas de suicídios e acidentes de trânsito, que vêem dissipando a vida dos nossos jovens. O número de suicídios no país cresceu 30% entre 1991 e 2000, quase o mesmo aumento entre os jovens quanto aos acidentes de trânsito às taxas de óbitos diminuiu entre os jovens esses números caiu de 21,1 para 18,9, para o sociólogo Jacobo Waiselfisz essa melhoria é graças a uma lei de trânsito mais eficiente. Segundo divulgação do IPEA, para a imprensa em 02/06/2005, houve aumento da taxa de assassinatos no grupo de adolescentes, 13 á 17 anos (40,4%) foi maior do que as entre os jovens, 18 á 29 anos (25,9%), principais alvos desse tipo de violência no período que compreende os anos entre 1996 á 2003. Segundo o sociólogo Helder Ferreira, Técnico de planejamento e pesquisa deste instituto, esse fenômeno é influenciado pelo fácil acesso ás armas de fogo mesmo entre os mais novos e pela expansão do crime organizado. Esses dados foram subtraídos do “Radar Social”, uma parceria elaborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada em colaboração com o PNUD.
Já em 2003 temos os assassinatos como primeira causa determinante de óbito masculino em pessoas com idades entre 15 e 29 anos e dois terços desses crimes foram realizados com armas de fogo. Embora a taxa de homicídios tivesse crescido mais rapidamente entre os adolescentes, os assassinatos entre os jovens foram mais freqüentes, entre as pessoas com idade entre 13 e 17 anos, os números sobre esse crime saltou de 16,1 a cada 100 mil habitantes em 1996 para 22,6 em 2003 e entre aqueles que têm de 18 a 29 anos o índice aumentou de 51,4 para 64,7, sendo mais de 90% das vítimas homens nos dois casos mostrados. Sobre este aspecto o antropólogo Luiz Pinheiro em seu livro “Meu casaco de General” relata que os traficantes não usam suas armas o tempo todo, eles podem emprestá-las aos garotos para que eles realizem assaltos, isso contribuiria para formação destes números apresentados no parágrafo acima.
Em 2004 diz um estudo do “IBGE” de acordo com o índice de Desenvolvimento Sustentável 2008, divulgado em Junho, houve um incremento em termos absolutos de 7,7 mortes por homicídios por 100 mil habitantes, inclusive não poderíamos deixar de dar ênfase para a gritante diferença de assassinatos entre os gêneros; 50,5 por 100 mil para homens e 4,2 para as mulheres em 2004. Nesse mesmo estudo a região sudeste apresentou a maior taxa de mortes por homicídios do Brasil, com 32,3 por 100 mil habitantes, mais elevada que a média do País, 26,9 por 100 mil habitantes.
Após esse longo período sem termos motivos para comemorar, surgi uma esperança, em um trabalho feito pela RITLA, é divulgada a queda em 8% do índice de homicídios em todo o País, entre os anos de 2003 e 2006, embora seja uma boa notícia a realidade vívida ainda é inaceitável, o alto número de mortes violentas apresentam 500 mil pessoas assassinadas nos que compreendem 1996 á 2006, isso nos remete a conclusão de que a taxa de homicídios superou a taxa de crescimento da população brasileira e as maiores vítimas foram os jovens, uma sociedade demasiadamente violenta caminha para sua própria eliminação é a conclusão que nos é apresentada com este fato. Pela análise das certidões de óbitos e estatísticas do Ministério da Saúde, a pesquisa levantou a média de homicídios entre 2004 e 2006 e concluiu que há melhora sensível em relação ao período compreendido entre 2002 e 2004.
TABELA BASEADA NOS DADOS DA PESQUISA DA RITLA
Ano
2003
2004
2005
2006
Numero de pessoas
mortas no Brasil
50.980
48.374
47.578
46.660
Fonte: Mapa da Violência nos Municípios Brasileiros – RITLA
Ao ser divulgada a matéria o diretor-executivo da RITLA, Jorge Werthein, na época, afirmou que a queda no número de homicídios reflete a campanha do desarmamento e políticas focadas na juventude, apesar da comemoração, ele ressaltou, no entanto que o número total de homicídios ainda permanece muito alto em proporções ainda totalmente inaceitável por qualquer padrão internacional. Contra partida a essa melhora o mesmo estudo mostrou que o número de motociclistas mortos em acidentes de trânsito subiu 83% de 2002 a 2006. Em 2006 esse número chegou a 6.829 mortos, isso equivale a 25% do total de vítimas fatais em colisões em todos os meios de transporte. Em 2002 morreram 3.740 motociclistas – 16,3% do total de 33.265 vítimas dos meios de transporte naquele ano. Segundo o secretário-executivo do Ministério da Justiça na época, Luiz Paulo Barreto, disse que a proliferação dos serviços de “tele-entrega” fez aumentar a frota de motos no país e também os acidentes.
