VEÍCULO LEVE SOBRE TRILHOS...
Por Paulo Ricardo de Souza Rodrigues | 22/10/2016 | EngenhariaVEÍCULO LEVE SOBRE TRILHOS: JUSTIFICATIVAS E PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO NO TRANSPORTE PÚBLICO EM MANAUS
RICARDO, Paulo[1], VINICIUS, Moura[1], VINICIUS, Moura[2]
RESUMO
As cidades são obras inacabas. Cresceram em função de várias características e são o futuro do planeta urbano. Devem ser vistas como oportunidade e não como problema. Inovações de transporte público devem entrelaçar o balanço da mobilidade urbana acontecida nas grandes cidades. Neste contexto, Manaus não é exclusiva e encara um problema de anos na política urbana de transporte. Atualmente, o sistema de transporte coletivo de Manaus é configurado em um sistema radial em que boa parte das linhas de ônibus tem como trajeto o centro de comércio. A proposta deste artigo é justificar o modal Veículo Leve sobre Trilhos como eixo principal de ligação Norte-Sul; ao norte, o bairro de Santa Etelvina e ao sul, o centro de comércio.
1 INTRODUÇÃO
As cidades de maneira geral apresentam desenhos urbanos e características variadas de acordo com o seu desenvolvimento social, espacial, ambiental e cultural. Essas características podem ser interpretadas como agentes que impulsionam ou põem ritmo na construção das cidades. Para Carlos Leite (2012) “As cidades são o maior artefato já criado pelo o homem.” Para Dorinethe Bentes (2012) “a cidade deixa de ser vista como um fenômeno espontâneo e passa a ser entendida como resultados de interesses humanos” (BENTES, 2012. p.24). Características peculiares em que podemos, portanto, dizer que “as cidades são entidades sociais criadas por processos econômicos, sobretudo o comércio” (BECKER, 2013. p. 16)
No processo de urbanização, o Brasil, o ritmo de crescimento das cidades aconteceu de forma rápida e dissipada. Tal crescimento estende-se por vários momentos do século XX, por exemplo, como na metade da década de 50 com o Plano de Metas, no governo de Juscelino Kubtscheck (1956 – 1961). “São Paulo, por exemplo, pode ser considerada a maior do hemisfério sul, reunindo numa mesma mancha territorial 65 municípios e 22 milhões de habitantes (12% do Brasil)” (LEITE, 2012. p. 23).
Nas grandes metrópoles brasileiras, o dinamismo pode ter sofrido influências externas, sob a ação de políticas internacionais, no caso das metrópoles, o dinamismo é devido a fluxos inter-regionais e internacionais e a uma indústria moderna, no caso singular de Manaus. (BECKER, 2013). O comércio e a indústria caracterizaram crescimentos fortes socioeconômicos e de expansão de urbanização, como diz SILVA (2009), Manaus, por exemplo, cresceu através de dois surtos de urbanização. O primeiro foi vivenciado com o ciclo da Borracha, de 1850 a 1910 e o segundo, da nova política econômica que promoveu a instalação de um polo industrial, a Zona Franca. (SILVA, 2009) Esses dois ciclos econômicos recaem de investimentos que estão ligados à reprodução da força de trabalho, centrado em serviços urbano como: a habitação e o transporte público, por conseguinte, elementos de reprodução e acesso ao trabalho.
A mobilidade urbana em Manaus é um nó a ser desamarrado. O transporte público urbano é problemático e histórico, pois não acompanhou o crescimento da cidade e não cumpre seu papel democrático atendendo todas as classes sociais. Projetos como o Sistema Expresso e a proposta do Monotrilho para cidade destacaram-se como vértice de solução para o transporte coletivo manauara em gestões públicas anteriores.
Atualmente, o sistema de transporte público de Manaus é configurado em um sistema radial em que 47,7 % (PlanMob, 2015) dos ônibus têm como o destino final o centro da cidade, o que por razões, pode acarretar a uma elevada superposição das linhas entre a oferta e a demanda.
Nesse contexto, pensando na forma de transporte urbano mais eficiente e confortável para a realidade manauara, o presente artigo propõe o modal VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) como uma opção no transporte público. O objetivo não busca traçar uma solução definitiva para o transporte público de Manaus, mas sim propor que este modal de transporte complemente a rede de linhas de ônibus e seja ferramenta de desenvolvimento urbano em Manaus.
O Veículo Leve sobre Trilhos é um modal ferroviário de transporte público que atende a uma oferta de transporte de média capacidade. Geralmente não tem via exclusiva e circula normalmente ao nível da rua, dependendo da segregação da via. No Brasil, as cidades do Rio de Janeiro e Santos, já apresentam o sistema com êxito. Tanto Rio de Janeiro e Santos, as regiões onde o trajeto do VLT foi designado passaram por uma reestruturação urbana e reorganização dos sistemas de transporte e na mobilidade.
2 METODOLOGIA
A natureza deste trabalho contemplará os dois métodos, quantitativo e qualitativo. Quantitativo, pois não se preocupa em apenas mensurar dados ou expressá-los numericamente, mas também em levar consideração traços subjetivos e particularidades do contexto do transporte público manauara.
