Uma teoria científica de tomada de decisão válida para todos os domínios de conhecimentos

Por Rabim Saize Chiria | 21/11/2017 | Filosofia

UMA TEORIA CIENTÍFICA DE TOMADA DE DECISÃO VÁLIDA PARA TODOS OS DOMÍNIOS DE CONHECIMENTOS

dr. Rabim Saize Chiria

Licenciado em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane; Moçambique

SÍNTESE

O Presente artigo tem como objectivo geral a apresentar duma forma resumida sobre a teoria científica na tomada de Decisão e, de modo particular esmiuçar os conhecimentos lógicos que a ajudarão na elaboração desta teoria científica na tomada de Decisão válida para todos os campos de conhecimento e actividade, através da aplicação das leis de raciocínio, cuja sua utilização tem sido acessível a um grupo exclusivo de consumidores, para falar como Cureva, eu diria que a sua utilização é acessível, apenas, aos intelectuais relevantes

1.Fundamentos Lógicos

Em princípio vou começar pela definição do conceito homem. Ora, como afirma Cureva é do domínio público que o homem é um animal racional, o ser vivo é algo natural, e não só o ser racional é algo natural, ou seja, estas características são inerentes ao objecto homem, pois a manifestação destes atributos é natural. Desta forma, a natureza humana determina a maioria das vezes, o carácter instintivo do comportamento do objecto do homem. Ou ainda, “o homem tem um comportamento natural antes que ele seja submetido ao rolhamento com os fenómenos, processos e outras formas de sua interacção como o meio circundante” (CUREVA; 2014: 3). Devido a sua natureza biológica, o objecto homem tende orientar-se pelo decurso dos fenómenos, sem constatar a essência dos mesmos. Ou seja, “o conceito homem carrega como sua guia no universo um enorme peso da fenomenologia e um peso (…) pobre de essenciologia” (Ibidem: 4).

Segundo Cureva (2014), o peso excessivo da fenomenologia prejudica a visão do homem sobre o mundo circundante nas suas três dimensões, pelo menos o mundo tridimensional. Neste contexto, pode-se afirmar que a fenomenologia excessiva impede ao homem de produzir o conhecimento intelectual, de produzir formas de sua melhor organização na produção de bens materiais, na gestão de recursos disponíveis, pese embora sejam escassos. Porém, “a essenciologia permite ao homem distinguir fácil e claramente as questões primárias das secundárias, confusão entre o fenómeno e essência, entre sabedoria e pseudo-sabedoria, entre a fé e o conhecimento” (Ibidem:3). No entanto, para que haja predomínio da “essemciologia” a característica de ser racional, ligada ao homem deve ser treinada e aperfeiçoada, sem no entanto, destruir a sua natureza humana.

Na visão de Cureva possuir raciocínio não significa raciocinar correctamente, por seu turno, raciocinar não significa igualmente possuir consciência. “O raciocínio correcto não é algo natural, não é algo inerente ao homem, mas sim é algo a aprender, a exercitar e a dominar uma boa parte dele” (Ibidem:5). Portanto, a firma Cureva que, o domínio total ou parcial do raciocínio correcto é a condição essencial para o exercício de tomada de decisões de toda a natureza do pelo homem. Ora, o autor faz uma pergunta sobre como construir uma teoria científica com a ajuda da qual o homem pode tomar uma Decisão segura?! Ou seja quais os fundamentos racionais de uma Decisão, comuns a qualquer domínio ou natureza dos objectos a que diga respeito a necessária Decisão? No que diz respeito a esse questionamento, o autor parte do seguinte pressuposto:

É visto em tudo que o homem tem limitações cognitivas ao tentarconhecer o mundo circundante porque é recebido frontalmente pelos fenómenos e não de imediato pela essência. Para que o homem possa se libertar da excessiva fenomenologia deve armar-se de uma teoria “essenciologica” que possa tirar da escravidão fenomenológica e assim partir de imediato para uma decisão fundamentada sob o ponto de vista “cienciológico” ou seja, há necessidade de advento de uma teoria científica de tomada de Decisão acerca dos objectos, fenómenos e processos” (Ibidem:6).

Segundo Cureva (2014), a escola profissional, o ensino superior universitário, o ensino superior não - universitário (…) não poderão proporcionar toda uma bagagem contendo toda ferramenta necessária para a actuação do homem de ciência e não só em todos os domínios do conhecimento e de actividade. Por mais que este homem assimile e transporte consigo grande volume e conhecimentos especializados jamais poderá esgotar e prever com precisão todas as situações ou problemas (…), pois, é do domínio público que tais situações problemáticas constituem um conjunto infinito a confrontar-se com um conjunto finito de conhecimentos especializados.

Torna-se necessário assim, que o homem de ciência e não só admita as limitações do conhecimento especializado, sua aplicação limitada e admita a necessidade de intercessão de conhecimentos adicionais ou saberes complementares ao conhecimento especializado de que é detentor (Ibidem: 5).

Assim afirma o autor, a necessidade de complementaridade de conhecimentos justifica-se muitas vezes pelo facto de nem sempre os graduados de uma determinada especialidade ou geral de um nível de ensino nem sempre poderem ocupar-se dos assuntos da sua formação, devido, a escassez de vagas nas instituições empregadoras. No entanto, nem todos os graduados de cursos universitários poderão estar enquadrados nas tarefas de ensino e investigação científica nas instituições de ensino superior e de pesquisa científica. A maioria dos graduados universitários poderá ocupar-se, por exemplo de negócios, exercer funções públicas nos órgãos de direcção do estado, de instituições públicas, privadas e mistas.

