Ventos Favoráveis e um Pouco de Sorte Para Cristóvão Colombo
Por Julio Cesar Souza Santos | 11/11/2016 | Sociedade
Qual Era a Experiência Marítima de Colombo? Que Técnicas Enganosas Ele Usou Para Manter Sua Tripulação Animada? Por Que o Descobrimento da América Obscureceu Outros Descobrimentos de Colombo?
A dedicação de Cristóvão Colombo à sua “empresa das Índias” e o tesouro dos reis da Espanha (Isabel e Fernando) não teriam servido de nada, se Colombo não tivesse encontrado ventos favoráveis e se não tivesse sabido utilizá-los para o levarem ao seu destino. Embora ele não conhecesse bem as terras, Colombo conhecia o mar, o que no seu tempo significava em especial conhecer os ventos.
Quando, aos 41 anos, conseguiu pôr em prática sua grande empresa, Colombo já possuía vasta experiência em navegação marítima, pois sob a bandeira de Portugal navegara acima do ártico quase até o equador e, do Egeu para o ocidente, até os Açores.
Durante algum tempo Colombo viveu no arquipélago da Madeira – onde um de seus filhos nasceu – e, daí, efetuou viagens para S. João da Mina, a bela feitoria portuguesa na Costa do Ouro, no Golfo da Guiné.
Com a sua variada experiência de navegação em latitudes e com todos os perigos do mar, ele se concentraria agora num único objetivo. Dessa forma, na manhã de 3 de Agosto de 1492, Colombo partiu de Palos de la Frontera com três caravelas rumo à sua involuntária descoberta de novas terras. E, em vez de rumar para ocidente a partir da Espanha, ele navegou para sul (Canárias), evitando os fortes ventos do Atlântico Norte.
Das Canárias rumou para ocidente, aproveitando as vantagens dos ventos daquela estação. Uma vantagem incidental deste rumo era o fato de as Ilhas Canárias se encontrarem no mesmo paralelo de latitude de Cipango (no Japão), o destino específico que ele escolhera influenciado por Marco Polo.
Colombo encontrou mar desimpedido, com ventos á feição, fazendo com que seus barcos seguissem de vento em popa. Em 5 de outubro a tripulação se sentiu encorajada ao ver bandos de aves voando no seu caminho e, após 33 dias no mar, na manhã de 12 de outubro o vigia da caravela Pita reclamou seu bônus de 5 mil maravedis, pois foi o 1º a gritar: “Tierra”.
O descobrimento da América obscureceu outros descobrimentos de Colombo, que o fim da idade da vela nos torna difícil apreciar e, logo na 1ª viagem, ele fez três descobrimentos de grande importância. Além de encontrar terras nunca antes encontradas, descobriu o melhor caminho marítimo do ocidente da Europa para a América do Norte e o melhor caminho de regresso pelo oriente.
Ele descobriu as vias necessárias a barcos cuja fonte de energia era o vento e, embora pudesse não saber aonde realmente iria ou aonde finalmente chegara, era um tremendo conhecedor dos ventos.
Claro que também tinha de lidar com seus homens e, manter o moral de uma tripulação que navegava para o desconhecido, não era uma tarefa fácil. Houve ameaças de motim na viagem de 33 dias e, além disso, o caminho para as Índias teve de ser percorrido antes de a paciência dos tripulantes se esgotar.
Colombo prometeu que encontrariam terra depois de viajarem 3620 km para oeste das Ilhas Canárias e, por isso, os homens precisavam ser convencidos de que não iam para nenhum lado de onde não fosse possível voltar.
Colombo não hesitou em usar técnicas enganosas para manter a tripulação animada e, para ter a certeza de que não os desencorajaria, falsificou o regresso da viagem. Ao anotar os cálculos da distância percorrida, ele resolveu calcular menos do que fizera para que se a viagem fosse longa, as pessoas não se sentissem desanimadas.
Não foram poucos os momentos melindrosos, pois entre 21 e 23 de setembro quando eles navegavam no mar dos Sargaços, no meio do Atlântico sul, coberto de algas verdes, os tripulantes que nunca tinham visto nada parecido, alarmaram-se. E, até hoje, muitos marinheiros experientes têm medo de encalhar em mares repletos de sargaços e algas verdes.
Até o tempo calmo e a falta de chuva se tornaram motivos de temor, pois se não chovesse como poderiam se reabastecer de água doce em um grande oceano salgado? Colombo afastou as reclamações com palavras brandas e visões das riquezas das Índias que todos compartilhariam, mas também lhes recordou as terríveis consequências se regressassem à Espanha sem tesouros.
Mas, também desfrutou de um ingrediente extra muito valioso: _ a sorte. Pois, o tempo foi incomparável, de tal modo que “o sabor da manhã era uma grande delícia”.
A menos falada das proezas de Colombo foi a faculdade demonstrada nas viagens posteriores de voltar às terras que encontrara de forma tão acidental e involuntariamente. Duplamente notável pelo fato de a sua navegação ser tão rudimentar, pois no tempo de Colombo a navegação celeste não estava aperfeiçoada. Ele era incapaz de utilizar sequer um instrumento elementar como o astrolábio.
Com o seu simples quadrante, só depois de um ano em terra, lhe foi possível fazer alguma observação útil e, somente muitos anos após a morte de Colombo, a navegação celeste se tornou um equipamento normal do piloto europeu profissional.
O cálculo a olho nu servia bem para ir de um lugar conhecido a outro, mas não dava orientação nenhuma do desconhecido. Devemos nos lembrar de que Colombo julgava que estava viajando para um lugar conhecido.