Variáveis envolvidas na doação e não doação de órgãos e tecidos para transplante.
Por NZPS | 25/07/2012 | SaúdeVariables involved in the donation and did not donate organs and tissues for transplantation.
Nara Zanely Pimenta da Silva1, Tamires Santana Rios2.
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo listar algumas variáveis que acabam por influenciar a aceitação ou a recusa na doação de órgãos e tecidos. Foi realizado um estudo de referências bibliográficas, evidenciando-se que o conhecimento da população em geral sobre o assunto ainda é muito restrito, insuficiente e impregnado de crenças. A partir da análise da bibliografia, podem-se listar fatores que interferem positivamente na doação, como por exemplo, a maioria das religiões, a realização do desejo de um familiar, a assistência da equipe de saúde oferecida ao potencial doador e o altruísmo. Como fatores que podem influenciar negativamente a falta de conhecimento é o fator mais relevante, seguido de ignorância sobre o conceito de Morte Encefálica (ME). Apesar do empenho do Governo e Associações voltadas para o tema na tentativa de elevar o número de doadores efetivos esses valores continuam muito abaixo para suprir a realidade das filas de espera do país.
PALAVRAS-CHAVE: Doação de órgãos e tecidos, transplante, morte encefálica.
1 Acadêmica do 7º semestre do curso de graduação em enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras-BA.
2Acadêmica do 7º semestre do curso de graduação em enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras-BA.
ABSTRACT: This article aims to list some variables which ultimately influence theacceptance or refusal to donate organs and tissues. We conducted a study of bibliographical references, evidencing that the knowledge of the general population on the subject is still very limited, insufficient and steeped in beliefs. From the literature review can list factors that affect positively on giving, like most religions, the wish fulfillment of afamily, the health care team offered the potential donor and altruism.Factors that can negatively influence the lack of knowledge is the most important factor, followed by ignorance about the concept of brain death (BD). Despite the commitment of the government and associations focused on the topic in an attempt to increase the number of effective donors remain well below those values to meetthe reality of queues in the country.
Key words: Organ donation and tissue, transplantation, brain death.
Introdução
A substituição de órgão ou tecido de um indivíduo para outro através de ato cirúrgico é denominado transplante1. Utilizado quando não existe outro método de tratamento ou cura. 2 O transplante é a última alternativa terapêutica a ser considerada para muitas doenças, objetivando assim a melhora na qualidade de vida de quem recebe esse órgão.1 Pessoas portadoras de doenças crônicas incapacitantes e ou em estágio avançado esperam nesta terapêutica uma resposta positiva para seu problema.3
Basicamente, são conhecidos três tipos de transplantes: o autotransplante, o intervivos e o de doador falecido. 4 Todos com a mesma finalidade de salvar vidas.2
O autotransplante dá-se por procedimento médico que utiliza de estrutura do próprio organismo vivo, para suprir necessidade em outro segmento anatômico do mesmo paciente, por exemplo, os enxertos. 5 Esta modalidade depende do consentimento do próprio indivíduo, tendo registrado em seu prontuário médico ou, se este for juridicamente incapaz, necessita da autorização por escrito de um de seus pais ou responsáveis legais.6
Já o transplante entre vivos ocorre quando um indivíduo doa, por exemplo, parte do fígado, pâncreas ou mesmo um de seus rins ou pulmão. Este tipo de doação ocorre principalmente entre familiares, fato esse que acaba possivelmente reduzindo as chances de rejeição do órgão pelo organismo do receptor.1 Para que este tipo de doação ocorra é necessário que o doador seja juridicamente capaz, e ou estar autorizado pelos pais; gozando de boa saúde e que tal procedimento não cause comprometimento físico ou mental, algum tipo de mutilação ou deformidade; É permitido doar apenas órgãos duplos e com capacidade regenerativa.6
A terceira forma de transplante ocorre quando há a substituição de um órgão afetado por outro em boas condições, proveniente de um doador falecido.6 A captação destes tecidos e órgãos destinados a transplante só poderá ocorrer após a emissão de laudos comprobatórios de morte encefálica (ME) através da realização de exames complementares e de acordo com a faixa etária, que atestem a ausência de atividade elétrica, metabólica e ou perfusão sanguínea cerebral. 7
Este diagnóstico obrigatoriamente só poderá ser atestado após duas avaliações com intervalo de 6 horas, por dois médicos não figurantes da equipe de remoção e transplante. E ainda assim a captação só poderá realizar-se se permitida pelo representante legal.6
Atualmente o Sistema único de Saúde (SUS) tem o maior e mais completo programa de transplante de órgãos do mundo sendo uma referência, onde cerca de 95% das cirurgias são realizadas gratuitamente. Os cuidados dispensados ao paciente transplantado incluem uma assistência integral realizando exames periódicos e a distribuição de medicamentos pós-transplante.8
Em 2011 no Brasil foram realizados 23.397 transplantes. Se comparado ao ano de 2001 ocorreu um aumento de 124% onde o número efetivo de cirurgias deste tipo foi somente 10.428. Outro recorde foi o aumento de 63% no número de doadores de órgãos relacionado ao ano de 2003. Chegando à marca de 2.207.9
Apesar de em uma década as estatísticas apontarem um grande avanço no número de transplantes o processo de doação de órgãos intimamente relacionado a esse aumento continua com o índice baixo de doadores, apresentando uma média de 11 por milhão de pessoas (pmp).10
O Governo Federal investiu 1,3 bilhão em recursos para este setor no ano passado9, porém a fila de espera para doação de órgãos parece ser interminável. 11 Avaliar e identificar os motivos e conhecimento da população em geral sobre este tema torna-se imprescindível, já que existe a necessidade eminente de aumento no número de doadores.12
Objetivo: O presente artigo tem como objetivo descrever alguns fatores que influenciam e potencializam a recusa ou a aceitação de doação, tanto por parte da população em geral quanto para a família deste, que é responsável por assinar o termo de consentimento.