Outros irmãos que sofrem com esta barbárie contra a vida e não poderíamos deixar de lembrarmos nesse trabalho são os índios, em matéria publicada no site da Agência Brasil – EBC, pelo menos 40 indígenas foram assassinados no ano 2006, sendo 20 deles do estado do Mato Grosso do Sul, predominantemente entre os índios Guarani-Kaiowá. Esse é o resultado de levantamento preliminar feito pelo CIMI. As mortes vão desde desentendimentos e brigas de casais e discussões dentro da própria família. Considerando que quando essa pesquisa foi realizada viviam cerca de 40 mil índios nas áreas guarani-kaiowá de MS, nas estimativas do CIMI, os 20 mortos representariam uma taxa de pelo menos 50 assassinatos por 100 mil habitantes, o que significa praticamente o dobro da taxa nacional de homicídios no ano referente que ficou em 26,7 por 100 mil. O vice-presidente do CIMI na ocasião, Saulo Feitosa, diz que a maior preocupação do conselho são os assassinatos cometidos pelos próprios índios, e que a questão fundiária seria o principal motivo, também faz menção ao uso de álcool, que agrava as cenas de violência já que a questão da terra não é resolvida, e proporcionam uma inclinação maior as cenas de violência.
Vale ressaltar a frase dita pelo presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, em entrevista à Rádio Nacional segundo a Agência Brasil – EBC, em matéria publicada no seu site em 30/05/07, quando na ocasião, acontecia uma manifestação que contava com 15 mil lenços brancos montando um varal em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, que representavam as vítimas de assassinato no Brasil naquele ano até o determinado momento;
“- O principal objetivo da manifestação é ajudar a sociedade brasileira a dimensionar o que está acontecendo na nossa nação, no que diz respeito à letalidade. Estamos vivendo, num contexto, de um índice obsceno de morte por assassinato, um genocídio de gente negra, pobre e numa faixa etária de 15 a 24 anos... O que nós queremos, é que haja uma mobilização nacional, que a sociedade passe a participar, e que o poder público estabeleça como prioridade número um a defesa da vida.”
Antônio Carlos Costa.
Quanto aos dados mais atuais, sobre as taxas de homicídios no Brasil, não faremos menção, porque eles não foram encontrados a disposição, em fontes que garantissem a seriedade e o compromisso, que este trabalho esta procurando oferecer para os seus conhecedores.
Hoje no Brasil presenciamos uma ação muito significante que visa combater a situação decadente em que se encontra o valor da vida humana, a Campanha da Fraternidade de 2009 tem como tema segurança pública, e trata de todos os assuntos pertinentes a este assunto, podemos ver aí uma tentativa clara da Igreja junto à sociedade, para combater a morte injusta nesse ato promovido pela CNBB, porém me pergunto quantas manifestações deste tipo ocorreram nos últimos anos, será que estamos nos acomodando com esta realidade, já existe sentimentos por partes de alguns que não adianta mais lutar e outros se entregaram, enquanto aqueles que reivindicam por justiça caem em evidência e são facilmente eliminados pelos poderosos.
Espero que o conteúdo apresentado neste momento funcione como incentivo para que todos nós conhecedores desta realidade, possamos fazer a opção por um comportamento e comprometimento, que nos conduza para a transformação da nossa sociedade, existem algumas tentativas e movimentos sociais, que já abraçaram esta causa, mas por nossa obra se tratar de um Trabalho de Conclusão de Curso de Teologia, a nossa busca pela solução deste problema, vai seguir oque as Igrejas Cristãs fazem em todos seus esforços no sentido de superação da violência, buscaremos a resposta em Jesus Cristo, pois devemos crer que em Jesus, encontramos o modelo de ação que vence a violência e promove a paz.