Desta forma, os graduados de diferentes especialidades devem estar preparados para actuar como competentes na área, por exemplo da análise de diferentes esferas da vida de uma sociedade e seus institutos, como consultores da estrutura da direcção nos sistemas dos poderes legislativos, executivos e judicial, nas organizações sociais, na esfera de negócios, como analistas nos meios de comunicação social, etc. O dirigente, o gestor são necessários na universidade, na loja, no hospital no museu, no ambiente familiar. A importância de direcção da sociedade é actualmente reconhecida, portanto deve ser considerada com um dos factores dos desenvolvimentos humano e do progresso da sociedade (Ibidem: 8). Neste contexto, a tomada de decisão é um dos problemas-chave na teoria e prática contemporânea de direcção dos sistemas e da sociedade. A tomada de decisão está presente em todas as funções de direcção e gestão. Pois, muitas pessoas estão, convencidas de que possuindo conhecimentos profissionais, possuindo certas experiências, tendo vontade ou coragem são capazes de tomar decisões boas.

Porém, Cureva afirma que a conquista da ciência contemporânea, sobretudo da psicologia demonstra que essa convicção é infundada. Ou seja não tem fundamento, visto que já foram descobertas os limites das possibilidades do homem na execução ou na realização de operações cognitivas complexa devido a limitação do volume da memória operativa, limitação da velocidade de assimilação e elaboração da informação, bem como outras limitações cognitivas.

Portanto, segundo o autor, isto determina uma certa conduta no comportamento do homem, condicional ao limite sensorial das formas de suas percepções da realidade, podendo ser induzido a erros graves na tomada de decisão. Em outras palavras, o volume da memória operativa do homem contém algumas limitações cognitivas, isto nos faz crer que as pessoas que têm experiência profissional, sobretudo dirigentes, gestores duma empresa, ou outros chefes que supervisionam uma determinada instituição, também podem cometer erros na tomada de decisão.

O médico estuda a medicina, o matemático estuda a matemática, o jurista estuda a jurisprudência, o historiador estuda a história, o biólogo estuda a biologia, o astrónomo estuda a astronomia, o politólogo estuda a politologia, o sociólogo estuda a sociologia (…), mas muitos desses estudiosos não recebem uma preparação sistemática de forma elementares ou a aprofundadas com vista a poderem realizar com fundamentos científicos Tomada de Decisão (Ibidem: 6).

Segundo o autor, os fundamentos ou bases para tomada de decisões são as Leis e formas de Raciocínio lógico. No entanto, as Leis e Formas de Raciocínio lógico são o objecto de estudo da ciência chamada “Lógica” (Ibidem: 7).

Segundo Guetmanova (1989: 8), a Lógica constitui instrumento do conhecimento com ajuda do qual o homem de ciência e não só a borda as diferentes formas de existência do mundo. A Lógica trata das leis, formas, regras e esquemas de raciocínio. Ela trata das noções ou do conceito, do juízo e das lições, assim como das diferentes operações mentais como as Definições, Demonstrações, generalizações, limitações e outras.

De acordo com Cureva (2014), alguns lógicos desenvolvem em grande medida o assunto do objecto da ciência lógica, suas implicações e grau de importância para a iluminação do homem de modo a evitar influência da fenomenologia e guiar-se pela “essenciologia”. Ou seja, para a distinção clara entre as manifestações externas dos objectos, fenómenos, processos e seu interior nuclear. Portanto, todo o profissional e não só envolvido no processo de tomada de decisão públicas e privadas não pode prescindir da Lógica porque o processo de assessorar a tomada de decisões é essencial a construção de ilações, a construção de demonstrações, da refutação, do conceito e do juízo, elementos essenciais, quer para a produção e a avaliação da validade do argumento, quer para avaliação da coerência das normas em que se funda o edifício da administração e direcção. No entanto, estes assuntos constituem o objecto exclusivo da lógica.

Na visão de Cureva (2014), sem o concurso da ciência da lógica, em que vai fundar uma Teoria Cientifica de Tomada de Decisão, os Homens envolvidos na tomada de decisões de qualquer natureza terão uma visão míope, ou seja, uma visão limitada, não possuindo capacidade de raciocinar independentemente e suficientemente flexível para lhes conferir um poder de orientação no processo de tomada dessas decisões e nas diversas situações da sua actividade.

Entretanto, dispensar perspectiva lógica como visão clarificada das coisas é perigar e comprometer a qualidade das decisões a tomar, porque os seus mentores só se poderão orientar com ajuda do pensamento natural, que é inadequado para quem participa da abordagem diversa sobre a produção e uso do conhecimento (…) “esseciológico” para eliminar a influência fenomenológica com vista a consequente tomada de decisão. Portanto, a necessidade de tomar em consideração os fundamentos lógicos na construção de uma Teoria Cientifica de Tomada de Decisão tem igualmente uma importância propedêutica, metodológica e organizativa com efeitos para todos os profissionais e não profissionais.

Bibliografia

CUREVA, Manuel. Fundamentos lógicos da tomada da decisão. Maputo, 2014. GUETMANOVA, Alexandra. Lógica. Moscovo, 1989