UTILIZAÇÃO DE ISCA ATRATIVA PARA MOSCAS-DAS-FRUTAS EM POMAR DE GOIABA
Por Julio Cesar Galli | 28/08/2010 | Adm1. INTRODUÇÃO
As moscas-das-frutas são consideradas as principais pragas de pomares nas condições do Estado de São Paulo. Pertencem à ordem Diptera, família Tephritidae. Em pomares de goiaba são mais freqüentes espécies do gênero Anastrepha e ocorre pequena quantidade, cinco a dez por cento, da espécie Ceratites capitata (Wied,1824).
O gênero Anastrepha é conhecido por mosca Sul-Americana. A asa é transparente, com 5,8 a 7,5 mm de envergadura. Quase todo o comprimento da asa é ocupado por uma figura amarela, na forma da letra "S ", estendida até o ápice, e uma figura na forma de "V" invertido na borda superior da asa. Os adultos de C. capitata medem de 4 a 5 mm de comprimento por 10-12 mm de envergadura e são de coloração predominantemente amarela.
Considerando que as moscas-das-frutas atacam inúmeras frutas comerciais e silvestres, haverá uma tendência de sucessivas gerações, pois sempre haverá hospedeiros para o desenvolvimento nas entressafras. Os frutos atacados tornam-se impróprios para o consumo in natura. Uma forma simples de controle cultural, em pequenas áreas, é o ensacamento dos frutos ainda verdes. Como controle químico, GALLO et al.(2002) recomendam que, quando os frutos estiverem ainda verdes, seja feita pulverização de fenthion, suspendendo-se a aplicação trinta dias antes da colheita. GALLI & SENÔ (2000) indicam a possibilidade de uso do fenthion na forma de "benzedura", em associação com iscas tóxicas, como forma de controlar as moscas-das-frutas e preservar parte da entomofauna benéfica (parasitóides e predadores). Usando-se o inseticida misturado com uma substância atrativa (melaço de cana-de-açúcar ou proteína hidrolisada de milho atraente) é possível aplicar com eficiência em apenas um quadrante da copa da goiabeira, conseguindo-se uma economia significativa de inseticida. Na maior parte das vezes utiliza-se de iscas atrativas apenas para o monitoramento das moscas nos pomares.
2. ARMADILHAS PARA MONITORAMENTO DE PRAGAS NOS POMARES
Na atualidade o monitoramento de insetos constitui uma ferramenta fundamental para qualquer sistema de manejo integrado de pragas e manejo de ecossistemas. O monitoramento populacional permite o acompanhamento da flutuação da praga em determinada área e também a detecção de espécies exóticas.
De acordo com MALAVASI & ZUCCHI (2000), as principais finalidades do monitoramento podem ser:
a) Pesquisa científica de identificação e distribuição de espécies;
b) Certificação de uma região ou país quanto à ausência de uma determinada espécie-praga em área livre;
c) Programa de erradicação de uma espécie praga;
d) Programa de manejo integrado de pragas.
Na fruticultura o monitoramento em pomar de goiaba é realizado principalmente para captura de moscas-das-frutas, do ponto de vista quantitativo e qualitativo (abundância e distribuição). Certamente muitos são os fatores envolvidos em sua captura, como a eficiência do atrativo (alimentar ou sexual, o tipo de armadilha e a localização no campo, segundo MALAVASI & ZUCCHI 2000).
3. PRINCIPAIS TIPOS DE ARMADILHAS E DE ATRATIVOS
As moscas-das-frutas adultas na fase da pré oviposição são atraídas por substâncias açucaradas (melaços e sucos) e por proteína hidrolisada de milho (produto comercial Moscatex diluído de dois a cinco por cento). A armadilha tipo McPhail é a mais utilizada para coleta de adultos de Anastrepha spp. e C. capitata. É confeccionada em plástico ou vidro transparente e contém um receptáculo onde deve ser inserido o atraente alimentar. Essa armadilha deve ser posicionada na copa da planta, no lado da sombra, há cerca de um metro e meio do solo. Existe também uma armadilha específica para a captura de C. capitata (armadilha modelo Jackson), que é confeccionada em papelão parafinado ou plástico e tem como isca o feromônio trimedlure (ácido terc-butil-4-cloro-2-metil-ciclohexanocarboxílico) vendido como Trimedlude p.c., específico para a captura de machos (BARBOSA et al.2001). Algumas armadilhas podem ser facilmente confeccionadas utilizando-se de garrafas plásticas com orifícios laterais. Como atraente, pode ser usado o produto comercial Moscatex, a base de proteína hidrolisada de milho ou suco açucarado de goiaba.
Como alternativa para a avaliação da entomofauna presente em pomar de goiaba, utilizam-se armadilhas adesivas amarelas. Neste caso o atrativo é a côr amarela e a armadilha serve também para a captura de parasitóides e predadores de importância no manejo ecológico de pomares. Tais armadilhas capturam qualquer tipo de inseto voador e podem permanecer na copa da planta por quinze dias ou mais, sendo resistentes a chuvas e a raios solares. Tais armadilhas têm sido empregadas com sucesso para a captura de moscas-das-frutas, psilídeos, besouros rendilhadores, etc. (PAZINI, 2005; BALDAN, 2007).