Capítulo l I
Jesus Cristo e sua resposta à violência
Vimos, no capítulo anterior, o quanto a violência se encontra dentro de nós e ao nosso redor. Construímos um mundo violento, e, vencer essa violência, é um dos maiores desafios da humanidade e por toda nossa existência. Diversos são os estudos sobre as causas, os sintomas e as conseqüências da violência e as possibilidades de seu combate. Poderíamos, aqui, no segundo capítulo, apresentar vários desses estudos... Entretanto, para o cristão e a cristão, nenhuma resposta à violência pode ser melhor que aquela dada por Jesus Cristo. Recordaremos, agora, em que consiste essa resposta, como, também, o testemunho de diversas pessoas que, em seu compromisso com o Reino de Deus e sua realização entre os seres humanos, abraçaram o martírio.
II. 1 – Morte e ressurreição de Jesus: esperança e certeza de vitória
Na cruz encontramos uma realidade marcante, Jesus parece morrer abandonado por todos, e derrotado pelo sistema político que se sentiu ameaçado com a novidade que Ele trazia consigo.
Ao contrário do questionamento de muita gente, Jesus Cristo se encontrou abandonado em momento algum, mesmo na cruz Deus não abandona seu Filho, o Pai sofre junto com o seu Filho. Em nossa dor, também Deus sofre, porque a violência não é de sua natureza, Deus é a mor, e por este motivo, é em Deus que nós buscamos a resposta para curar a angústia que este mal chamado violência nos provoca.
O amor de Deus é maior que qualquer violência, a cruz de Jesus Cristo e as nossas cruzes hoje só acontecem por que existe a recusa deste amor por parte de alguns. Mas em Jesus Cristo, verdadeiro Homem e verdadeiro Deus que sofreu e foi humilhado. Esta realidade se transforma em experiência de salvação.
O amor divino que nos é apresentado neste momento deve ser fundamental em nossa vida para podermos responder a violência, com a não violência que Jesus nos apresenta. Ele aceita e assume sua morte livremente, não resistiu a sua prisão, e proibiu qualquer reação violenta de seus apóstolos, porque isso acarretaria na traição do ensinamento que sua vida nos revelou.
Foi à verdade e práxis que sua vida testemunha, que levou a aceitação da morte, uma morte digna que não é maior que o amor do Pai que se manifesta nela, assim como se manifesta hoje nas inúmeras mortes dos mártires. Jesus foi fiel até o ultimo momento, porque Ele tinha certeza do sentido da salvação que sua morte traria, tanto para aqueles que o matavam como para todos que morreram como Ele, o amor do Pai que Jesus nos revela abrange a todos, sem qualquer distinção.
O Reino de Deus que Jesus pregou segundo Leonardo Boff, é a palavra esperança, a mudança da realidade do homem no mundo, por meio da reconciliação com o Pai. Isso não significa outro mundo, significa o senhorio pleno de Deus nesse mundo. A morte de Jesus nos revela a fidelidade do Filho ao plano do Pai, que exige nossa participação, assim como Jesus nos revela por meio da sua prática e sua pregação, não basta denunciar aqueles que exploram e excluem o próximo, devemos inserir cada um desses servos explorados na dimensão do Reino de Deus, por meio do anúncio e da prática que revela a esperança do Reino.
A vontade do Pai alcança a todos, e a morte de Jesus insere a todos nessa vontade, a exemplo de Jesus devemos amar a todos como amamos o Pai, e isso certamente mudará a nossa realidade e transformara essa violência absurda em que nos encontramos, em uma situação que nos conduzira para a vida nova, sentiremos realmente a presença do Reino de Deus acontecendo em nosso mundo.
Na ressurreição de Jesus Cristo, está presente toda nossa perspectiva de vitória, além da glória plena no Reino de Deus, este acontecimento também deve nos motivar pela opção do amor ao próximo.
Por meio da fé, e iluminados pelo Espírito Santo, os seguidores de Jesus Cristo conseguem compreender e transforma a crença neste acontecimento, em algo capaz de vencer todo o sentimento de derrota que a morte tenha sugerido.
A ressurreição de Jesus Cristo abrange o caráter escatológico e salvífico de Deus, nos apresenta a plenitude do Reio de Deus que se torna acessível para todos, e nos insere em uma prática que torna real nossa participação neste Reino, a nossa entrega ao Pai no amor serviço ao próximo.
