Verbetes

Por Prof. Ubiratã Ferreira Freitas | 23/02/2009 | Filosofia

Rodapé

As palavras muitas vezes formam uma condição de arredondamento no pensamento humano. Tais manifestações pensantes traduzem algumas vontades do dizer, mas acabam dando um tom de fechamento, acabamento, colocando um ponto onde ainda não foi totalmente extraído o dizer mais simples.

Assim o pensamento vai se constituindo de palavras inacabadas, ou de palavras acabadas em formas aristocráticas de conceitos, cautela de busca de entendimentos do saber. Mas como podemos definir tudo isso?

Um pensamento acabado não pode existir, pois cada forma de pensar transmite um momento único, onde o exercício de reflexão mental passa a ser o centro do dizer. Deflagrando expressões que vislumbram em uma espécie de vitrine do pensar, manifestando de tal forma, um modo diferenciado de entendimento na busca constante de chegar à origem do pensar em seu momento máximo de pureza.

Como o pensamento não pode ser considerado acabado; as idéias se preenchem entre lacunas que são fortemente atestadas dentro de conceitos, onde cada um tem uma função de extrair ao máximo, às possibilidades compreensivas do dizer filosófico.

Não como um rodapé, que embeleza e dá acabamento, postulando, ou camuflando dizeres diversos, criando espaços entre o que é vitável de ser visto, mas simplesmente coloca-se a frente das possibilidades do raciocínio.

Espaço

Estar diante de si, é um processo de rever alguns momentos que se esvaíram ao longo do tempo. Momentos esses, que através de pequenos espaços de tempo formam as características de cada pessoa, alternância de discursos, modos de vida, sistemas que se alteram, prazeres e desamores.

Os automóveis se deslocam, levam pessoas, coisas. Como diz a lei da física, “dois corpos não utilizam o mesmo espaço”, então se batem, se amassam, se esfolam tudo para deslocar-se entre os espaços vagos.

O espaço sideral ordena um sistema, que entre suas constelações se dispõe de espaços desocupados, homens se arriscam entre os astros, que se arranja também, em uma ordenação com espaços que permite seus movimentos entre si, e que formam suas galáxias infinitas.

O pensamento se supera e trás consigo reflexos que destonam matizes, fragmentando os pigmentos que se oferecem em minúsculos pontos, mas não unem-se, tornam-se unos, com espaços entre as margens que se destacam como um final, mas com a possibilidade de começo.

A palavra, como construída entre espaços de pensamentos, buscando definições que possam esclarecer cada vez mais as ansiedades e inquietações, redefine o pensar entre novidades e movimentos distintos, onde somente a intuição pode deliberar, ou re-elaborar o que tenhamos pensado e construído.

Como uma carruagem cavalgando em direção do saber, o pensamento se faz de espaços, entre um leve devaneio e balanço, este, se esquivando do atrito das rodas no terreno árido e irregular.

Assim, o pensar vai se constituindo ou se deformando em um pensamento mais emaranhado, ou ainda um pensamento desfigurado do primeiro, onde volta a sua simplicidade e originalidade do pensar.
Espaços, somente espaços.

Sentimento Sem Nome

Espírito turvo
Andei por muito tempo como um intocável, sem haver nada que desabonasse minha conduta, meu caráter e minha moral, mas há poucos anos, tomei decisões e atitudes que transformaram minha vida, meu mundo, meu cotidiano e tudo a minha volta. Dessa forma, o pensamento foi abalado, ou melhor, comecei a pensar, me senti muito fraco sem chão. Afastei-me de pessoas, família e amigos, me isolei, e tentei resolver as coisas..., mas parece que minha vida que era transparente e cristalina, passou a ser uma vida ímpida, pintada, suja; lembrança que eu não via mais o equilíbrio ou rumo que eu possuía.

Nesse impingir dos fatos, me sentia como um espelho turvo, sem muita nitidez, que refletia a rejeição de mim mesmo. Sendo essa a maneira que me fazia presente os momentos vividos, buscando nas pessoas as qualidades que até então, eu tinha e agora não possuía mais.

No decorrer dos fatos, a tinta jogada no transparente viver, fez-me retrair e não mais me apresentar como um transparente ser humano, pois eu agora possuía as marcas que o espírito não tinha ainda. Marcas essas, que me fizeram voltar ao pensamento e refletir somente em busca da origem de um erro – se errei realmente – mas encontrar os motivos verdadeiros de tais ações que me desestruturaram como pessoa.

Busquei com determinação a origem de meu retrocesso, reviravolta, desnorteio..., encontrei a sujeira em baixo do tapete de minha vida, nela pude encontrar o início do caos pessoal, como um arqueólogo – tentando encontrar no lixo urbano fragmentos de sociedade –, busquei em meu próprio lixo encontrar traços que denotam as variações que sofri no decorrer dos anos.

Assim esse sentimento me possuiu por muitos anos, mas consegui encontrar a través da razão meu verdadeiro eu, esse pensamento que vale como mola mestra de minha vida, aprendi que as emoções não podem e não devem estar associadas antes da razão, pois os pensamentos certos sempre tem a razão como princípio e não a emoção.

