Viajando no azeite

Por Virginia vicamf | 04/08/2012 | Crônicas

"Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos"  Aristótales

Nos distinguimos  , pelo que sabemos, das demais espécies pela  capacidade humana de simbolizar, falar,  imprimir registros e recriar a natureza de forma lírica. O jogo de  linguagens e  imagens  é um passatempo delicioso, por ser desimportante, um exercício  de quem aprecia dialogar com o conhecido, atualizando lembranças , possivelmente adentramos a memória arquétipa,  embarcamos mentalmente na viagem encontrando os  mitos, foi o que ocorreu outro dia quando ao azeitar  a salada; deixei a mente vagarEntregue ao momento das livres associações pelo paladar cheguei ao  afeto nutrido pelas viagens marítimas, no mar mediterrâneo, logo estava diante à deusa  Athena, seus atributos e a narrativa da origem da espécie tida como sagrada, da qual extrai-se o azeite.

Passou-me a cena da disputa entre a deusa Athena  e Poseidon pelo domínio do nome da  nova cidade construída, na ilha de Ática, esta recebeu o nome da deusa, afinal ela ofereceu algo aos habitantes,  bem mais útil que água salgada ofertada por seu oponente; Athena espetou sua lança, inseparável tal qual seu escudo e capacete, no solo e nele surgiu uma oliveira. Quem mais teria esta idéia, afinal além de proteger os guerreiros e orientá-los a deusa favorece a liberdade,  sabedoria, paz, inspira e cuida dos filósofos e  poetas, sempre atenta, tendo  a coruja como companhia, seumo animal preferido.

Imersa no verde oliva meu pensamento prossegue e ancoro em Lesbos ,uma entre as espetaculares ilhas do mar Egeu. Porque Lesbos , ou Lesvos? Justamente por ter sido denominada Ilha Esmeralda  devido   ao farto cultivo de Oliveiras e por ter sua área quase que totalmente coberta de verde, cor que apesar de, ou por ser uma cor fria, tem propriedades curativas, favorável ao restabelecimento do equilíbrio do organismo humano. O que poderia desejar  na noite fria, a mais  que um banho em uma  fonte de água quente, de origem vulcânica em uma ilha repleta de ramos de Oliveira ? Como não vir a mente Virgílio "E com um ramo de oliveira o homem se purifica totalmente." na Eneida.

Viajei no azeite, melhor naveguei sob a égide da deusa virgem como o líquido dourado,  que  atravessou mares, conquistou outras ilhas e consagrou-se  em  longínquos continentes como a raiz da língua  grega.

Inebriada , sentindo-me “sarada” de quaisquer distâncias entre os sentidos, corpo e  mente, retornei à refeição, logo após a qual ao braços de Morpheu entreguei-me.

Despertei  sobre a folha de papel amassada onde havia  rabiscado o lembrete ; registrar devaneios sobre o azeite de oliva.