Umbanda a Reconstrução de uma Religião em Construção

Por Pablo Araujo de Carvalho | 12/07/2015 | Religião

O titulo do texto nos incita de forma especulativa pelo seu caráter dúbio no que se refere a algo que esta em construção e sendo reconstruído, bastando saber se esta sendo construído é porque é algo novo e sendo assim não podemos reconstruir algo que ainda não foi construído. Esse titulo tem esse intuito de nos fazer refletir desde o nascimento da Umbanda aqui no plano material e até o ponto que se encontra hoje. Sabemos que a Umbanda surgiu do anseio de um agregado de espíritos encarnados e desencarnados que traziam certos dons mediúnicos esses encarnados e outros desencarnados que após retornarem para a pátria espiritual sentiam a necessidade de darem continuidade ao trabalho humano que realizavam quando em vida, levando o conforto, o amparo e a orientação aos seu pares encarnados que são seus irmãos na senda evolutiva encarnatória. Porem não encontravam uma via religiosa onde pudessem com seus dons mediúnicos incorporarem seus pares espirituais, para que amparados mutuamente pudessem se desenvolverem e cumprir seu destino e vivenciarem sua senda evolutiva que conduz ao divino Criador de tudo e de todos. Porem as duas vertentes religiosas espíritas e chamada de (espíritas) porque a base de seus cultos estão na crença de espíritos e na manifestação dos mesmos como seres e irmãos mais evoluído capazes de nos amparar em nossas evolução no corpo físico, não permitiam em seu cultos religiosos a manifestações desses espíritos e nem a permanência dos seus pares encarnados (médiuns) em suas instituições religiosas, porque esses segundo a suas doutrinas violavam seus dogmas. Pois bem, na religião de matriz africana de então o Candomblé, não se era permitido a incorporação de espíritos humanos, pois eram tidos como eguns não apto a acrescentarem nada a sua doutrina tendo em vista que esses por serem espíritos humanos desencarnados estavam no mesmo nível evolutivo que o nosso e somente o orixá é quem tinha vibrações superiores e estavam aptos a nos conduzirem. Na outra vertente espírita a kardecista, esses espíritos tal qual seus pares encarnados também não encontravam abertura para desenvolverem ali um trabalho edificante, pois naquele meio eram tidos como espíritos atrasados, a julgar pelo seu linguajar e forma de se manifestarem, eram tido como espíritos atrasados e desequilibrados que necessitavam de ajuda, pois nessa vertente espiritual imperava um certo elitismo e preconceito arraigado em nossa cultura e incutidos em nossa mente herança essa de um período colonial que distinguiam as pessoas por classes superiores, período este que parece que nunca terá fim devido ao reflexo que ainda hoje influencia e fomenta fortemente o preconceito, principalmente nas classes sociais, cor, credo e sexo. Pois bem, foi dessa recusa incansável, que a espiritualidade superior viu a necessidade de uma nova via religiosa onde pudessem amparar todos os espíritos encarnados e desencarnados em suas sendas e jornadas espirituais e evolucionistas. Pois se fomos gerados por Deus como centelhas divinas inconscientes, em nossa jornada evolutiva e espiritual devemos retornar ao Pai como centelhas divinas hiperconscientes, desenvolvendo toda nossa capacidade mental voltada ao amparo da evolução e da vida, tal qual como uma muda de uma arvore cumpre seu destino desde uma arvore em potencial (muda) ate tornar-se uma arvore frondosa capaz de gerar frutos onde muitos venham a saciar sua fome e procurarar um abrigo em seu leito. Percebe que nossa saga humana é de um dia caminhantes tornarmos caminhos ou sendas onde muitos possam evoluir, tal como exemplo nosso mestre Jesus, Budah e tantos outros que até hoje vibram no consciente das pessoas que os adotaram como vias evolutivas através das religiões por Eles inspiradas. Ma voltando ao assunto, foi dessa rejeição que nasceu a Umbanda fundada em 16 de novembro de 1908 pelo espírito Caboclo das Sete Encruzilhada junto de seu par encarnado o Saudoso Pai Zélio Fernandino de Moraes, tendo como mandamento irrevogável e sustentáculo da Religião de Umbanda, a máxima onde institui que “ Umbanda é a manifestação do espírito para pratica da caridade pura e gratuita, onde nada devera ser cobrado alem do respeito e amor para com o próximo”e o segundo foi “Com os espíritos mais evoluídos aprenderemos, aos menos evoluídos ensinaremos e a nenhum seja ele encarnado ou desencarnado renegaremos” tudo isso dito pela boca do espírito fundador da Religião de Umbanda. Pois bem , a Umbanda se expandiu de forma rápida como uma encantadora religião e grande via evolucionista, porem como toda semeadura religiosa, árdua foi sua fixação em solo brasileiro, pelos mesmos motivos que ainda hoje impera, (o preconceito e o medo). Se ela cresceu de forma horizontal, ficaram lacunas em suas raízes