Este trabalho assume os fins explicativos e aplicáveis. É explicativa, pois tem como objetivo esclarecer o VLT como eixo troncal de integração Norte-Sul, sobretudo, como o impacto positivo de desenvolvimento orientado pelo o transporte público onde poderão causar. É aplicável, pois é motivada pela necessidade de resolver problemas concretos da ineficiência do serviço de transporte urbano manauara no fator socioambiental.
Para quantificar a demanda de passageiros no corredor de transporte proposto, relata-se que o trabalho assume os seguintes aspectos: documental e bibliográfica.
Documental, pois se faz necessário de analisar a investigação de documentos existentes como Plano de Mobilidade de Urbana de Manaus (PlanMob)
Bibliográfica, pois esclarece a veracidade dos fatos elencados. Esse estudo é sistematizado e desenvolvido com base em artigos, revistas, dissertações, teses de doutorado e publicação de livros técnicos.
Por fim, para melhor visualização, os dados pesquisados foram expressos em gráficos, tabelas, desenhos e mapas configurados pelos os programas Excel e Sketchup.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Transporte público urbano
O transporte público merece uma análise especial, dada a sua importância para a maior parte da população nas grandes cidades.
[...] podem assumir várias formas, dos modestos ônibus aos elegantes sistemas de trem e metrô. O que todos os sistemas de transportes de massa têm em comum é o fato de conectar destinos de grande importância ao longo das principais rotas e dessa maneira servirem ao maior número possível de usuários (WALL, 2012. p. 109)
Por isso percebe-se o caráter universal deste sistema e nesse sentido Duarte aponta as principais características do transporte coletivo: “[...] deve ser um provedor, eficaz e democrático, de mobilidade e acessibilidade urbana. Para o desenvolvimento de projetos destes sistemas, deve – se analisar o uso do solo, políticas de planejamento urbano e de qualidade ambiental.” (DUARTE et al. 2012. p. 57)
Assim, os meios de transporte públicos são indutores de desenvolvimento urbano. No desejo de garantir eficiência e qualidade, melhorias na utilização de espaço público, qualidade do ar, sustentabilidade energética e principalmente acessibilidade universal, urge investir no transporte coletivo com planejamento e gerenciamento eficazes. Opções de transporte não faltam, sejam sobre asfalto ou trilhos, bem como as técnicas necessárias. É perceptível que o grande gargalo na eficiência nesta área passa pela má gestão da coisa pública. Pois capacidade técnica não é o ingrediente principal, mas sim, espírito e motivação política para fazer acontecer.
3.2 Transporte público urbano em Manaus
Com uma população estimada em 2.057.711milhões (IBGE, 2015), a cidade de Manaus cresceu majoritariamente e o transporte coletivo não acompanhou esse ritmo. Com uma frota de automóveis crescente e o uso indiscriminado destes, somado a ineficiência do serviço de transporte público, a cidade sofre com pesadas consequências, na mobilidade de transporte de passageiros e de cargas.
Nas últimas décadas, tornaram-se perceptíveis as dificuldades que os gestores vêm enfrentando para amenizar o caos que se tornou o sistema viário de Manaus. (BAGNASCHI, 2012) Segundo o DENATRAN, Manaus conta com 340477 automóveis, de um total de 650650 veículos no ano de 2015. A figura 01 mostra a quantidade de veículos no município nos anos de 2011, 2013 e 2015.
Figura 01: Quantidade de veículos na cidade de Manaus. Fonte: Denatran (2015)
Além disso, segundo o próprio DENATRAN (2015) de 2005 a 2015 houve um aumento de 42% de crescimento de veículos motorizados particulares. Esse tipo de sistema de mobilidade de transporte - por automóveis - registram deseconomias em níveis de tráfego, congestionamento, poluição e desigualdade no espaço viário, na medida em que consideramos o tempo de viagem e o consumo de combustíveis.
De qualquer forma, com tantos veículos particulares motorizados nas ruas para transportar tão poucas pessoas, faz-se necessário reestruturar o modo como o sistema viário está sendo utilizado (BAGNASCHI, 2012)
Na contrapartida, no inicio dos anos 2000, surge o projeto de sistema BRT defendido pela gestão do prefeito Alfredo Nascimento (1997-2004) com a pretensão de ligar a zona norte ao centro da cidade. Tal projeto se chamava “Expresso”, porém, com inconsistência logo ficou inviabilizada por falhas, manutenção de veículos e vias da passagem. Conforme Souza (2009), o sistema era inconsistente sob vários aspectos de implantação e improvisos, destacando:
A má qualidade do asfalto do corredor, que não resistiu as peso dos veículos e foi constantemente reparado durante em que os períodos foram utilizados; a impossibilidade de assegurar exclusividade do corredor central aos ônibus do sistema, visto que este sistema continuou convivendo e dependendo dos ônibus convencionais que continuara rodando e parando pela a direita da via. (SOUZA, 2009)
Por outro lado, o ponto positivo de “legado” deste sistema foi o aumento de número de linhas alimentadoras (linhas que não necessitam ir ao centro de comércio) e a construção e revitalização de três terminais de integração.
[...]