VELÓRIO - O CASO DA VIÚVA
Por LEANDRO VIEIRA BASTOS | 18/05/2014 | ContosVELÓRIO – O CASO DA VIÚVA
Na capela onde todos aguardavam a chegada da urna com o corpo para ser velado, pairava um imenso sentimento de desolação e tristeza em todos ali presentes.
Embora ele não gostasse e sempre que podia evitava ir a cemitérios e velórios, pois aquele sentimento fúnebre e sombrio me trazia uma enorme angustia e desconforto.
Eu estava ali, porque fora obrigado pelo chefe, pois o falecido era um dos maiores clientes da empresa em que ele trabalhava. Fora designado para representar a mesma, sendo incumbido de prestar as condolências fúnebres a todos os familiares em nome da empresa.
Em meio a todas as pessoas ali presentes, ainda não havia conseguido identificar a viúva e os filhos do falecido.
Decidiu então, ir à lanchonete para tomar um café e fumar um cigarro enquanto aguardava o rabecão chegar.
A aflição e desconforto o incomodavam diante daquele ambiente. Estipulou então que assim que o corpo fosse colocado na sala mortuária, ficaria ali apenas para prestar as condolências, cumprindo sua obrigação e daria o fora daquele lugar.
Passado algum tempo, o veiculo com a urna, estacionou próximo à entrada da capela e o corpo foi retirado, sendo levado para dentro para ser velado e posteriormente sepultado.
Em sua mente, aquela situação era absurda. As pessoas ficavam ali todas consternadas e chorando, cultivando o sofrimento e a dor por varias horas diante do caixão ate o sepultamento.
Via todo àquele ritual e a única definição que tinha para tudo aquilo era de extremo masoquismo.
Após o caixão ser aberto, a comoção de todo o ambiente.
Muitas lagrimas e lamentações, seguido de um choro compulsivo. A aglomeração em pequenos grupos do lado de fora as pessoas comentavam algumas estórias sobre o morto. Todos conversavam em tons baixos, quase aos sussurros, respeitando a memoria e a dor dos familiares ali presentes.
Aproximou-se da urna e ficou ali por alguns minutos vendo o defunto sem pensar em nada especifico sobre o mesmo.
De repente, uma grande comoção e tristeza contaminaram a todos diante do choro desconsolado da viúva que chegara naquele instante.
Preferiu deixar o recinto por alguns instantes e retornar posteriormente para prestar as condolências à viúva, pois estava sufocado com tudo aquilo a sua volta.
Algum tempo depois, quando as coisas já estavam um pouco mais calmas, retornou ao interior da capela com o intuito de externar sua tristeza e nome da empresa junto à viúva e os filhos e tão logo o fizesse, deixaria aquele ambiente mórbido e frio.
Ao se aproximar da viúva e abraça-la, consolando toda sua dor, não pode deixar de sentir o cheiro adocicado de seu perfume. Algo de estranho lhe acontecera naquele exato momento em que seus braços envolviam a mulher.
Uma espécie de arrepio envolveu todo o seu corpo. Aquela sensação estranha e ao mesmo tempo excitante mexeu com toda a sua sensibilidade masculina, causando uma volúpia e uma descontrolada atração pela viúva. O desejo de possui-la movido pela excitação irracional e absurdamente louca.
Permaneceu ali abraçando a mesmo por um breve instante. Sentiu uma imensa e insana vontade de permanecer ali naquele lugar abraçando aquela mulher e a consolando enquanto ela choramingava em seu ombro.
Desejou os pêsames aos filhos que ali também se encontravam e se afastou por alguns metros e ali ficou parado, em pé, diante do morto.
Começou então a olhar e analisar cada detalhe daquela mulher que havia lhe despertado uma enorme compulsão sexual, da qual jamais sentira ate então durante toda a sua vida.
Abatida, com os olhos vermelhos e fundos, os cabelos desajeitados e a expressão facial de enorme sofrimento, tudo isto, não era capaz de se sobressair diante de toda a beleza e o ar de requinte cuja vaidade imperava tornando-a extremamente sedutora e atraente.
Não se conteve. Deslizou seus olhos de forma lenta e sedutora por todo o corpo daquela mulher que de forma totalmente inexplicável, mexeu com seus desejos mais íntimos. Tornozelos bem torneados, coxas grossas e maciças. Quadril e busto simétricos, seios fartos e insinuantes, bunda grande e gostosa.
