Uso de aditivos na produção de silagem

Por Alberto Jefferson da Silva Macêdo | 13/03/2017 | Adm

Uso de aditivos na produção de silagem

 

Aditivos são substâncias adicionadas às forragens ensiladas, no intuito de reduzir perdas ou aprimorar o processo fermentativo. De acordo com a classificação de McDonald et al. (1991), a ureia é um aditivo inibidor de deterioração aeróbica, controlando a deterioração causada pelo ar quando o silo é aberto, assim como também é um aditivo nutriente, tendo em vista a melhoria do valor nutritivo da silagem (Santos et al., 2010).

As perdas de nutrientes devido aos processos fermentativos que ocorrem no material ensilado acarretam à necessidade do uso de aditivos que contribuam na redução destas perdas, além de estimular fermentações desejáveis e enriquecer o produto final (Neumann et al., 2010), aumentando a eficiência do processo (Santos et al., 2010).

 A aplicação de aditivos na silagem pode afetar o consumo de matéria seca e intervir no valor nutritivo da silagem, assim como na digestibilidade dos seus nutrientes. Além dessas características, destaca-se a importância do aditivo em induzir a fermentação desejável e inibir os processos de fermentação indesejável. Os aditivos químicos inibidores ou preservadores são substâncias que atuam no controle das reações bioquímicas da silagem. Os aditivos inibidores funcionam sem distinção em todos os processos na ensilagem, agindo sobre microrganismos e fermentações indesejáveis, como o crescimento aeróbio ou proteólise secundária. Entre os principais aditivos químicos inibidores, destaca-se a ureia (CH4N2O) (Neumann et al., 2010).

O uso da ureia em silagens está direcionado à sua transformação em amônia, pois na presença de umidade e por meio da ação da urease (enzima catalisadora) das plantas e microrganismos, sofre hidrólise, produzindo duas moléculas de amônia e uma de dióxido de carbono (Neumann et al., 2010).

A adição de ureia resulta em valores de pH e teor de ácido lático adequados para silagens, devido ao poder tampão da amônia evitando queda demasiada do pH. Pretende-se com a utilização da ureia, manter o pH da silagem próximo a 4,0, quando acontece a inibição das bactérias do gênero Clostridium e enterobactérias, ao passo que evita a proliferação de leveduras, e dessa forma, a produção de álcool no silo (Vieira et al., 2004), beneficiando a qualidade da silagem tratada. Além disso, a ureia tem a capacidade de delongar fermentações secundárias na silagem após a exposição ao oxigênio por ocasião da abertura dos silos (Neumann et al., 2010), pois a amônia é utilizada na mudança de rota metabólica das leveduras (Schmidt et al., 2007).

O teor de nitrogênio amoniacal é um dos parâmetros na avaliação da qualidade da silagem, pois representa a degradação proteica durante a fase fermentativa indicando as perdas de proteína verdadeira (Neumann, 2007). Devido à rápida redução do pH e ausência de fermentações clostrídicas, a fração amoniacal do nitrogênio total é consideravelmente baixa em silagens de plantas com alto conteúdo de açúcar, mesmo com adição de ureia (Schmidt et al., 2007).

A utilização da ureia como aditivo químico em silagens de sorgo, em proporções adequadas, pode promover menores perdas fermentativas e efeito tóxico à população de leveduras e mofos (Neumann et al., 2010; Santos et al., 2010) e, consequentemente, reduzir a produção de etanol e as perdas de MS e carboidratos solúveis (Schmidt et al., 2007), além de apresentar efeito positivo na composição bromatológica da silagem, incrementando o valor nutritivo do produto final, já que o sorgo apresenta baixos teores de proteína bruta (Neumann et al., 2010).

Além disso, essa adição não interfere negativamente nos processos fermentativos (Vieira et al., 2004; Fernandes et al., 2009). Corroborando essa informação, Fernandes et al. (2009) avaliaram a inclusão de até 5% de ureia com base na matéria seca de silagens de sorgo e observaram variação no pH de 3,73 a 4,15, portanto não interferindo negativamente na acidificação da massa ensilada.

Siqueira et al. (2007), avaliando silagens de cana-de-açúcar tratadas com aditivos químicos (ureia, benzoato de sódio e NaOH) associados ou não a inoculantes bacterianos (P. acidipropionici + Lactobacillus plantarum e L. buchneri) observaram que as silagens tratadas com ureia apresentaram maiores teores de N-NH3, sendo a princípio indesejável, porém, consistiu em vantagem, em virtude do controle de leveduras na ensilagem pela presença de amônia em consequência do uso da ureia.

Pesquisas como a de Schmidt et al. (2007), demonstraram o aumento no teor de proteína da silagem, como resultado da alta recuperação do nitrogênio aplicado por meio da ureia, podendo atingir até 77% de recuperação. A recuperação do nitrogênio é uma característica positiva da ureia, tanto do ponto de vista nutricional quanto econômico. Entretanto, o uso indiscriminado e sem o conhecimento técnico devido, como a dosagem (Fernandes et al., 2009) e os métodos de aplicação, pode acarretar em efeitos negativos no processo de ensilagem, quanto ao desenvolvimento de microrganismos benéficos à fermentação, como as bactérias láticas (Neumann et al., 2010).

