VIDA E MORTE DE MANCHINHA
Por FRANCISCO SILVA JÚNIOR | 11/12/2018 | LiteraturaVIDA E MORTE DE MANCHINHA
Autor: Francisco Silva Júnior
I
O relato que hoje conto
É de cortar o coração
Criou comoção geral
Indignou uma nação
Manchinha a protagonista
A triste história de um cão
II
Dois mil e quinze é o ano
Fogos, gritos e animação!
Uma família surpreendida
Pela chegada de um Cão
Assustada em desespero
Pelo imenso barulhão
III
No colo da Mariana
Grunhindo se aconchegou
Procurando por abrigo
Carinho, afeto e amor
Amparada e protegida
Rapidinho se acalmou
IV
Pai, Mãe, olha o presente!
Que o ano novo me deu!
Vou chama-la de Manchinha,
Chamou e ela atendeu
Obrigado meu Senhor
Pelo que me concedeu
V
Casa nova, vida nova!
Finalmente um novo lar
Comida, vacina e cama
Não há do que reclamar!
Cuidado, amor proteção
Manchinha a comemorar.
VI
Passear bem à tardinha
Rolar na grama, brincar!
Grudado em Mariana
Os outros cães implicar!
Voltar correndo pra casa
Parece nunca cansar
VII
Da casa logo Manchinha
Protege, torna-se a guardiã
Todos com seus compromissos
Saem cedo, de manhã
O Pai segue rumo ao trabalho
Mariana para o divã
VIII
As sessões de psicanálise
Deixaram de ser uma rotina
Mariana está mais feliz
Tudo graças a Manchinha
Que trouxe felicidade
Onde antes já não tinha
IX
Numa tarde de sexta feira
Tão logo abriu o portão
Foram todos surpreendidos
Pelo ataque de um ladrão
Com uma arma em Mariana
Deixou a todos sem reação
X
Manchinha vendo aquela cena
A Mariana buscou proteger
Mordendo a mão do ladrão
Deu tempo a todos correr
O bandido pegou a arma
E atirou por malquerer
XI
Manchinha fugiu ferida
O bandido também correu
A família em prantos chorando
Sem saber o que aconteceu
Só quando a polícia chegou
Foram ver o que se deu
XII
Tentaram de todo jeito
Manchinha localizar
Jornal, rádio e internet!
Buscaram em todo lugar
Compreenderam ser difícil
Da cadela escapar.
XIII
Machucada e agonizante
Manchinha foi encontrada
Embaixo de um viaduto
Onde ali foi resgatada
Por um catador de lixo
Sendo por ele tratada
XIV
Os ferimentos sofridos
Sequelas também deixou
Manchinha não conseguia
Lembrar aonde morou
Resquícios de um passado
De tudo bom que passou
XV
Andando junto ao anjo
Que a sua vida salvou
Todo dia uma aventura
Sofrimento e muita dor
Buscando a sobrevivência
E a família que a criou
XVI
Passaram-se três longos anos
E dois mil e dezoito chegou
Indo embora a esperança
Que Manchinha sempre guardou
De um dia voltar pra família
Que lhe deu muito amor
XVII
Dormindo pelas calçadas
Comendo o que o lixo dá
Lembranças da Mariana
Saudades do antigo lar
Dia a dia as boas lembranças
Manchinha ainda a guardar
XVIII
Entrou num supermercado
Buscando água e comida
À noite num canto qualquer
Procurava por guarida
E em cada um que passava
Buscava encontrar sua amiga
XIX
No outro dia cedinho
Foi acordada a pauladas
Um segurança malvado
Seguia as ordens lhes dadas
Para Manchinha expulsar
Pra longe, pra outras quebradas.
XX
Chorando, gritando de dor!
Por muitos foi amparada
Por um cinegrafista amador
Toda a cena foi filmada
Colocada nas redes sociais
Foi por milhares compartilhada.
XXI
Tentaram de toda forma
A Manchinha ajudar
Mas dessa vez o destino
Já estava a se desenhar
Manchinha se despediu
Sem Mariana encontrar
XXII
À noite o noticiário
Mostrava a atrocidade
Promovida pelo vigilante
A mando da autoridade
E o Carrefour recebeu
A fúria de uma cidade
XXIII
Ao ver aquela matéria
E a foto de Manchinha
Mariana caiu em prantos
Que falta de sorte a minha
A poucos metros de casa
Estava minha cachorrinha
XXIV
Como gesto humanitário
O seu corpo foi buscar
Dar-lhe um enterro digno
Pra Manchinha descansar
Recompensar as alegrias
Que ela trouxe ao nosso lar
XXV
Manchinha tornou-se símbolo
De proteção ao animal
Uma grande manifestação
De repercussão nacional
Para que nunca esqueçam!
Não é só uma vida! Não desmereçam!
É a vida de um animal!
Descanse em paz Manchinha.