Venezuela - O Prenúncio de uma Crise

Por Victor Guimaraes Ferreira | 13/06/2009 | Economia

A Venezuela, país membro da OPEP, tem sua economia fortemente dependente da produção e exportação de petróleo, e após dez anos do início da Revolução Bolivariana essa dependência tem se intensificado. Empossado em fevereiro de 1999, em resposta a uma direita corrupta e falida que estava no poder desde 1958, o presidente Hugo Chávez vem desfrutando de um momento histórico de alta nos preços internacional das commodities, o que vinha proporcionando o financiamento da compra de apoio político, tanto interno quanto externo na região da América Latina. Nesse período foi possível obter também alguns indicadores econômicos e sociais positivos. No entanto, com a atual crise financeira mundial, o preço das commodities despencou e consequentemente fez secar a fonte de financiamento da Revolução Bolivariana.

O que mais chamou a minha atenção, durante minha última visita a Venezuela, fora a pobreza crescente que é notória nas ruas de Caracas, foi o fato de que em meio as expectativas sombrias dos economistas quanto ao futuro daquele país, exista também um forte desejo de que um "crash" econômico ocorra o quanto antes. De forma alguma deve ser interpretado como um sentimento anti-patriota ou suicida, ao contrário, é um sentimento de esperança onde a falência dos fundamentos econômicos seria a única forma de enfraquecer o governo "social-populista" do atual presidente Hugo Chávez, em prol do retorno a um Estado de direito democrático, ou seja, converter a atual revolução socialista em uma revolução democrática.

De fato, não é necessário uma análise profunda dos recentes indicadores econômicos e sociais da Venezuela para concluir que a Revolução Bolivariana tem conduzido o país, a mais de uma década, na contra-mão do desenvolvimento, e expondo a nação a uma armadilha econômica e consequentemente a uma potencial crise sem precedentes na história desse país.

As contradições começam no próprio ideal da política "social-populista" (com discurso socialista e ações populistas) que de fato governa a Venezuela, pois segundo Hugo Chávez a Revolução Bolivariana, que teve início em 1999 com sua chegada ao poder, está baseada no ideário do libertador Simón Bolívar, o qual na verdade defendia as idéias liberais, que tinham caráter muito mais democráticas do que socialista. Por outro lado, a força política do atual presidente não vem dos ideais propostos, mas sim de um gigantesco subsídio financeiro, ou seja, o apoio ao seu governo é comprado internamente com os programas sociais multibilionários que lhe permite arregimentar fiéis seguidores entre a classe pobre venezuelana, e externamente na América Latina através de empréstimos e apoio financeiro a campanha de políticos alinhados com seus interesses. Todo esse processo de compra de apoio político é financiado pela exportação de petróleo, praticamente o único componente da economia venezuelana, por meio da estatal de petróleo PDVSA que foi colocada a disposição dos interesses políticos de Hugo Chávez.

Enquanto o preço das commodities estavam super valorizados no mercado internacional, no caso da Venezuela o petróleo, a força política de Chávez estava em alta. Agora com a crise financeira internacional os preços despencaram (petróleo bruto: do pico a US$145/barril em julho de 2008, para o piso de US$45/barril em janeiro de 2009), e os impactos na balança comercial foram imediatos, e intensificados pela redução no volume de produção, tendo em vista que durante o período de abonança não foram feitos os investimentos necessários no processo de produção, em detrimento dos gostos com a compra de apoio político. Apesar da recente recuperação do preço do petróleo no mercado internacional (em torno de US$68/barril), os estragos nos fundamentos macroeconômicos já foram sentidos através dos repetidos déficits comerciais e fiscais. Existe uma forte pressão sobre o cambio (a taxa oficial está fixa a 1USD = 2,15BvF, e negociada no mercado paralelo a 5BsF), e também uma aceleração inflacionária (IPC oficial a 18% aa, e real estimado a 45% aa). A restrição a saída de capitais, aliado as desapropriação de ativos e nacionalização de empresas multinacionais, vem praticamente eliminando o investimento estrangeiro, o que dificulta ainda mais a situação do balanço de pagamentos desse país.

É nesse cenário sombrio, que culminou com um humilhante pedido de empréstimo ao Brasil, que encontram-se os fundamentos macroeconômicos do país vizinho, o que nos leva a crer que o colapso econômico-financeiro, ansiosamente aguardado pela população local, é uma questão de tempo, uma verdadeira bomba-relógio Bolivariana que só pode ser desativada com uma forte retomada do preço do petróleo, o que não é esperado no curto prazo. Sem os petrodólares para continuar a financiar a compra do apoio político necessário para se manter no poder, a Revolução Bolivariana de Hugo Chávez deve terminar com um pedido de asilo político a Cuba, e enfim uma retomada do processo democrático na Venezuela.