4. UMA RECEITA CASEIRA PARA ATRATIVO À BASE DE GOIABA
Um suco açucarado de goiaba é um bom atraente para ser usado em armadilhas tipo McPhail ou armadilhas confeccionadas com garrafas plásticas (embalagens de álcool ou vinagre). A polpa da goiaba madura deve ser fervida em água e açúcar, na proporção de 400 mL de água para 200 mL de açúcar cristal para cada conjunto de deis frutos grandes. Após fervida, essa mistura pode ser peneirada e acondicionada em garrafas plásticas de 500 mL para armazenamento em congelador. Quando for iniciar o monitoramento, o conteúdo de cada garrafa deve ser diluído em água para formar 1 L de suco que seria suficiente para cerca de 10 armadilhas (adaptação de PAZINI, 2005).
5. MOSCAS-DAS-FRUTAS: ASPÉCTOS GERAIS A CONSIDERAR
É do conhecimento científico que as moscas-das-frutas pertencem à ordem Diptera, subordem Brachycera, família Tephritidae. As espécies de moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil pertencem a quatro gêneros: Anastreha, Bactrocera, Ceratites e Rhagoletis (ZUCCHI,2000). Dentre estes, o gênero Anastrepha e Ceratites ocorrem em pomar de goiaba. Tais moscas podem causar prejuízos econômicos no cultivo da goiaba. As epécies Anastrepha fraterculus (Wiedemann, 1830), A. sororcula Zucchi, 1979 e A. obliqua (Macquart,1835) são as que mais infestam a goiabeira, ocorrendo assim infestação simultânea em um mesmo fruto por essa espécie e por A. fraterculus (BARBOSA et al. 2001).
O ciclo evolutivo das moscas-das-frutas já é bem conhecido. Elas completam o desenvolvimento através de quatro estágios: ovo, larva,pupa e adulto. Todas as fases de larva apresentam a cor branco-creme, variando as tonalidades. Os ovos apresentam a forma elíptica; as larvas são ápodas e co a cabeça retrátil; as pupas apresentam diversas fases, a partir de uma forma ovóide até assemelhar-se com a mosca adulta, dentro de seu pupário. Os adultos apresentam uma ampla gama de variação fenotípica, principalmente entre os diferentes gêneros (SALLES, 2000).
As moscas colocam os ovos no mesocarpo do fruto, de onde eclodem de dois a seis dias, originando as larvas. Essas entram no mesocarpo ou polpa,fazendo galerias em direção ao centro, sendo que este estádio varia de nove a treza dias. Após esse período, essas larvas caem no solo, onde se tornam pupas por um período de dez a doze dias, no verão, e até vinte dias no inverno. A fêmea inicia a postura após doze dias de acasalamento. O ciclo evolutivo completo é de trinta e um dias, podendo se alongar por até dez meses, colocando neste período, cerca de oitocentos ovos (GALLO et al., 2002).
Saliente-se que as armadilhas com atrativos alimentares para moscas-das-frutas nunca devem ser usadas como medida de controle de infestações ("combate") pois as moscas sempre irão preferir os frutos. Tais armadilhas só devem ser usadas com o intuito de monitoramento.
6. REFERÊNCIAS
BALDAN, U.S. Estudo de danos de Costalimaita ferruginea Fabricius, 1801 (Col.: Chrysomelidae) e de Triozoida limbata Enderlen, 1918 (Hem.: Psyllidae) em pomar de goiaba através de três escalas de notas e captura de artrópodes predadores. 2007. 82f. (Trabalho de Graduação em Ciências Biológicas) ? Universidade Estadual Paulista. Jaboticabal. Faculdade de Ciências agrárias e Veterinárias, 2007.
BARBOSA, F. R.; SOUZA,E.A.; SIQUEIRA, K.M.M.; MOREIRA, W.A.; ALENCAR, J.R.; HAJI,F.N.P. Eficiência e seletividade de inseticidas no controle de psilideo (Triozoida sp.) em goiabeira. Pesticidas: Revista de Ecotoxicologia e Meio Ambiente, Curitiba, v.11, p. 45-52, 2001.
GALLI, J.C.; SENÔ, C.A.K. Distribucion de enemigos naturales de Anastrepha (Dip.: Tephritidae) em huertos de Psidiun guajava L. com programacion de dos sistemas de pulverização de fenthion. In: XXII CONGRESSO DE ENTOMOLOGIA DE CHILE, Valdivia- Chile, 2000.
GALLO,D.; NAKANO,O.; CARVALHO, R.P.L.; BAPTISTA,G.C.; BERTE FILHO, E.; PARRA, J.R.C.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIN, J.D.; MARCHINI,L.C.; LOPES,J.R.E.; OMOTO,C. Entomologia Agrícola, Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p.
MALAVASI, A.; ZUCCHI,R.A. Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil-Conceito básico e aplicado. Ribeirão Preto, Holos, 327p., 2000.
PAZINI,W.C. Estratégias de manejo integrado e influência dos inimigos naturais e de fatores meteorológicos sobre Triozoida limbata (Enderlein, 1918)(Hem.: Psyllidae) em goiabeira. 2005. 111f. Tese de Doutoramento, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista-UNESP, Jaboticabal-SP. 2005.
SALLES,L.A. Biologia e ciclo de vida de Anastrepha fraterculus (Wied.). In: MALAVASI, A.; ZUCCHI, R.A. Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil ? Conceito básico e aplicado. Ribeirão Preto, Holos, 327p., 2000.
ZUCCHI, R.A. Taxonomia. In: MALAVAZI, A.; ZUCCHI, R.A. Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil- Conceito básico e aplicado. Ribeirão Preto, Holos, 327p., 2000.