Vandré, o cipó de aroeira na opressão

Por Edson Terto da Silva | 01/02/2010 | Arte

Vandré, o cipó de aroeira na opressão

 

Edson Silva

 

 

Gravada por Vandré em 1968, ano que entrou em vigor o Ato Institucional no. 5 (AI 5), que praticamente baniu a cultura inteligente do Brasil, a música Aroeira prometia um acerto de conta contra os opressores de trabalhadores brasileiros, muitos dos quais, brancos ou negros, nem se davam  conta de quanto eram explorados. Na música, Vandré personifica-se em um cavaleiro viajante, vindo de longe, fazendo as contas que deveriam ser cobradas dos opressores, que tiravam vantagem do trabalho praticamente escravo dos operários.

 

O artista também se personifica na figura do marinheiro que sabe governar seu barco, fazendo assim uma alusão ao povo brasileiro, que não tinha direito ao voto direto, mas que podia sim escolher e governar o próprio destino. O ano era 68, o Brasil só viria ter novamente uma eleição presidencial direta em 1989, portanto 21 anos depois e, no ano de 2002, os brasileiros elegeriam um homem vindo da pobreza, um operário forjado nas fábricas e na liderança sindical, Luiz Inácio Lula da Silva, o governante, que bem poderia personificar o marinheiro da música “Aroeira” de Vandré.

 

Era a volta do cipó no lombo dos poderosos, que tiveram que engolir a vontade do povo, que seria repetida com a reeleição de Lula. Não estamos dizendo que a música seja alusão direta ao presidente eleito, até porque ela foi composta nos anos 60, época em que Lula sequer tinha iniciado sua carreira de sindicalista e muito menos de político, com a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), que ocorreria em 80. Mas as músicas e a coragem de Vandré extrapolavam tempo e espaço como se fossem realmente boas novas e profecias para todo um povo destinado a conquistar com determinação, raça e muita luta a liberdade e uma vida melhor.    

 

Tinha sido assim com tantos povos oprimidos, não podia ser diferente para nós, a maioria dos brasileiros, que amam sua pátria, os justos direitos, o bem estar, a democracia... Em suma, Vandré falava claramente em música o que o povo era obrigado a calar nas ruas. Era possível ver nele semblante revolucionário como o de Ernesto Che Guevara, imortalizado em foto. Era nosso guerrilheiro das palavras, sem arma, sem boina estrelada e sem barba, mas de uma coragem ímpar disparada em saraivadas de palavras, rimas e ritmos. Quem acompanhar a obra de Vandré verá que em muitas músicas ele dispensa acompanhamento de instrumentos para declamar seu recado, sua mensagem. Apresentando: “Aroeira”.

 

“Vim de longe, vou mais longe/Quem tem fé vai me esperar/Escrevendo numa conta/Pra junto a gente cobrar/No dia que já vem vindo/Que esse mundo vai virar/Noite e dia vêm de longe/Branco e preto a trabalhar/E o dono senhor de tudo/Sentado, mandando dar.
E a gente fazendo conta/Pro dia que vai chegar/Marinheiro, marinheiro/Quero ver você no mar/Eu também sou marinheiro/Eu também sei governar/Madeira de dar em doido/
Vai descer até quebrar/É a volta do cipó de aroeira/No lombo de quem mandou dar”

 

Edson Silva, 47 anos (8.1.62), é jornalista da assessoria de imprensa da Prefeitura de Sumaré.

 

Email: edsonsilvajornalista@yahoo.com.br