"USA FOR ÁFRICA"

Por Sérgio Russolini | 22/04/2009 | Crônicas

 

 

We are the world...” Assim cantaram os músicos norte-americanos, nos anos 80. Uma canção que entoava uma mensagem de paz às crianças africanas, em meio à guerra em alguns países daquele continente.

Foi lindo, contagiante... Há vinte e quatro anos atrás. Quando criança, lembro que todos da minha geração tinham o LP “USA for ÁFRICA” que constava a assinatura dos músicos na capa. Para adquirir tamanha façanha era preciso ir até o Banco do Brasil, enfrentar uma fila inenarrável e depositar o valor numa conta bancária, cujo destino, seria a África.

Naquela época fiz inúmeros trabalhos escolares com este tema: tradução do Inglês para o Português, Interpretação de textos, Filosofia Contemporânea, História, Geografia, Sociologia e outros mais que não me recordo.

Havia pessoas que cantavam esta canção nos programas de calouros de televisão, rádio... No dia-a-dia, via pessoas com o figurino do Michael Jackson, Bob Dylan, Cyndi Lauper, Bruce Springgsteen... Era uma loucura! Quando não, os concursos de dublagens e imitações.

 Outros músicos influenciados pegaram o andar da carruagem e lançaram discos com a mesma temática “solidariedade”.  Aqui no Brasil houve esse apelo por parte de alguns artistas, relacionados à seca no Nordeste. Os Europeus liderados por Bono Vox, do U2, também lançaram um trabalho com os mesmos propósitos.

O mundo passava por situações emblemáticas. Foi uma década marcada por guerras que vararam a década seguinte, com matanças, e atrocidades, fomes, doenças e, principalmente a intolerância dos mais fortes, perante os mais fracos.

Voltando a canção norte-americana, com a arrecadação das vendas desse musical, muitas pessoas de nações carentes, até então desconhecidas, no coração da África, foram beneficiadas. Escolas, hospitais, saneamentos básicos, segurança, assistência social, foram criados e a partir daí, surgiram interesses mútuos, não só no universo artístico, mas de ONGs e alguns lideres políticos que passaram a enxergar nos famélicos a necessidade de atuarem com mais seriedade, respeito e sentimento humanitário.

Aquele tempo passou, aqueles artistas sumiram, aqueles países sobreviveram, aquelas crianças cresceram, o mundo mudou... Porem, o que não mudou foi à capacidade do ser humano em aceitar conviver com os mesmos erros do passado. No continente africano, os conflitos ainda persistem; na América e na Europa o que assusta é o terrorismo; no Oriente Médio, o fanatismo; na Ásia Oriental, o conservadorismo; as guerras ainda ditando as leis; as crises econômicas sempre avassaladoras; a pobreza avançando tempo após tempo assustando cada vez mais a condição humana do Século XXI.

 

Se aparecerão outros artistas tais quais aqueles de décadas atrás, que viam na música um apelo e um desejo de mudança, não sabemos, mas que, de alguma forma, influenciaram, naquele momento, o sentido de viver num mundo digno, pacífico e melhor para todos... Em parte eles contribuíram.

 Resta saber se as gerações futuras pensarão e agirão da mesma maneira.

 

 

Sérgio Russolini