VICTÓRIA

Por Virka Neduziak | 01/05/2014 | Contos

VICTÓRIA

            No sitio São Vicente em Nova Tebas, morava a família Santos, Victória era filha única. O casal Santos, sonhava  ver a filha crescida, estudada e bem casada, por isso Victória foi estudar na cidade, mas retornou para casa dos pais assim que se formou em veterinária.

            O sitio era pequeno para os muitos investimentos que a família fazia, tinha plantio de frutas, hortaliças, pasto para o rebanho bovino, lavoura de feijão, arroz, milho e café. Todos os anos faziam-se novos experimentos para diversificar e aumentar a renda familiar.

            Eis que um dia aparece naquele sítio, “Alberto”, um agrônomo, e oferece assistência para cada novo experimento. Não demorou muito e Victória se apaixonou pelo rapaz, mas isso era um segredo só dela, afinal “ninguém precisa saber “  pensava.

Numa tarde  de verão, Victória foi dar uma volta no pasto para verificar se a cerca precisava de reparos, se o pasto estava limpo e claro, ver o rebanho que amava tanto.

A garota nem imaginava o que tinha de enfrentar naquele entardecer,   caiu do cavalo sobre algumas pedras  e  ficou desacordada, com algumas escoriações no corpo, não poderia voltar para casa, não fosse o agrônomo ter passado por ali naquele instante.

Dessa vez Victória foi salva por Alberto, que nem desconfiava o   grande amor que ela guardava bem escondidinho no coração. A verdade é que aquela queda foi o primeiro passo para aproximar os dois. No coração dele também estava escondido um segredo a sete chaves, ele amava Victória, mas era tímido demais e lhe faltavam palavras para pedi-la em namoro.

O pai de Victória andava desconfiado que aqueles jovens se amavam e poderiam ser felizes se superassem a vergonha de dizer “eu te amo”.

O tempo foi passando e o sentimento  camuflado começa ter raízes, pensava o agrônomo, para a  veterinária que encanta-se cada vez mais,  aquele afeto era como a fidelidade de um cão pelo seu dono.

Os pais de Victória resolveram aproximar os dois, combinaram um passeio pelas formosas cachoeiras de Nova Tebas e foi lá embaixo de um  abacateiro que o primeiro beijo aconteceu,  depois desse dia não podiam mais viver  sozinhos, uma grande festa de casamento foi planejada e para selar o noivado o agrônomo deu para Victória um anel que pertencia a sua família há muito tempo,  nem ele sabia quem foi a primeira dona daquele anel que diziam ser encantado. Ao colocar o anel no dedo de Victoria o  agrônomo fez uma declaração dizendo: “sempre que precisar de mim beija este anel e sentirá minha presença”.

Victória guardou no coração as palavras profundas que ouviu naquele momento sagrado. Guardou o anel e prometeu usa-lo em ocasiões especiais como batismos, festas de casamento, festas do padroeiro, afinal não faltariam oportunidades.

Depois de algum tempo Victória, Alberto e os filhos foram morar na cidade pois as estradas para o sitio não estavam lá aquelas coisas e tinham que matricular as crianças na escolinha.

Um dia o Alberto teve que viajar para uma conferência na Capital e Victória começa viver um pesadelo, não teve mais contato com seu amado, se passam dias meses e nada. Victória pensa mil coisas, sequestro, morte, e até mesmo outra mulher na vida  dele. O tempo passa se arrastando para ela  que olha nos filho o reflexo de um amor vivido e que acabou sem explicação, chora sozinha, tem de ser forte para não sofrer mais com o sofrimento dos filhos e o tempo vai exaurindo suas forças. Victória agora se sente abandonada e traída, mas o amor pelo esposo, ah! Esse não consegue arrancar do peito.

Mas, o pior Victória não esperava, seus pais estavam procurando um bezerro que a vaca escondeu, quando caiu um raio e a força dele foi tão bruta que atingiu os dois deixando-os sem vida nas terras férteis daquele sitio tão preservado pela família Santos.

Depois dessa tragédia, Victória teve que voltar para o sitio e cuidar do patrimônio conquistado pelos pais, até porque ali tinha o necessário para viver com os filhos e as ocupações do dia a dia trariam paz para ela, mas era preciso mexer com os documentos da terra, o registro do gado, os relatórios de despesas da lavoura  e tantas coisas que estavam num cofre de madeira, colocado no fundo falso do guarda roupas.

É mas nem tudo  era trevas, quando Victória abriu o cofre e encontrou o anel de noivado ficou encantada com aquele momento mágico, lembrou-se de palavras e sentimentos, por alguns momentos o filme da sua vida foi revivido ali. E diante daquela nostalgia colocou o anel no dedo  beijou-o, e fechou o cofre e foi vacinar o rebanho, mas para sua surpresa, quando retornou do curral o telefone tocou, era de uma clinica, a voz do outro lado da linha pedia sua presença, pois seu amado esposo  se lembra de  algumas coisas, sua memoria começa voltar depois de tantos anos que sofrera aquele acidente e perdera a memória.

Nesse dia Victória entendeu a promessa declarada no dia de seu noivado. Nunca mais tirou o anel do dedo, e pode enfim viver momentos inesquecíveis com sua família. Continua cuidando do sitio, e  a cada dia inventa coisas para preservar a memória dos pais e conservar a agricultura familiar que considera imprescindível para sobrevivência.

Autora: Professora Virka Neduziak, Pedagoga, Tecnóloga e Acadêmica em Letras Espanhol pela UNIP