O caráter libertador da mensagem de Jesus Cristo, e a manifestação da sua vitória sobre os seus opressores também são características que a ressurreição nos apresenta. É neste acontecimento que Deus derrota a morte, e nos revela que ela não tem mais o caráter último de nossas vidas, assim podemos viver em prol da justiça e da verdade, e penetrarmos no mistério que Jesus nos revela com a ressurreição.
A ressurreição de Jesus é centro da nossa fé, certeza e força que move os cristãos por séculos, cremos que o Crucificado está vivo, junto com o Pai na glória eterna e presente no nosso dia a dia quando acolhemos o irmão, quando partilhamos o pão, quando lemos as Sagradas Escrituras e em outras formas de cultos, e de modo especial neste trabalho devemos evidenciar que a afirmação da ressurreição de Jesus Cristo, implica em dizer que Ele é o Senhor da vida, Ele venceu o Mal, Ele é a graça de Deus que é mais forte que qualquer tipo de mal que aflige a humanidade.
II. 1 – O martírio e os mártires, seguidores de Jesus
Como foi apresentada anteriormente, a taxa de homicídios da nossa realidade é muito alarmante, e fazendo uma comparação entre todas as vítimas, existem diversos tipos de características que ás distingue no que diz respeito à motivação de suas mortes. Podemos citar algumas; vitimas de acidentes de trânsito, de confronto armado entre criminosos e agentes de segurança pública ou privada, da guerra do tráfico, do latrocínio, seqüestro e entre diversos tipos de motivações encontramos hoje ainda uma vítima que é bem conhecido na história Cristã, o “mártir”. Esta vitima, nos mostra que o seguimento a Jesus Cristo é até hoje, cerca de 2000 anos mais tarde, uma opção que é aceita por muitos homens e mulheres, independente das conseqüências, aqueles que aderiram Cristo como modelo de vida é sustentado pelo Espírito Santo, e buscam promover a vontade do Pai, mesmo quando o preço a ser pago é a própria vida.
Leonardo Boff nos apresenta muito bem estes homens e mulheres, são pessoas, que sofrem uma morte violenta, para dar testemunho de uma verdade religiosa, ou por causa de uma prática que se deriva dessa verdade. Jesus Cristo é o modelo de mártir, e muitos de seus seguidores, ainda hoje também passa por esse caminho.
O inocente, que sofre o martírio por causa de uma luta justa, mesmo sem estar ligado a qualquer denominação cristã, esta repleto da presença do Espírito de Deus em sua escolha e atitude. O martírio só é possível, devido à existência de pessoas que preferem a morte, e a perseguição ao invés de abrir mão ou trair seus ideais, fé, princípios e convicções.
A instituição norte-americana, IBMR, em Janeiro de 2009, apresentou o resultado de uma pesquisa atualizada, sobre as religiões no mundo, em sua revista mensal com características referente ao ano de 2008, e sua contribuição para o nosso assunto, diz respeito aos mártires, ao afirma em sua matéria, que o número de mártires cristãos chega a 175 mil por ano, são 480 novos mártires por dia em todo o planeta. Homens, mulheres e jovens que pagam com a vida, pela opção de seguir a Jesus Cristo. Infelizmente nesse momento, lembramos que o nosso País contribui para a formação destes números, quantas pessoas como a Irmã Dorothy Stang, abraçam a mensagem de Cristo em fazer a opção pelos mais necessitados, e como resultado sofrem com perseguição e alguns chegam a serem executados, alguns casos ficam na mídia por certo tempo, e mesmo assim, podemos presenciar a impunidades de seus mandantes.
Quantos irmãos e irmãs sofrem o seu martírio nesse chão, e ninguém toma conhecimento? Quantos missionários, nós temos deixando família e casa para trás, para trabalhar na assistência as famílias de indígenas, e de agricultores que lutam para sobreviver num pedaço de chão, muitas vezes em terras que se encontram sob a tutela da União, mais são explorados por fazendeiros e madeireiros que ao se depararem com a presença destes heróis, promovem ameaças, perseguições e até mesmo assassinatos. Cada vez mais freqüentemente, criminosos vem desafiando as autoridades, e leis da nossa sociedade, e nossos mártires entregam a sua vida em defesa de sua causa, sua convicção, sua fidelidade a Deus e a seus irmãos.