Algumas pesquisas vêm sendo realizadas com o intuito de avaliar o efeito de aditivos microbianos compostos por bactérias lácticas heterofermentativas, capazes de produzir ácido acético, além do ácido lático, como forma de controlar fermentação alcoólica e melhorar a estabilidade aeróbia de silagens.  Lactobacillus buchneri tem sido utilizado como bactéria láctica heterofermentativa na composição dos inoculantes para silagens de cana-de-açúcar, milho e sorgo. Tais pesquisas se apoiam na hipótese de que o ácido acético tem efeito antifúngico, o que reduziria a proliferação de leveduras durante o processo de ensilagem, e, por conseguinte, minimizaria fermentação alcoólica, controlando as perdas durante a ensilagem (Mendes et al., 2008; Fylia, 2003; Reis et al., 2008).

Avaliando a adição de Lactobacillus buchneri isoladamente ou em combinação com Lactobacillus plantarum, Fylia et al. (2003) observaram que a adição de Lactobacillus buchneri aumentou a estabilidade aeróbia de silagens de milho, quando aplicados na quantidade de 106 unidades formadoras de colônia por grama de forragem fresca.

Kleinschimit & Kung Jr. (2006), em estudo de meta-análise de 43 experimentos, avaliou o efeito de Lactobacillus buchneri sobre as perdas e estabilidade aeróbia em silagens de milho, capins e de grãos úmidos, resumindo os efeitos do inoculante sobre o pH, concentração de ácido lático e desenvolvimento de mofos e leveduras. No entanto, o efeito presente em todos os estudos foi o aumento da produção de ácido acético.

É provável que a combinação entre ureia como substância controladora do pH das silagens de sorgo e Lactobacillus buchneri como liberador de ácido acético, resulte no controle do desenvolvimento de mofos e leveduras em silagens de sorgo forrageiro, minimizando a fermentação alcoólica durante o processo fermentativo e aumentando a estabilidade aeróbia da silagem. Além disso, associada à incorporação da ureia na massa ensilada, melhoraria o valor nutritivo das silagens.

 

Referências

FERNANDES, F.E.P.; GARCIA, R.; PIRES, A.J.V. et al. Ensilagem de sorgo forrageiro com adição de ureia em dois períodos de armazenamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.11, p.2111-2115, 2009.

FYLIA, I. The Effect of Lactobacillus buchneri and Lactobacillus plantarum on the fermentation, aerobic stability, and ruminal degradability of low dry matter corn and sorghum silages. Journal of Dairy Science, v.86, n.11, p.3575-3581, 2003.

KLEINSCHIMIT, D.H. & KUNG JR., L. A meta-analysis of the effects of Lactobacillus buchneri on the fermentation and aerobic stability of corn and grass and small-grains silages. Journal of Dairy Science, v. 89, N. 10, p. 4005-4013, 2006.

MCDONALD, P.J., HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. The biochemistry of silage. 2. ed. Marlow: Chalcombe, 1991. 340p.

MENDES, C.Q.; SUSIN, I.; NUSSIO, L.G. et al. Efeito do Lactobacillus buchneri na fermentação, estabilidade aeróbia e no valor nutritivo de silagem de cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p. n.12, p.2191-2198, 2008.

NEUMANN, M.; MÜHLBACH, P.R.F.; NÖRNBERG, J.L. et al.  Características da fermentação da silagem obtida em diferentes tipos de silos sob efeito do tamanho de partículas e da altura da colheita das plantas de milho. Ciência Rural, v.37, n.3, p.847-854, 2007.

NEUMANN, M.; OLIBONI, R.; OLIVEIRA, M.R. et al.  Aditivos químicos utilizados em silagens. Pesquisa aplicada & Agrotecnologia, v.3, n.2, 2010.

REIS, R.A.; SCHOCKEN-ITURRINO, R.P.; ALMEIDA, E.O. et al. Efeito de doses de Lactobacillus buchneri “cepa ncimb 40788” sobre as perdas nos períodos de fermentação e pós-abertura da silagem de grãos úmidos de milho. Ciência Animal Brasileira, v.9, n.4, p.923-934, 2008.

SANTOS, M.V.F.; GÓMEZ CASTRO, A.G.; PEREA, J.M. et al. Fatores que afetam o valor nutritivo das silagens de forrageiras tropicais. Archivos de Zootecnia, v.59, p.25-43, 2010.

SCHMIDT, P.; MARI, L.J.; NUSSIO, L.G. et al. Aditivos químicos e biológicos na ensilagem de cana de açúcar. 1. Composição química das silagens, ingestão, digestibilidade e comportamento ingestivo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.5, p.1666-1675, 2007 (suplemento).

SIQUEIRA, G.R., REIS, R.A.; SCHOCKEN-ITURRINO, R.P. et al. Perdas de silagens de cana-de-açúcar tratadas com aditivos químicos e bacterianos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.6, p.2000-2009, 2007.

VIEIRA, F.A.P.; BORGES, I.; STEHLING, C.A.V. et al. Qualidade de silagens de sorgo com aditivos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.56, n.6, p.764-772, 2004.