Imaginou como seria ter aquela mulher nua em sua cama, sentindo sua pele macia, seu cheiro, seu corpo escultural. Percorreria com sua língua por toda aquela beldade em cada parte do seu corpo delicioso e bem cuidado de forma carinhosa e maliciosa. Enquanto ele esbanjava toda a sua perspicácia e habilidade, ela tomada completamente pelo desejo e pelo prazer, puxaria seus cabelos apertando a cabeça dele por entre suas coxas suspirando prazerosamente enquanto ele a chupava insaciavelmente.
Ao retornar de seus delírios fantasiosos, retomando o controle de seus pensamentos, percebeu que a mulher o olhava de forma profunda, como se soubesse tudo o que ele estava imaginando durante seus momentos de devaneios.
Ocorreu-lhe que o extraordinário poderia estar acontecendo, pois percebeu que a mulher demonstrava certa atração por ele olhando fixamente em seus olhos.
Por mais que quisesse, não conseguia sair dali perdendo completamente o desejo de ir embora daquela cerimonia fúnebre.
A troca de olhar com a viúva, passou a ficar mais intensa e insinuante. Ele sentia que se ela pudesse atiraria em seus braços agarrando-o e o beijando descontroladamente.
Desviou o olhar da mulher e olhou para o cadáver por alguns instantes. Começou a imaginar como poderia ter sido a vida daquele homem quando ainda estava vivo. Com certeza sua vida teria sido agraciada por momentos de intensos prazeres ao lado daquela mulher tão magnifica.
A fisionomia do homem, agora gélido e sem vida, expressava um ar de tranquilidade. A impressão que eu tinha era a de que ele havia vivido tudo muito intensamente. Morrera em paz.
Sem que eu percebesse, a viúva aproximou-se de mim enquanto eu estava ali de frente o morto pensando em tudo aquilo. Pegou em minha mão de forma consistente, como se quisesse me passar um sinal ou transmitir uma mensagem.
Ela tirou os óculos escuros, olhou em meus olhos e perguntou:
- Tenho a impressão de que o conheço de algum lugar, mas não sei de onde. Você mantinha relações comerciais com o meu falecido marido?
Ele percebeu então que a mulher segurava sua mão como se não quisesse soltar. Sentiu suas mãos macias e finas, bem cuidadas, as unhas bem feitas, na mão esquerda a aliança e no mesmo dedo um anel de brilhante.
Respondi então a viúva, olhando fixamente em seus olhos:
- Sim claro. A nossa empresa realizava diversas transações comerciais com seu finado marido. Seus negócios com nossa instituição sempre foram de grande expressividade. Infelizmente durante todos estes anos, não tive o prazer de conhecê-la pessoalmente.
Naquele instante, pude perceber nos olhos da mulher, embora lacrimejantes, certo ar de desejo por mim. Ficamos nos olhando fixamente por alguns instantes. A vontade que tive naquele momento era de agarra-la em meus braços e possui-la ali mesmo loucamente tamanho era o meu desejo por ela.
Um amigo de seu finado marido, neste momento se aproximou e a puxou pelo braço, lhe abraçando prestando-lhe as condolências e lastimando-se com a perda do amigo. Conversaram por alguns instantes e logo a viúva pediu licença para ir ao toalete.
Neste momento, já se dirigindo rumo ao toalete, ela se virou e lançou um olhar fulminante em minha direção. Provocantemente ela parecia implorar para que eu a seguisse até o mesmo.
Impulsivamente sai imediatamente atrás daquela mulher que me fez perder completamente o juízo. Situação esta que me fazia sentir um enorme frio na barriga, pois jamais em minha vida havia acontecido algo parecido.
Adentrou em uma sala bastante reservada, somente onde os parentes mais próximos do falecido tinham acesso e logo a frente avistou a mulher parada em uma porta que dava acesso ao banheiro. Ela virou e lançou um olhar fulminante em sua direção. Sem levar em consideração qualquer tipo de consequência diante daquele ato de extrema loucura, entrou atrás da mulher e trancou a porta.
Já do lado de dentro, tanto ele quanto ela, completamente tomados pelo intenso desejo um pelo outro, não perderam tempo. Ele a segurou pelos braços dando um beijo caliente arrancando suspiros.
Os dois completamente embalados pelo desejo e possuídos por uma insanidade eróticamente avasalladora, despiram-se e movidos pela enorme atraçao, se entregaram ao prazer ali mesmo no chão. A pesar da escassez do tempo que durou o ato libidinoso, foi o suficiente para saciar ambas as partes.
Ao final da louca e totalmente improvável situação de una relação amorosa completamente surreal, eles vestiram suas roupas, abriram a porta do toalete e saíram em direção a lados opostos.
Leandro Vieira
17/05/2014