Um elemento que contribui para caracterizar os mártires, dentro do contexto em que nos encontramos, é quando falamos na preferência pelo pobre, isso implica em despertar uma atitude política, e conseqüentemente não serão poucas as denúncias de realidades desumanas. Logo que se procura lutar pela defesa dos direitos desses menos favorecidos, despertamos à ira daqueles que se incubem de perseguirem, todos que levam esperança aos excluídos, e incomoda o sistema que tem o poder em suas mãos, acaba eliminado de uma forma, ou de outra, essa é nossa triste realidade.
Um fato importante que deve ser apresentado neste texto é aquilo que Leonardo Boff nos diz sobre o mártir, para ele o mártir não depende de ideologia, por que Deus penetra na história de diferentes formas, quando assumimos o verdadeiro nome de Deus como Justiça, Amor e Paz, assim como é sugerido por Leonardo Boff, de modo absoluto e verdadeiramente fiel que, todo aquele que derrama seu sangue na realização de obras virtuosas, segundo o Espírito de Cristo, não é mártir da fé cristã, nem herói da Igreja, e sim se torna “Mártir do Reino de Deus”. Abraçaram a causa, que o próprio Filho de Deus nos apresentou quando viveu e caminhou nesse mundo, entre os seres humanos. Estamos falando de pessoas que encontraram algo de especial, suas vidas passaram a ser menor que o seu interesse pelo bem estar do próximo, um profundo comprometimento com o outro, e um sinal bem claro da presença de Jesus na ação concreta do amor ao próximo pode ser percebida nesta prática.
Se por um lado encontramos esses santos mártires que fazem da Igreja Santa na opção pelo seguimento Cristão, mesmo quando essa atitude leva para aceitação de caminhar em direção ao martírio assim como o próprio Jesus, infelizmente nós também constatamos a triste realidade que encontrarmos dentro e fora da Igreja, nos poderes públicos e em todos os possíveis setores que constituem e forma nossa sociedade, pessoas que não agem e nem reagem á esta situação e se omitem diante das diversas barbáries cometidas em nosso meio. Este fato nos torna desumano diante de uma realidade que exige nossa humanidade.
O descaso com as covardias, perseguições, mortes e etc., não acontece unicamente por parte dos Poderes Executivos, Legislativos e Judiciário, nossas casas e igrejas, trabalhos e escolas e em todo nosso meio comum, encontramos pessoas que por algum motivo no meio do caminho admitiu essa realidade, estamos sendo cúmplice da violência quando dizemos que estamos acostumados, ou achamos normais esses atos bárbaros. Esta postura cria um enorme desafio para compreender uma mensagem de paz e esperança.
Não podemos deixar morte alguma se tornar comum, desde o aborto até a cadeira elétrica, quando uma vida é ceifada por uma escolha de outra pessoa, mesmo amparada em alguma lei, nós devemos questionar para onde nossa ética e moral está caminhando. Se a morte destes nos faz pensar para onde estamos caminhando, mártires também estão se tornando. Principalmente a morte daqueles que interessam aos assassinos, que sejam enterrados levando consigo para o túmulo suas idéias de libertação e esperança.
“A morte por causa da fé tem uma relação peculiar com a morte de Jesus, pois sua morte paciente passou a ser o testemunho fiel e digno por participação, e ainda engloba sob o único conceito e término de martírio as duas formas de morte que avalia aqueles que entregam sua vida passivamente por causa da fé e aqueles que morrem lutando ativamente por essa mesma fé”.
Karl Rahner - ???
Da tolerância á indiferença com a realidade que estamos vivendo, é um espaço muito curto que separa as separam, já que não temos nenhum tribunal para reivindicar os responsáveis por milhares de mortes que estão acontecendo, vamos procurar torna essa realidade visível a todos que anseiam por justiça.
Ainda há uma necessidade de encontrarmos uma reflexão teológica sobre a morte cristã, de forma especial sobre o martírio, para responder a nossas expectativas de forma mais criativa e saciadora, os esforços direcionados para a vida e ressurreição de Cristo refletem demasiadamente na pouca compreensão e afinidade que temos hoje em lidar com a morte, tendo visto que é comum ouvir durante um funeral de uma vítima de acidente aquela velha frase; “chegou a hora ou Deus quis assim”, eu me recuso a aceitar esse tipo de costume ou cultura acomodada, prefiro um discurso indignado.
Não estou falando exclusivamente de uma teologia do martírio, embora esta tenha sua importância, o que devemos procurar é uma resposta para todo esse excesso de desvalorização da vida humana que torna a morte uma coisa comum, quando não deveria ser assim.