que a fundamentaria e daria amparo as suas praticas religiosas, ela cresceu de tal modo que se tornou um grande pronto socorro espiritual, onde os guias realizavam verdadeiro milagres com suas magias elementares usando de recursos naturais como banhos, ervas, pedras, oferendas que eles os espíritos tinham se iniciado e detinham um vasto conhecimento desses recursos porem guardados a sete chaves, aguardando a manifestação divina e a hora certa para que tudo isso fosse fundamentado. Como seus pares encarnados (médiuns) começaram a se regozijar dos júbilos realizados pelos guias espirituais, a espiritualidade encontrava cada vez mais dificuldades na abertura e explanação de determinados mistérios, forças espirituais e formas de trabalhos, que se a principio pareciam estranhas, tinham seus fundamentos a espera de serem abertos e humanizados. Esse período de aberturas de mistérios como: Exu, Pomba-Gira, Exu-Mirim e Zé Pilintra, linhas de trabalhos como Baianos, boiadeiros e marinheiros. Trouxeram grandes discussões e mazelas dentro do meio religioso Umbandista, e o mistério e a linha de trabalhos se impunham de forma natural, porem não sabiam explica-las e na falta de explicação, marginalizaram-nas tornando-as verdadeiro “calcanhares de Aquiles” onde outras religiões contrarias a expansão Umbandista ali encontrariam fortes pretextos para acanharem esse crescimento usando da própria ignorância e preconceito dos próprios Umbandistas para cercearem e marginalizarem o nascimento de uma religião. Nesse período foram acontecendo um êxodo dos Umbandistas para outras religiões na expectativa de melhor serem aceitos pela sociedade. Nesse período foi criada varias umbandas dentro da Umbanda, cada sacerdote adotou uma verdade relativa e pessoal em detrimento de uma verdade absoluta e universal que organizaria o culto e lhe daria força. Nesse período a Umbanda se dividiu em mantenedores da doutrina mais antiga e original que não permitia uma alteração mais acentuada em seu dogma, não acompanhando o pluralismo e a manifestação de novas linhas e forças espirituais que viriam se agregar. E outra que aceitava essas novas forças abertas no culto, porem sem explica-las a luz da razão. E uma terceira vertente que se ocupou de criar uma outra umbanda que negava as duas outras e ainda criticava de forma pejorativa a manifestação de linhas de trabalhos até então desconhecida, esta terceira umbanda procurava se apartar de todas outras, lançando fundamentos que não complementava os antigos e sim anulava-o . Essa vertente passou a disseminar que Exu fazia o Mal e também fazia o Bem , a dizer que pomba-gira era espírito femininos viciado e degenerado e que Zé Pilintra era espírito trevoso. Essa terceira vertente serviu de “cama” para que outras religiões mercantilistas e anuladoras da fé alheia, pudessem “deitar sobre a virgem e nova Umbanda e realizar um estupro de ordem moral e ética”. Esse foi o grande desserviço dessa terceira vertente umbandista, causando um êxodo de fieis umbandistas que confusos e incrédulos buscavam amparo em outras religiões que os recebiam condenando suas praticas anteriores como baixo espiritismo e como ações demoníacas. Com isso a Umbanda sofreu um denso retrocesso, porem a luz da estrela guia ainda brilhava no seio da Umbanda, os poucos que mesmo com essa confusão mantiveram-se fiéis aos ensinamentos orais de seus guias espirituais não se importando com o que falavam de suas praticas, perseveraram e no tempo certo como uma dádiva de Deus aos seus esforços em se manterem fieis e confiantes nos ensinamentos puros de seus guias, puderam descortinar o véu dos mistérios e foram desvendando fundamentos de suas praticas religiosas e das praticas de seus guias espirituais, foram compreendendo a Lei de Pemba e a magia dos pontos riscados, foram aprendendo os fundamentos por traz das oferendas e despachos realizados pelos seus guias, foram compreendendo o fundamento por traz do charuto do caboclo, por traz do cachimbo do preto-velho, e tudo foi se esclarecendo, o fundamento dos banhos de ervas e sua conexão com os chacras e os sete corpos, as sete linhas de Umbanda já explicava que tudo se originava em sete Sentidos Divinos e não em sete Orixás, e tanto todos os Orixás que não são só sete e todas as forças de trabalhos espirituais provinham desse Sete Sentidos Divinos que esta presente em tudo que por Ele o Divino Criador foi gerado. Essa é a quarta vertente de Umbanda que brota em um novo milênio, que vem não para anular preceitos e conhecimentos antigos e originais é sim para complementa-los e renova-los não anulando nem se impondo aos saberes antigos, porem renovando-os nos jovens corações Umbandistas sedentos de conhecimentos novos em detrimento a calunia, injuria e difamação que a Umbanda sofreu por sacerdotes despreparados que não compreendendo a manifestação de novas linhas de