Vidas Secas

Por Dilmara Gomes dos Santos Passos | 28/03/2011 | Resumos

A analise de Affonso Romano Sant?Anna acerca de Vida Secas parte de um pressuposto sobre dois conjuntos, onde o primeiro é constituído por Fabiano, Sinha Vitória, os seus filhos, a cachorra Baleia e o papagaio. Já o conjunto 2 composto pela sociedade e/ ou o mundo hostil ao vaqueiro e seus acompanhantes funcionando como um organismo fechado que repele qualquer comércio com os elementos do conjunto 1.
Os dois conjuntos são disjuntos, visto que não há um sistema de trocas apenas um mecanismo de opressão e bloqueio, partindo desta analise Afffonso Sant?Anna subdivide a narração em dois subconjuntos: dos elementos humanos: Fabiano, Vitória e os filhos e os infra-humanos: a cachorra Baleia e o papagaio, ao contrario da distancia existente no Conjunto 1 e o Conjunto 2, os dois subconjuntos são ligados por dois pólos de referencias, os elementos humanos que gira em torno do paradigma Homem e o outro pólo ligado ao paradigma Animal.
Entretanto nestes dois níveis existe uma lacuna na medida em que os elementos humanos encontram-se em um grau mais baixo do nível dos Homens em contra partida os infra-humanos estão acima do nível dos Animais, este fator faz com que os humanos se aproximem dos animais e os animais cheguem a um nível de humanização, dentro de um processo de zoomorficação do humano e antropomorficação dos animais.
A integração entre os elementos simétricos dos dois conjuntos acontece com a relação Fabiano/Baleia, Vitória/Papagaio, Fabiano sente-se um homem para depois se achar bicho, já Vitória é comparada com o papagaio por seu esposo por causa de seus pés e o modo de andar. Fabiano e Baleia permeiam um ambiente de trabalho, ela com a caça ás preás e ele com o trabalho no campo e domínio dos animais, já a relação de Vitória com o papagaio se dá pelo fato de ambos possuírem uma "ponta de língua" algo que Fabiano e Baleia não possuem pois apenas "rosnam" e "grunlhem".
No âmbito das aspirações dos personagens o autor retrata FabianoXTomás da Bolandeira, detentor de uma linguagem culta o qual Fabiano admirava, enquanto o sonho de Sinha Vitória é adquirir uma cama igual a de seu Tomás.
O retrato dos filhos assemelha-se aos pais, e os meninos parecem simétricos uns aos outros e não possuem sequer nome próprio, a questão do animalização é novamente abordada na medida em que os meninos são comparados a todo instante a animais e o cadela Baleia é considerada membro da família,o menino mais novo se relaciona com baleia, as cabras, o bode velho e os periquitos, enquanto o menino mais velho reproduzia animais em forma de barro, retratando o único universo que conhecia.
Outro fator importante está na questão da relação do homem com a natureza, Fabiano se considera "plantado em terra alheia" e compara-se com as "catingueiras e as baraúnas" (pág. 21), as cores da caatinga é transferida para os personagens, seja no soldado amarelo, na saia vermelha de Sinha Vitória ou seu Tomás que "passava, amarelo, sisudo". Não somente ocorre a humanização dos animais como também dos vegetais, objetos e paisagem.
Segundo uma critica de Rubem Braga "Vidas Secas" pode ser definido como uma "novela desmontável", sendo vista como uma historia a-historica, pois não se situa em nenhum tempo especifico.
Os motivos que levaram Graciliano Ramos a escrever sua novela desmontável vão desde o "zôo e antropoformismo", até a questão da "linguagem", nesta sua novela a historia propriamente dita é elemento secundário,já que lhe falta a trama tradicional e os mecanismos de clímax e anticlímax.
A falta de comunicação fez com que Fabiano e Vitória se tornem meros objetos com a natureza por ambos não possuírem capacidade de articulação,sempre que tenta se comunicar Fabiano fracassa, porém como dialogar em uma obra onde não existe diálogos,onde toda a construção é na terceira pessoa do singular. Em Vidas Secas existe o dialogo-a-um / e o monologo-a-dois, desta maneira os pensamentos dos personagens é "desmontável" como a própria estrutura da obra.




SANT? ANNA, Affonso Romano de. Análise Estrutural de Romances Brasileiros. Petrópolis: Vozes, 1994.