Vermelho Amargo- Bartolomeu Campos de Queirós

Por luciana carneiro nunes | 15/05/2015 | Literatura

 

Resumo da obra :Vermelho Amargo- Bartolomeu Campos de Queirós

Luciana Nunes

Bartolomeu Campos de Queirós, em sua mais recente obra, Vermelho Amargo, volta à sua infância e expressa através de uma narrativa com vários recursos poéticos, o sofrimento de ser uma criança sozinha e sem o amor da mãe.

Em Vermelho Amargo, o narrador-menino, rememora sua infância e, ao mesmo tempo, participa da história. A “falta de amor”, elemento que perpassa toda sua obra, evidencia o contraste entre madrasta e mãe.

Bartolomeu mostra sua família, composta por ele, seus irmãos, a madrasta e o pai. O irmão que comia vidro, a irmã obstinada por bordar em ponto cruz. O pai, por sua vez, é mostrado com distanciamento e, sempre, como a figura marcada pelo alcoolismo. Já a madrasta, é descrita como alguém que despeja toda sua peçonha em seus gestos econômicos e, falta de amor, estabelecendo-se assim, um contraste com a mãe, que é representada pela extrema delicadeza e amor em que administrava os seus atos.

A madrasta surge na obra analisada nas ações cotidianas, que prega  uma mãe coerente com a sua função de gerar e cuidar, nos padrões da sociedade vigente, e esse paralelo é exemplificado no ato dela fazer um simples almoço. Ela de posse do fruto tomate (maior metáfora do livro) exerce sob o ato de fatiá-lo, gestos finos, precisos, sem a delicadeza que uma mãe teria ao fazê-lo.

A maneira que o autor vai construindo seu texto nos traz palavras fortes; fina, afiando... e remetem ao leitor, através da sonoridade da pronúncia, um som fino. Essas pronúncias entrando em sintonia com os gestos da madrasta, hostis, como uma lâmina nos pontuam exatamente na compreensão da persona dela. “... ela cortava o tomate vermelho, sanguíneo, maduro como se degolasse um de nós. Seis.”(p. 09).

Em uma prosa destacam-se três elementos, sujeitos, tempos, e espaços ficcionais. Os sujeitos, claro, além do próprio narrador menino que revive sua história, engloba a família, incluindo pai, mãe, madrasta, irmãos e alguns outros personagens secundários. Referente aos tempos destacam-se todas as ações que estão inseridas na obra, em um determinado espaço.

             Então, o livro pode ser considerado como prosa poética, em parceria com as várias palavras e expressões líricas, (às vezes característica do poema), e aos parágrafos curtos com várias metáforas. Ao enxergar todos esses elementos, pode-se ter uma ideia de acordo com o que o autor apresenta, por exemplo, a ruptura causada pela morte de sua mãe, o distanciamento do garoto com o mundo, as violências das relações humanas e suas representações. "Havia na cidade a madrasta, a faca, o tomate e o fantasma. A mãe morta ressuscitava   das louças, das flores, dos armários, das cadeiras, das panelas, das manchas dos retratos retirados das paredes, das gargantas das galinhas."(p.15/16)

Ao olhar por esse prisma, talvez, o autor quisesse passar a imagem de algo capaz de retirá-lo da tristeza, como diz a mitologia. Ou, quem sabe, expressar a tentativa, subconsciente, da imortalidade. O desejo que sua mãe não partisse. "Antes, minha mãe, com muito afago, fatiava o tomate em cruz, adivinhando os gomos que os olhos não desvendavam, mas a imaginação alcançava. Isso, depois de banhá-los em água pura e enxugá-los em pano de prato alvejado, puxando se brilho para o lado do sol. Cortados em cruzes eles se transfiguravam em pequenas embarcações ancoradas na baía da travessa."(p.14/15).

Narram-se, no livro, memórias de infância. Não se lerá, no entanto, a história da formação do escritor, mais diretamente. O que se lê, desde o começo, é a dificuldade de narrar à amarga infância, a barra pesada de encarar um momento de dor que o tempo não curou.

         

    

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