O próprio contexto social, político e econômico que nos encontramos, trata de proporciona a morte de inúmeros seres humanos, homens e mulheres cada vez mais desumanizados no mundo, a esses, Jon Sobrino se refere de maneira muito especial, são como o “servo sofrendo”. Já é hora de despertarmos na sociedade, um sentimento de humanização arraigado de valores e atitudes que a humanize, uma tarefa urgente que requer a participação de todos.
Para torna nossa civilização mais humana, devemos retirar desta realidade toda a esperança e amor que o mundo carece para se tornar mais fraterno, rico em justiça, ternura, união e humildade, não será a primeira vez na história que o caminho difícil do calvário transformara uma realidade.
Alguns Mártires recentes em nossa história
São vários os Mártires da Caminhada que à Igreja recorda com carinho para alimentar seu compromisso expresso nas palavras de Jesus: “Não há maior amor que dar a vida pelo irmão”. No documento, que “CEB,suai”, disponibiliza na internet podemos encontrar alguns testemunhos de homens e mulheres que viveram a experiência do martírio na atualidade
Gabriel Sales Pimenta - filho de Geraldo Gomes Pimenta e Maria da Glória Sales Pimenta, nascido aos 28 de novembro de 1955 na cidade de Juiz de Fora/MG. Foi morto com 27 anos por um fazendeiro inconformado com tudo de bom que o Gabriel estava fazendo para todo aquele povo necessitado do Marabá.
João Bosco Burnier - filho de Henrique Penido Burnier e Maria Cândida Penido Burnier. Irmão de Mons. Vicente de Paula Penido Burnier, que faz parte do nosso presbitério. Nasceu em Juiz de Fora, no dia 11 de junho de 1917. Trabalhava na Prelazia de São Félix do Araguaia, onde, no dia 11 de outubro de 1976, tomou a defesa de duas mulheres inocentes, vítimas de tortura dos soldados da cadeia local. Um dos soldados se descontrolou e atirou na cabeça do padre que, transportado para o hospital, faleceu na madrugada do dia 12 de outubro.
Padre Ezequiel Ramin - mártir da CPT, do CIMI e dos pobres que lutam - tinha 33 anos, quando foi assassinado em 24 de julho de 1985, na fazenda Catuva, município de Aripuanã, por jagunços dos fazendeiros da região. Nasceu na Itália, em 1953. Missionário da diocese de Ji-Paraná, Rondônia. Membro da Congregação dos Combonianos, veio ao Brasil em meados de 1983. Assumiu a causa dos trabalhadores sem-terra e dos índios. Ganhou a confiança dos povos indígenas Suruí que ia procurá-lo para expor os problemas da aldeia.
Santo Dias - mártir da Pastoral Operária - filho de Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio, nascido em 22 de fevereiro de 1942, em São Paulo. Líder operário bastante reconhecido no meio dos trabalhadores. Militante das CEBs, da Pastoral Operária, da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Assassinado friamente pela PM paulista quando comandava um piquete de greve no dia 30 de outubro de 1979, em frente a fabrica Silvânia, em Santo Amaro, bairro da região sul.
Padre Gabriel Maire - Missionário e profeta francês, entrou para a história no mundo no dia 01/08/1936 e entrou para a galeria dos mártires no dia 23/12/1989, entre o município de Cariacica e Vila Velha-ES. Na Arquidiocese de Vitória trabalhou por nove anos, sempre gastando sua vida a favor dos pobres deste Estado. Junto com os Grupos de Mulheres, a Pastoral Operária, o Grupo "Fé e Política", a Juventude Operária Católica, a Pastoral da Juventude, e muitas outras pastorais e lutas populares, como o movimento "PAZ E DEMOCRACIA EM CARIACICA, respeitem o voto do povo", Gabriel sempre esteve presente. Sua vida, seu serviço, seu sacerdócio, seu trabalho com as CEBs, e seu sangue, testemunha o seu amor a Deus na pessoa dos mais pobres.
Margarida Alves - Nascida em Alagoa Grande, Paraíba (região Nordeste do Brasil), foi à primeira mulher a ocupar a presidência de um sindicato no Estado. Sempre muito atuante na luta pela reforma agrária, ela fundou ainda o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural no município paraibano. Numa gestão que durou mais de 12 anos, a líder sindical moveu mais de 600 ações trabalhistas contra usineiros e senhores de engenhos da região. Tanto incomodou que no dia 12 de agosto de 1983 foi morta a tiros por pistoleiros em sua própria casa.
