Variação de cor entre lotes de tinta

Por Marcelo Candido da Silveira | 05/06/2015 | Tecnologia

 Cuidados para a avaliação visual de amostras coloridas

O método para avaliar a cor e a aparência de uma amostra é único para cada aplicação. Muitos aplicativos, incluindo têxteis, tintas e plásticos, exigem avaliações visuais para serem preparadas, além de medições instrumentais. As avaliações visuais são realizadas para identificar inconsistências notáveis entre a cor de uma amostra e a cor padrão, bem como correlacionar a percepção visual humana com os valores numéricos de cor, pois numericamente podemos ter diferenças pequenas que visualmente podem ser grandes e motivos de reprovação quando precisamos manter uma tonalidade homogênea entre lotes. Em ambientes de produção, preparar essas avaliações no início do processo de cor ajuda a minimizar o retrabalho e os custos adicionais mais tarde e devem ser levados em consideração o que o cliente espera e precisa em relação a variação entre lotes.

Antes de cada avaliação visual, as amostras a serem avaliadas devem ser condicionadas, se necessário, preparadas e apresentadas da mesma forma em cada avaliação. Isto inclui a moagem, mistura, ou corte de amostras da mesma maneira, colocação das amostras no mesmo recipiente, e usando a mesma quantidade de amostra ou tamanho para cada avaliação. Durante cada avaliação visual, condições padronizadas são exigidas para manter a consistência e precisão, incluindo iluminação, observador e condições de visualização. Listados abaixo estão as melhores práticas gerais para alcançar os resultados mais precisos durante essas avaliações visuais.

  • Condições de iluminação
  • Condições do Observador
  • Visualizando as Condições

Mudanças no mercado que resultam em alterações nos conceitos de aceitação de diferenças de tonalidade entre lotes

No passado tínhamos a fabricação de bens de consumo que tomaremos como exemplo um automóvel, com características mais limitadas no que se referem aos materiais utilizados em sua fabricação e podemos notar em automóveis antigos que a sua carroceria era toda composta por aço e os demais detalhes como para-choques e espelhos que em sua maioria se apresentavam em peças cromadas. Uma carroceria era normalmente pintada toda montada e quando existiam peças pintadas em separado por serem do mesmo substrato utilizam a mesma tecnologia e até o mesmo lote da tinta aplicada. 

Assim com o surgimento de outros materiais e uma busca para reduzir o peso dos automóveis foram introduzidos na fabricação de peças o plástico. E dependendo da peça que trocou o aço pelo plástico foi necessário o uso de materiais diferentes para resistir á temperatura, torções e demais variações que podem ocorrer com o carro em movimento.

Podemos então afirmar que os automóveis atuais utilizam o aço e diversos tipos de plásticos na montagem final do mesmo. Esta variedade em materiais utilizados fizeram com que se fossem introduzidos diferentes tipos de tinta para atender a estes diferentes materiais e suas características especificas. Hoje dispomos de tintas com características de cura diferentes principalmente para atender a particularidades de cada substrato.

Então com a introdução de peças com substratos diferentes precisamos ter tintas para substratos diferentes, porém estas peças precisam atender ao que chamamos de matching de cor e que podemos de maneira mais simples e clara definir que independente do substrato e tinta utilizada não devemos ter variação de cor entre elas.

Somado a esta inovação do mercado no uso de diversos materiais na fabricação de peças, nos deparamos no investimento massivo das empresas no setor de designer com o intuito de conquistar clientes com estilos e conceitos na combinação de formas, acessórios e cores tornando o bem de consumo mais atrativo.

Dentre as ideias dos designers podemos notar que as vezes temos em sua maioria das vezes para-choques e espelhos que devem ser uma continuação da carroceria e as vezes temos espelhos, frisos e rodas que seguem o mesmo padrão de cor. 

Diante de um mercado cada vez mais competitivo temos a venda de bens de consumo por decisões econômicas e pela conquista do cliente em pequenos detalhes. E por um outro lado com a entrada de novas empresas e com uma possibilidade de poder comprar carros importados com uma maior facilidade temos uma competição acirrada e as montadoras tradicionais tiveram que evoluir na oferta de acessórios e opções de acabamento em seus automóveis que resultaram em focar em um mercado que já não podemos chamar de POPULAR. Estes novos veículos possuem acessórios internos com multimídia e interatividade com uma combinação especial de acessórios e acabamentos externos que somente tínhamos em carros de luxo. E naturalmente os preços destes veículos aumentaram muito e por este simples detalhe a exigência em qualidade cresceu mais ainda.

Segue um grande alerta para não cair em uma grande armadilha: 

Embora tenhamos equipamentos sofisticados para a avaliação de cor, muitas vezes desprezamos o que o gráfico de cor nos indica e desconsideramos um fator importante. 

Podemos atender a tolerâncias numéricas que resultam em números que expressam a cor do lote testado, porém quando avaliamos o produto final visualmente podemos ter uma grande diferença de cor. Fato este é resultado simplesmente de não definir uma tolerância numérica associada a um quadrante fixo de cor.

De maneira mais simples precisamos analisar o padrão e definir como o exemplo a seguir:

  • O padrão apresenta um tom Vermelho Amarelada que no gráfico resulta em um Delta A positivo (vermelho) e Delta B positivo (amarelo)
  •  E se a amostra avaliada apresentar o Delta A e B negativos terá uma amostra que comparada ao padrão visualmente estará Verde Azulada

Assim no desenvolvimento e nas definições das especificações de controle devemos considerar que algumas cores devem estar associadas a um quadrante fixo que assim poderemos garantir que as variações entre lotes estarão minimizadas e principalmente aceitáveis. Com esta especificação poderemos ter carrocerias e para-choques harmônicos e o matching de cor entre acessórios tais como espelhos, frisos e rodas garantidos.

Espero que possa ter levado um pouco de conhecimento e criado uma oportunidade para a redução de reclamações e reprovações de lotes de tintas e outros materiais de sua empresa e se houver interesse em maiores detalhes e ou se quiser implementar estes conceitos em equipes de Desenvolvimento de Materiais e Controle de Qualidade  posso indicar os contatos das empresas utilizadas em minha pesquisa para desenvolver este trabalho em sua empresa.

Marcelo Candido da Silveira - Bacharel em Química

25 anos desenvolvendo trabalhos na área de pintura