Vidal de La Blache:

Por Valdelúcio Fonseca | 21/01/2010 | Geografia

A Revolução Francesa no Contexto Histórico vivido por La Blache


No século XIX, com a composição da terceira república francesa, dava-se os conflitos contra os interesses alemães. Para MORAES (2005. p.76),


A França foi o país que realizou, de forma mais pura, uma revolução burguesa. Ali os resquícios feudais foram totalmente varridos, a burguesia instalou seu governo, dando ao Estado a feição que mais atendia a seus interesses. A França havia conhecido uma unificação precoce, que já datava de alguns séculos; a centralização do poder restava garantida pela prática da monarquia absoluta. Isto havia propiciado a formação de uma burguesia sólida, com aspirações consolidadas, e com uma ação nacional. Esta classe formulou e comandou uma transformação radical da ordem existente, implantando o domínio total das relações capitalistas. Napoleão Bonaparte completou este processo de desenvolvimento do capitalismo na França, o qual teve seu ponto de ruptura na Revolução Francesa, que varreu do quadro agrário deste país todos os elementos herdados do feudalismo. ... A revolução francesa foi um movimento popular, comandado pela burguesia, dirigido pelos ideólogos dessa classe.


Em meio a todas essas questões aparece a geografia vidalina. A geografia de La Blache é uma oposição à geografia de Ratzel, em toda sua estrutura e desenvolvimento, porém, ambos os autores, buscavam em seus estudos uma justificativa para a obtenção de novas terras realizada pelos impérios no qual viviam.


O Estudo da Geografia Lablachiana


Se de um lado a Alemanha tem Ratzel como um grande construtor da ciência geográfica nacional, a França tem Vidal de La Blache, que faz com que a escola francesa seja reconhecida até os dias atuais, como uma “grande escola” da geografia. Ratzel, foi um grande instrutor sobre o conceito de território, já La Blache, deu dimensões para o conceito de região, dentre outros objetos epistemológicos dos estudos geográficos.

Para La Blache, o objetivo de estudo da geografia era observar a superfície da terra, e nela as suas produções, em nível regional, o “geral” está conectado com os “particulares”. A geografia lablachiana recebe influências além de seu contexto histórico, as influências do pensamento kantiano assim como do racionalsimo Galileano e Newtoniano.

As principais idéias abordadas em seu pensamento e em sua obra são: os organismos, o meio, a ação humana e o gênero de vida. Os organismo eram concebidos por vários autores como estância ou um recurso qualquer, como por exemplo: a paisagem, a terra, as cidades... entre outros. A noção de organismo está atrelado a finalidade (tem uma causa final), onde deve haver sua realização como ser/objeto.

O conceito de organismo estava ligado ao conceito de natureza formado no pensamento de Aristóteles, conhecido por physis, em que nesta concepção, a natureza é uma matéria em movimentação que está sempre na busca de sua auto-realização.

O meio, para La Blache, surge pela interação de forças de origens diversas, que entram em fusão, agindo mutuamente, originando uma forma, o meio, o qual, pela análise, é composto pela união de diversos elementos que estão integralmente conectados, uns aos outros. “Dito de outra forma, trata-se do resultado de um campo de ação e de tensão particular que é o próprio objeto do conhecimento” (GOMES 1996, p.199).

O organismo compõe o meio e é no meio que se realiza sua manifestação. Ressaltando que a ação humana, é o principal elemento transformador da natureza (meio). O homem se utiliza do meio para se manifestar, e o meio em si, responde com uma contrapartida.

Evidentemente, não há lugar para acreditar aqui em uma capacidade de adaptação e de transformação ilimitada do homem em relação às condições do meio. Tudo depende de sua herança cultural e instrumental, mas, enquanto ‘mestre’ da natureza, o homem tem a capacidade virtual de se opor a ela parcialmente. Assim o discurso de Vidal se parece às vezes com uma descrição da luta aberta entre a cultura e natureza. (LA BLACHE, 1913, 141)


O homem, nesta luta está num posto de agricultor (entre outros, além de agricultor, tais como caçador, pastor...), onde se utiliza da natureza, fazendo de seu trabalho, uma atividade exploratória de subsistência, que também se torna uma atividade “modeladora”, em que é o homem transforma e delimita as funções de seus elementos naturais. E nesta luta, que relacionam ou compõem os organismos que transformam o meio, e nela que também surge o objeto de estudo da geografia vidalina. Nessa relação do homem e os seus processos operacionais de transformação, e ganhando ênfase global. Mas, o meio pode ser concebido, como uma manifestação das ações humanas sobre o conjunto das possibilidades propostas pela natureza.


O homem criou para si gêneros de vida. Com a ajuda de materiais e de elementos tomados da natureza ambiente, ele conseguiu, não dá um só golpe, mas por uma transmissão hereditária de procedimentos invenções, constituir alguma coisa de metódico que assegura sua existência e que constrói um meio para seu uso, (LA BLACHE, po.cit.).


O grande objeto da geografia lablachiana (geografia possibilista) é entender, além dos fenômenos que estão atrelados às ações humanas e a relação com o meio (natural ou humanizado), passando a ver as particularidades, e que estas estão ligadas em âmbitos maiores, construindo, desta forma, uma geografia geral, que deve ter ligações com as geografias regionais. Neste processo, a existência de aspectos em comum entre os fenômenos e as regiões, propiciará analogias. O método vidalino, segundo GOMES (op.cit. p.209), é caracterizado por três proposições: observação, comparação e conclusão. Este método foi uma grande ferramenta para os estudo descritivos e narrativos de suas viagens.

A geografia lablachiana com certeza foi marcada pela suas características de modelo analítico, este tinha capacidade de produzir leis gerais e medidas objetivas para estabelecer as relações entre os estudos de fenômenos. Para Vidal de La Blache, o estudo da geografia, concretizavam-se em leis gerais, estas leis, seriam pontos, em outras palavras, seriam uma interseções, que surgiam nos diferentes fenômenos e regiões, fazendo com que estivessem interligados, podendo, assim, gerar analogias e generalizações.


Referências Bibliográficas


GOMES, Paulo Cesar da Costa. GEOGRAFIA E MODERNIDADE. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand Brasil, 1996.


LA BLACHE, Vidal de (P.), LE PRINCIPE DE LA GEOGRAPHIE GENERALE, in Annales de géographie, 5 (20)- Tradução de Odete Sandrini Mayer http://ivairr.sites.uol.com.br/lablache.htm (site de transcrição de textos originais).


MENDONÇA, Francisco de Assis. GEOGRAFIA FÍSICA: CIÊNCIA HUMANA?. São Paulo, Ed. Contexto, 1989.


MORAES, Antônio Carlos Robert. GEOGRAFIA - PEQUENA HISTÓRIA CRÍTICA. São Paulo, Ed. HUCITEC, 1983.