Hoje posso dizer, tenho meus princípios mais fortes, mantenho posturas que até então, não possuía, ou melhor, estavam escondidas em baixo do tapete, junto com a sujeira de minha vida. Também acredito que aos poucos meu espírito está sendo cristalino novamente, pois o que realmente mudou em mim, foram minhas ações, e nelas posso perceber como realmente sou.

Conexão entre Verbetes

Verdades construídas que está no senso comum, como uma veracidade classificada e acabada no dizer. Esse dizer que possui um pensamento próprio e de originalidade simples, mas com um dizer incorporado e imposto de maneira acabada.

As relações entre ambos os verbetes, possuí uma característica de exploração de conceitos, tenta através de uma aproximação conceitual, esclarecer o que está no silencio do dizer; nas relações que se pode fazer com os conceitos já estabelecidos e classificados pelo senso comum.

Desta maneira, a busca de uma originalidade – mas seria muita pretensão descobrir um pensamento complexo com tão pouco estudo – traduz de uma forma tímida um pouco de uma verdade estabelecida. Verdade essa, que se manifesta e se acaba em um simples Rodapé, que fomenta um acabamento ainda não acabado.

Esse silêncio que é silenciado pelo Rodapé, na verdade, é somente um espaço que foi interrompido dentro do processo de construção ou de pensar. Pois a continuidade é obstruída e o pensamento inacabado. Assim a complexibilidade de favorecer uma estabilidade de conhecimento, ou ação filosófica, fica comprometida no silêncio.

Silêncio esse que, dentro de um Espaço permanece ali, quieto, esperando um movimento de continuidade de pensamento. Essa forma de buscar definições mais elaboradas do pensamento perpassa por uma condição de localização. Ou seja, onde esta o espaço de tempo que foi emanado ou finalizado por tempo indeterminado o pensamento? Pergunta essa que fica um tanto ambígua, pois o pensamento permanece no espaço, no silêncio, a espera de uma nova interpretação do texto que se apresenta diante da realidade.

Assim a conexão entre verbetes, foi construída a partir de um silêncio que a totalidade do mundo apresenta. Totalidade essa, que constitui uma linguagem filosófica que permite uma interpretação além da que já esta disposta em dizeres, pois não existe um saber absoluto, imune a toda dúvida possível, mas a relação com a linguagem, como modalidade de estar na linguagem, pois a relação do dizer que é interessante, onde o dizer é o antes do dizer. O difícil não é o saber original, mas como dizer o saber que está no silêncio.

A dificuldade encontrada para construção desse trabalho se deu na busca do pensamento correto, o uso de conceitos diversos para conseguir chegar a um nível de entendimento claro. Visto que, nas aulas as quantidades de informações são tantas, que às vezes confunde o pensamento sobre questões básicas, ou questões do senso comum que se apresenta no meu cotidiano.

A mesmice conceitual e coloquial atrapalha muito o pensamento, pois o aforismo puro, simples, rude, deforma um pensar em um amontoado de informações que às vezes não condiz com a realidade expressa na totalidade.

Essas dificuldades encontradas durante a confecção do trabalho, possibilitaram formar um pensar mais puro, buscando condizer com a proposta feita, perfazendo um conglomerado de informações reais de sua originalidade pensante. Essa originalidade me fez refletir e buscar informações que viabilizassem um pensamento muito bem formado.

Aprender que, não podemos ser uma enciclopédia ambulante, é muito menos obter as qualidades necessárias dentro da compreensão pura do pensamento, pois como diz Schopenhauer em um capitulo de sua obra , não adianta obter muita informação sem qualificação, pois a mesma pode se tornar desorganizada, enquanto uma informação bem interpretada viabiliza uma complexibilidade de pensamento muito maior, ou seja, torna-se mais ordenada, possibilitando um pensar mais original e reflexivo.
Também tenho a convicção que o pensar faz um movimento de ações, aprendi a ver o texto que se apresenta a minha volta, e como é constituído de simplicidade e complexibilidade, tendo como um fator o exercício de pureza e impureza que preencha as diversas formas de pensamento dentro de uma universalidade que constituí a totalidade.

Ao exercício do pensar, percebi que as coisas estão ali, paradas esperando a ser tocadas; estáticas muitas vezes, por não obterem a possibilidade de se manifestar, por estarem com um rodapé impedindo a busca do pensamento que está no espaço em silêncio.

Assim o meu crescimento pessoal está em constante aperfeiçoamento, pois cada aula transforma o modo do pensar, todavia a aprendizagem também perpassa por um objetivo de construção do conhecimento científico.

Mas o que realmente interessa, é que o pensamento esteja atento às realidades que cerca o espírito, buscando uma originalidade e tendo êxito na aprendizagem em um sentimento sem nome.

Bibliografia

Schopenhauer, Artur. A arte de escrever. Porto Alegre: L&PM, 2008.