trabalhos, preferiram vilipendia-las relegando-as a graus de espíritos trevosos. Sacerdotes esses Ingênuos mais sedentos de poder quiseram impor sua vertente tentando anular manifestações de linhas de espíritos que hoje comprovaram sua grande necessidade, fundamento, função e força na Umbanda. Como ninguém consegue fechar algo divino e que foi pensado numa esfera superior, hoje se manifestão livremente nossos aguerridos guardiões Exus “a policia da Umbanda”, nossas alegres Pomba-Gira as “psicólogas da Umbanda” e nosso Amado Pai Zé Pilintra um grande resgatador de almas encarnadas e desencarnadas trazendo de volta em seus íntimos a energia para recomeçar e a alegria de viver. Tudo isso fundamentados em obras e mais obras literárias que vem trazer um pouco de luz do saber na ignorância que a Umbanda foi chafurdada. Essa quarta vertente poderia chamar-se de “Umbanda da reconstrução” que é a manifestação de médiuns e pessoas comprometidas e bem intencionadas que visa expandir o conhecimento da religião de uma forma racional fundamentada em mistérios divinos, apagando a nódoa do passado que sujaram a bandeira branca de Oxalá (Fé). Esse novo milênio da Umbanda reconstrói um novo arquétipo de Exu colocando-o no seu Devido e Divino lugar explicando que Exu só faz o bem e não se sujeita as nossas imperfeições e vícios, e que se tem alguém neutro nessa historia esse não é Exu que enquanto divindade conhece sua origem, meio e fim. Exu só faz o bem, pois é amparador da vida, e novamente se tem alguém neutro nessa história somos nós humanos que não sabemos do nosso fim usamos de meios ora positivo e ora negativos para conquistarmos o nosso fim invertendo valores imutáveis na criação. Se tiver um ser que ainda não descobriu a sua divindade esse ser somos nós que somos neutros por excelência e oscilamos em nossas ações ora boa e amparadora da vida e ora ruim e anuladora da vida em todos seus aspectos. Reconstruindo um novo aspecto e arquétipo para Pomba-gira diferente do que aqueles sacerdotes mal preparados construíram deturpando essa linha de trabalho. Hoje construímos um arquétipo da Pomba-gira como sendo uma verdadeira psicóloga da umbanda, a feminista por excelência que surgiu já no inicio do século 20 como linha de trabalho, contribuindo para todas as mulheres que eram subjugadas, violentada física e moralmente pelo machismo patriarcal que imperava nesse período. Pomba-gira era tudo que essas mulheres queriam ser e que interiorizavam esses desejos de se libertarem do julgo opressor e das humilhações de seus maridos que vistas por eles sempre em segundo plano tendo que suportar calada as traições e violência física imposta pela sociedade machista de então. E ela é a psicóloga de umbanda por esse motivo por exteriorizar esses sentimentos oprimidos e recalcados no intimo dessas mulheres que as procuravam nos centros de Umbanda, estimulando e encorajando a serem independentes, sustentarem seus filhos e buscar sua felicidade, por isso quando surgiu era malvistas porque seu arquétipo desafiava a hipocrisia dessa sociedade patriarcal revestida de um puritanismo hipócrita e sem sentido. Essa linha de espírito era malvista porque denunciavam essa violência contra a mulher, e Deus na sua infinita sabedoria abriu uma via religiosa onde esse grau da espiritualidade de Umbanda denominada Pomba-gira pudesse servir Deus servindo os seres em geral e as mulheres em particular com esse mistério estimulador e arquétipo libertador, não mais vendo a mulher em segundo plano ou raça inferior e nem aceitando que ela foi gerada da costela de um homem confirmando assim sua subserviência aos homens tendo a mulher sempre em segundo plano, e sim confirmar que perante Deus somos todos filhos e filhas igualmente gerados, amados e amparados por Ele, devolvendo a mulher o lugar que sempre foi dela não a frente e nem atrás, mas ao lado do homem. “Umbanda para um novo milênio, para uma nova consciência religiosa, reconstruindo algo que no ápice de sua construção teve sua bandeira branca da fé manchada pela ignorância, soberba e o despreparo de alguns sacerdotes que não vislumbraram a luz que existia no período escuro de suas praticas sacerdotais. E quando tudo parecia perdido o Arco-iris Divino novamente volta a brilhar e a luz do saber das coisas divinas se assenta em definitivo na Umbanda Sagrada fundamentada pelos seus mestres retirando da gaveta a joia rara e cristalina do conhecimento para que essa joia banhada pela luz do Sol (Fé) pudesse irradiar as suas sete cores se expandindo pelo mundo e se assentando em definitivo em tudo e em todos que se colocasse sob sua irradiação luminosa e amparadora” Viva a Umbanda, pois o seu Arco-íris não morreu, ele continua mais vivo do que nunca em nosso intimo, pois ao se dividir em muitos ele se assentou em definitivo na mente e no coração de seus filhos e filhas. Sarava Umbanda.