Villa-Lobos, Santoro, Zumbi e Obama

Por Álida Santos | 18/11/2009 | Sociedade

Villa-Lobos, Santoro, Zumbi e Obama

 

Paiva Netto

 

Este mês é marcado por datas que nos fazem recordar a genialidade de dois dos mais famosos compositores de nosso país: o carioca Heitor Villa-Lobos, falecido em 17/11/1959 — ao qual prestei, na edição 220 da revista Boa Vontade, tributo à memória —, e Claudio Santoro, ilustre manauara, nascido em 23/11/1919, cuja “Sinfonia da Paz”, gravada sob sua regência, pela Orquestra Estadual e Coro Stepanov de Moscou, Rússia, abre a minha preleção sobre o Evangelho do Cristo, na Super Rede Boa Vontade de Comunicação.

Como admirador dos gênios da cultura planetária e reconhecendo na música um papel transcendente na elevação do Ser Humano, sempre que posso, utilizo-me do tesouro melódico para estabelecer analogia entre ele e os augúrios divinos, de modo a facilitar o entendimento do povo a respeito do código aparentemente indecifrável do Livro das Profecias Finais. O escritor e crítico literário José Geraldo Nogueira Moutinho, em “Musicália”, esclarece que “a música absorve o caos e o ordena”.

Em “Apocalipse sem Medo” (1999), no capítulo Apocalipse e universalismo, comento que Arturo Toscanini ensinava, mutatis mutandis, que ouvir música não é escutar notas. De fato, porquanto se deliciar com a bela arte de Verdi, Tchaikovsky, Wagner, Borodin, Schumann, Debussy, Ravel, Grieg, Sibelius, Irving Berlin, Gershwin, Grofé, Chiquinha Gonzaga, Noel, Cartola, Caymmi, Luiz Melodia, Monarco, Jobim, João Gilberto, Caetano, Gil, Chico Buarque, Toquinho, Guerra Peixe, Carlos Gomes, Padre José Maurício, Francisco Braga, Lorenzo Fernandez, Augusto e Alberto Nepomuceno, Guerra Vicente, e tantos mais, é integrar-se no sentimento do recado melódico que o compositor quis transmitir ao ouvinte.

Assim é com o Apocalipse, seu anúncio não está na “letra que mata”, mas no “Espírito que vivifica”, o qual, por meio do Amor de Quem fraternalmente adverte, desce do Criador à criatura.

 

PARA QUE EXISTE A MENSAGEM DIVINA

O que procuro destacar, na pregação ecumênica do Evangelho-Apocalipse, é a parcela de Deus que habita em todo cidadão, seja ele religioso ou ateu; amarelo, branco, negro ou mestiço; civil ou militar; analfabeto ou letrado; da direita, esquerda ou centro ideológicos, ou mesmo apartidário. Se o Homem não for ao encontro da Solidariedade, na vivência particular ou coletiva, onde iremos parar?

O Cosmos é música, que, na definição de Paul Claudel (1868-1955), “é a alma da geometria”. Logo, temos de achar os sons que, com abrangência universal, nos confraternizem. Para isso é que existe a Mensagem Celeste, que frontalmente se contrapõe à execrável intolerância.

 

ECUMENISMO ÉTNICO

Numa homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra, a ser comemorado em 20 de novembro, e à lembrança do valente Zumbi, publico trecho de um artigo que preparei para a Folha de S.Paulo em 15/5/1988. Nele enfatizo a necessária prática do Ecumenismo entre as mais variadas etnias:   

Zumbi deu o brado que nenhum Domingos Jorge Velho poderia abafar: Liberdade! Dignidade! Somos Seres Humanos!

Morreu-lhe o corpo. Mas a Alma — quem conseguirá matá-la? — permanece... e se multiplica nas palavras e atos de um Patrocínio, Joaquim Serra, Luís Gama, Salvador de Mendonça, André Rebouças, Castro Alves, Joaquim Nabuco e de tantos outros negros, brancos e mestiços. Se ainda não há democracia étnica dentro de nossas fronteiras — embora o Brasil seja nação de etnias mescladas, para cuja sobrevivência é essencial estar plenamente legitimada e vivida a sua brilhante mestiçagem —, é porque o espírito de senzala continua grassando. Contudo, é justamente na natureza miscigenada que consiste a sua força.

Voltando ao quadro atual, a situação está mudando. E de onde menos se espera, assistimos à posse do primeiro presidente afro-americano da história dos EUA. É um grande avanço.

 

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.

paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com