Métodos: Trata-se de um artigo de revisão de literatura, composto por pesquisas onde foram analisados, entrevistas, leis, sites do Governo Federal, revistas e 26 artigos. Dentre estes foram utilizadas 19 literaturas onde os temas variam entre doação de órgãos, transplante, mitos e conhecimento sobre a temática, publicados desde o ano de 1997 até o ano de 2012. Material esse que contribuí para a discussão e relevância do objetivo no presente artigo apresentado.
Discussão
Segundo as Diretrizes Básicas para captação e retirada de múltiplos órgãos e tecidos da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) a política de doação de órgãos segue um roteiro que se inicia com a detecção de um doador em potencial, a confirmação e diagnóstico de Morte Encefálica segundo a resolução nº 1.480/97 do Conselho Federal de Medicina (CFM), além de abordagem e consentimento do familiar, seguida de emissão de declaração de óbito, retirada dos órgãos, efetivação do transplante e avaliação de sucesso da terapêutica. 13
Edvaldo Leal de Moraes relata abaixo os fatores que influenciam favoravelmente a doação:
Manter os familiares sempre informados e esclarecidos sobre a evolução do quadro do ente querido; o bom relacionamento entre a equipe multiprofissional e a família; a assistência médica oferecida ao paciente durante a internação e, principalmente, o conhecimento prévio da vontade do falecido. Os trabalhos mostram que as razões para doar ou não são complexas. O altruísmo, embora importante, não parece ser suficiente para motivar a doação de órgãos. O conhecimento das preferências do paciente - em vida - é importante no momento de decidir. Além disso, o suporte emocional, a assistência oferecida aos familiares e a informação sobre o processo de doação parecem ser essenciais para encorajar a atitude da doação. 14
Um fator que influencia consideravelmente é que a maioria das religiões considera a doação um ato de generosidade com o próximo que possivelmente pode evitar mortes e diminuir sofrimento. 13
Pesquisas evidenciam que atualmente a população compreende sobre a relevância e a necessidade de doações de órgãos, contudo as realmente efetivas não atingem um número satisfatório para suprir a demanda. 15
Existem vários questões que englobam a temática, e fazem com que as campanhas de doação acabem por não surtir tanto efeito na prática como se espera.16
Segundo o manual de diretrizes básicas para captação e retirada de múltiplos órgãos e tecidos da ABTO as causas que mais determinam a não efetivação de potenciais doadores são: Falta de notificação, questionamento da credibilidade de benefícios da doação, desconhecimento do conceito de Morte Encefálica (ME), e da vontade em vida do familiar acarretando em recusa, causas religiosas, além de problemas estruturais como falta de equipamentos e falta de transporte adequado, entre outros. 13
O processo de doação, desde a abordagem do familiar ou responsável à retirada do órgão e realização do transplante é em suma bastante complexo. 17 O tema ainda representa um dilema, a temática está permeada de questões éticas, legais e socioculturais. Prefere-se ignorar ou evita-se falar sobre o assunto por falta de informação ou medo de falar de morte, por ser o tema bastante íntimo. 15
Um dos fatores que mais influenciam negativamente no processo de doação de órgãos e tecidos para transplante é a ignorância por parte da comunidade em geral sobre ME, já que o conceito de morte definido pela cessação irreversível das funções cardíaca e respiratória é mais impregnado na cultura popular.18 Com isso a falta de conhecimento sobre ME aliado ao fato do coração permanecer ativo e o corpo quente, leva o familiar a acreditar que o ente continua vivo alimentando assim a esperança de recuperação do mesmo, não compreendendo que em algumas horas o organismo vai paralisar e o quadro de ME é irreversível.19
Uma questão fundamental que pode influenciar a aceitação ou recusa nesse processo de doação de órgãos e tecidos para transplante esta ligada ao desejo do falecido relatado em vida, sendo esta a única opção do sujeito de se tornar um doador, pois na maioria das vezes essa opinião é desconhecida pelo familiar. Quando esse fato é conhecido potencializa a doação, onde o familiar tenta realizar o “ultimo desejo” de seu ente. 15 A família deve receber assistência contínua durante esse processo, pois é o elo principal entre a vontade do doador e a efetivação da doação.19
Considerações finais
Contudo, acredita-se que a falta de conhecimento, a questão religiosa, os mitos e a família influenciam de forma direta na opinião dos sujeitos no momento de decidir positivamente ou negativamente para que ocorra um processo de doação de órgãos e tecidos para transplantes.
A falta de informação é fator que mais interfere negativamente neste processo, ficou bastante notável diante da revisão bibliográfica onde o maior medo da população em autorizar a doação de órgãos se refere a dúvida se o paciente está realmente morto.
Acredita-se que as campanhas realizadas e transmitidas através dos meios de comunicação, não estão sendo suficientemente eficientes para modificar a visão dos sujeitos quanto à temática, isso reflete no número de doadores efetivos por milhão de habitantes que ocorreu no ano de 2011 onde os valores ainda continuam baixos.
Diante do exposto os enfermeiros devem atuar também como educadores, tentando mudar a opinião pública quanto aos conceitos errôneos que se sobrepõe ao desejo de salvar vidas. A população precisa adquirir informações sobre a temática antes da necessidade eminente de autorizar a doação, pois o momento em questão é rodeado de sofrimento e pode induzir o familiar a uma resposta negativa a doação. Essa educação continuada poderá elevar o número de doações no país. E posteriormente o número de pacientes na fila de espera irá diminuir.