Dorcelina de Oliveira Folador - Nascida em 27 de julho de 1963, em Guaporema/PR. Iniciou sua atuação na Pastoral da Juventude no ano de 1.980. Em 1.987, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, candidatando-se no ano de 88 a vereadora. Professora, poeta, artista plástica, em 1.989 começou a contribuir no MST, chegando à direção estadual do Movimento e atuando como repórter popular do Jornal dos Sem-Terra. Ajudou a fundar também a Associação Mundo-novense dos Portadores de Deficiência Física. Depois de novamente candidata a vereadora em 92 e a Deputada Estadual em 95, seu mandato foi interrompido em 30/10/99 às 23h00min, quando foi assassinada na varanda de sua casa.
Irmã Dorothy - De nacionalidade norte-americana, naturalizada brasileira, da Congregação das religiosas de Notre Dame, participa da CPT, desde a época da sua fundação e tem acompanhado com firmeza e paixão, a vida e a luta dos trabalhadores do campo, sobretudo na região da Transamazônica, no Pará. Por causa de sua atuação, e pela denúncia da ação predatória de fazendeiros e grileiros, irmã Dorothy foi assassinada aos 73 anos de idade, no dia 12/0/2005, às 9 horas, em uma emboscada no município de Anapú, PA, com três tiros.
Padre Josimo - mártir da luta pela Reforma Agrária - Nasceu em Marabá (PA) em 1953. Foi ordenado padre em 1979 em Xambioá (TO) e assumiu a Pastoral da Juventude em Wanderlândia (TO). Coordenou também a Pastoral Geral da Diocese na região do Bico do Papagaio. Conhecido por sua defesa intransigente aos trabalhadores rurais oprimidos.
Josimo Tavares causou medo e ódio aos fazendeiros da região, que também demonstraram seu preconceito diante de um padre negro. Em abril de 1986, o padre Josimo sofreu um atentado. No dia 10 de maio, um mês depois, foi morto com dois tiros pelas costas, enquanto subia a escadaria do prédio onde funcionava o escritório da CPT.
Camilo Torres - um Padre guerrilheiro - filho de Calixto Torres Umaña e Isabel Restrepo Gaviria Torres, nascido em Bogotá, na Colômbia, em 03 de fevereiro de 1929. Camilo Torres compreendia que Cristo veio para trazer vida para todos, e vida em abundância (Evangelho segundo São João, X, 10). Em conseqüência, dizia, a missão apostólica residia em trabalhar para o alcance desse objetivo. Na Colômbia, no mundo atual, era impossível ser cristão sem preocupar-se com o problema da miséria material. Ao sair da Igreja, Camilo criou um movimento de massas, a Frente Unida do Povo Colombiano. Diante da dificuldade de as esquerdas dialogarem, ele adverte que a base da união está no povo. No final do ano de 1964, Padre Camilo Torres sai de Bogotá rumo à guerrilha da ELN. Em 15 de fevereiro de 1966 morre em combate em Pátio Cemento, San Vicente de Chucurí, Santander, Colômbia.
Dom Oscar Romero - Nasce aos 15 de agosto de 1917, em Cidade Barrios. Oscar Romero fora acusado de estar se envolvendo com os autores da "teologia da libertação". Incitaria à revolução, alteraria a imagem de Jesus Cristo apresentando-o como um subversivo. Uma das 1015 pessoas assassinadas entre janeiro e março de 1980 é o Arcebispo. Fuzilado ao celebrar a missa na capela do hospital, em meio aos doentes de câncer e enfermeiros, Um mês antes, sabendo-se ameaçado de morte, no encontro com o Papa Paulo VI declara: “Meu dever é estar com meu povo. Não posso ter medo. Será o que Deus quiser." Monsenhor Oscar Arnulfo Romero foi fiel a esta opção da Igreja Latino-Americana em favor dos empobrecidos e explorados. Reagiu à violência e à vingança. Pagou com a vida o preço de ser discípulo do Crucificado. "Se me matarem, ressuscitarei no meio do meu povo!" Profetizara em um comentário ao Evangelho, convencido de que uma vida oferecida pelos outros é penhor seguro de ressurreição.
