Viagem vermelha de Vanessa
Por Edson Terto da Silva | 04/03/2011 | ArteEdson Silva
Na série de artigos sobre obras de "teletransporte universal" ou simplesmente viajantes, a música inspiradora de hoje é "Vermelho", na linda voz de Vanessa da Mata. O mundo roda em vão, enquanto ela gosta de admirar o sorriso e de gastar horas vendo dormir a pessoa amada. Não sem tempo, a cantora observa o sol invadir o chão do apartamento e da Praça da Sé onde ela vê um velho gastando sua solidão em meio aos pombos.
Ao gostoso balanço do reggae, a talentosa cantora diz serem vermelhos beijos que quase a queimam. Beijos certamente da pessoa amada, de meigos olhos. Vanessa alerta que tudo pode retroceder. O velho solitário da praça, talvez tomada agora pela multidão de gente e pombos, pode ser a gente em momento de solidão no fundo da alma, quando necessitamos suplicar aconchego para acabar com o frio, quem sabe em beijos vermelhos, que quase nos queimem e deixem lânguida nossa face.
Que riqueza a nossa Música Popular Brasileira! Ao lembrar da obra, até parece que a voz de Vanessa da Mata começa tomar de assalto suavemente nossa alma e instala-se de maneira sutil e natural, como se sempre tivéssemos sido propriedade da beleza imerecida. E não é assim que aparenta ser a maior parte deste mundo de contrastes? A mesma beleza, que cremos nem merecer, divide espaço com as histórias de solidão, tristezas e injustiças.
Mas, como alerta Vanessa, tudo pode retroceder em qualquer momento e quem sabe, ao invés de sermos o solitário senhor da praça e dos pombos, seja ele o exemplo da vida bem vivida e que nos dará a receita do fazer valer a pena viver, de maneira intensa, sempre admirando a mágica da arte (de Vanessa), das cores (Vermelho), das imagens (o sol invadindo o chão do apartamento e da praça pública) e dos sons (o reggae que embala e faz seguir viagem nos beijos, que quase nos queimam).
Edson Silva, 49 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa de Sumaré
edsonsilvajornalista@yahoo.com.br