Vandré fez da tristeza a maior fantasia
Por Edson Terto da Silva | 01/02/2010 | Arte
Vandré fez da tristeza a maior fantasia
Edson Silva
Acredito que muitas das crianças modernas não sejam acostumadas a ouvir antigas fábulas infantis, que eram contadas por nossos pais, avós e tios. O caso de João e Maria, por exemplo, uma das muitas fábulas dos Irmãos Grimm, que conta a saga de duas crianças perdidas numa floresta, mas espertas, elas enganam a bruxa malvada e se safam de serem devoradas. O mito Vandré conviveu com feras, fantasmas e bruxas da repressão política no próprio país que amava e por isso mesmo o queria ver livre, sem censura.
Na música “João e Maria”, dois nomes tão comuns no Brasil dos anos 60, país hoje dominado por nomes com estrangeirismos, Vandré coloca os personagens nas ruas. E olha que eram proibidas até reuniões públicas naquela época. Mas, na grande festa popular do poeta, todos podiam ter esperanças tão puras quanto as de criança. Por isso mesmo, no dia daquela festa a tristeza era conclamada para ser apenas uma fantasia. A composição é de 1968 e Vandré assina “João e Maria” com o parceiro Hilton Accioly.
Accioly, que voltaria fazer parcerias com Vandré em outras canções, seria o autor, em 1989, de um dos mais marcantes jingles políticos da história do país, o “Lula Lá”. Era a primeira vez que o atual presidente eleito e reeleito Luiz Inácio Lula da Silva concorria à Presidência. Na TV, o jingle foi cantado por um entusiasmado coro formado por dezenas de artistas, entre os quais expoentes da Música Popular Brasileira (MPB), como é o caso de Chico Buarque de Hollanda. Era o Brasil que sempre acreditou na força do povo, sem medo de ser feliz. Segue a música “João e Maria”, ela é de 68, mas não lembra a campanha Diretas Já, de 84 ?
“Quem sabe o canto da gente/ Seguindo na frente/ Prepare o dia da alegria/ A gente sorria/ E tudo era só alegria/ Na mesma esperança/ Ficava de novo criança./ Na grande avenida/ A vida perdida/ O encontro marcado/ No claro da lua/ Tudo ficou tão contente/ Porque minha gente/ De novo era povo na rua./ E o grande cordão/ Cantava o refrão que crescia/ Da simples canção/ Que era de João e Maria/ E o povo na rua/ Pensou que era sua/ De tanto que andava/ Atrás de qualquer alegria./ E na cantiga de João/ Que era só ilusão/ Jogou a esperança que havia./ A vida perdida/ É como a mulher mais querida/ Levando João/ E o povo na mesma avenida/ E um dia de festa/ Só mesmo podia/ Fazer da tristeza/ A maior fantasia./ Quem sabe o canto da gente/ Seguindo na frente/ Prepare o dia da alegria.”
Edson Silva, 48 anos, é jornalista da assessoria de imprensa da Prefeitura de Sumaré.