Estas pessoas acima, verdadeiras mulheres e homens que foram tão humanos quanto santos hoje recebem o título de mártires da Igreja, porém se acrescentarmos a esta lista os nomes daqueles que são mártires do Reino de Deus, homens e mulheres que movidos pelo Espírito lutam pela justiça sem estarem ligados a nenhuma denominação religiosa e logo pagam com a vida, seriam muitas ás páginas a serem utilizadas e mesmo assim faltariam os nomes daqueles que não tomamos conhecimento, é até injusto citar alguns e saber que tantos outros ficam no anonimato mesmo fazendo algo de tão grande significado.
Como podemos ver segundo Jon Sobrino, em seu artigo que retrata questões atuais sobre os mártires e a teologia da libertação, existem claras tentativas de deixarem no passado todos os dois ingredientes citados, ambos estão repletos de características indispensáveis para qualquer movimento que clame por um mundo mais justo. E como já vimos neste texto o elevado número de mortes esta repleto de mártires, o que levaria alguém pensar que seria possível deixar com que esses tão importantes personagens caíssem no esquecimento. Senão pela defesa de algum interesse escuso por traz dessa intenção não vejo outra resposta. Com certeza só estando muito acomodado com essa realidade para dizer que Deus está presente em nosso semelhante, e assistir a morte do mesmo sem fazer nenhum esforço para mudar, ou evitar que estes crimes continuem acontecendo.
É necessário que façamos transparecer esta realidade, por muitas vezes procurando subsídios para este trabalhado eu me choquei com realidades que não poderia imaginar acontecer, e ao escolher este assunto para apresentar eu pensava que fazia idéia daquilo que seria desenvolvido, porém estou me surpreendendo a cada linha que é concluída. Questiono-me sobre como a morte virou simples notícia para os meios de comunicações, e nas outras esferas é tratada como números, com a maior naturalidade do mundo.
Devemos no mínimo respeitar os exemplos dos mártires citados acima, pessoas que lutaram pela vida e acabaram sofrendo a morte. Seria irresponsabilidade nossa fazer de conta que nada esta acontecendo, e esperar que nossas memórias os esqueçam, assim como suas causas.
Por isso, a partir de agora, vamos caminhar com Aquele que acreditamos ser nossa única esperança, Jesus Cristo será apresentado neste momento como resposta aos nossos anseios, de modo especial não vamos explorar sua pratica de vida, que nos apresentou muito bem como fazer a opção pelos necessitados, mas vamos aqui refletir em Jesus Cristo no momento que Ele próprio sofreu a violência, sua morte na cruz.
Conclusão
Neste trabalho constatamos que a violência é algo presente e real em nossas vidas. Este mal requer uma medida imediata para ser combatido e devemos adotar uma postura de não violência como resposta à violência.
Em Jesus Cristo, somos convidados a responder com amor ao próximo, mesmo nos momentos mais dolorosos que vivemos. Nem a humilhação de sua morte fez com que Cristo perdesse a compaixão por seus assassinos. Jesus Cristo nos revela sua vitória sobre qualquer mal, em sua ressurreição. Ele nos revela a realidade messiânica e a vontade do Pai, que conta com nossa participação. Devemos contribuir para a instituição do Reino de Deus levando esperança aos desesperados, manifestando caridade e fraternidade a todos os nossos irmãos e irmãs que se encontram marginalizados.
É reconhecendo no rosto de cada ser humano a face do próprio Jesus Cristo, que poderemos transformar nossa triste e inadmissível realidade. Em um mundo melhor, onde poderemos constatar a presença de características que nos revelam o Reino de Deus.
Quando procurávamos por subsídios que pudessem ser empregados para combater a violência, encontremos muitas ideias, atitudes e gestos diferentes, que se manifestam em todo o mundo. Isso nos ajuda e anima muito a continuar na caminhada para superar essa violência, e mesmo nessa pluralidade de esforços, creio que podemos fazer a seguinte afirmação: “o que nos falta para superar a violência é tratar o próximo com amor e não como simples números”. Certamente quando superarmos esta deficiência será sinal que verdadeiramente estamos enxergando a face de Jesus Cristo no rosto do próximo, pois tratar o outro com humanidade nos humanizam. É isso que nós precisamos para superar a violência e caminharmos juntos rumo à paz.
Bibliografia:
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Consultas a sites:
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http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias
http://www.pnud.org.br/noticias
http://pegadasdejesus.blogspot.com/2008
http://cebsuai.org