Uma pequena observação

Por Luis Carlos | 15/02/2010 | Crônicas

Uma pequena observação

(Luis C.)

 

 

   Sentado em seu escritório servido de vinho e cigarros, Franz se pergunta se existe um manual para a vida. Horas perdidas em vão, energia intelectual jogada no ralo. Oras, sabemos que se houvesse o tal manual, todos atingiriam o nirvana e isso acabaria com o seleto grupo de privilegiados que estão destinados à felicidade eterna.

   Franz sabe que a vida é feita de mudanças, mas ele nunca muda, ele sempre se adapta: trocou os cigarros de filtro vermelho pelos de filtro branco, trocou o rum pelo vinho, deixou de ser um militante para ser um teórico; e tudo isso apenas para ganhar alguns anos extras de vida. “Se eu mudar por completo, eu perco a minha originalidade”, ele diz.

   Um rosto angelical e sereno tem a capacidade de esconder a tristeza e as mágoas da vida, mas isso nem sempre é o bastante e antes de encontrar o amor da sua vida, tal atributo estava em crédito com ele. Já não conseguia mais esconder da humanidade a sua revolta pela mesma, e agora aparece esse novo sentimento que é capaz de salvar a sua vida.

   Franz representa o povo da América do Sul e o seu amor representa aqueles que vieram para este continente com outras intenções. Mas, isso são coisas que não precisam ser lembradas, basta apenas uma pequena observação e um pequeno senso crítico histórico para isso se transformar em um dos alarmes da sociedade. Seria um absurdo falar em compensação histórica, já que todos nesse continente tentam ser e agir como os que saíram da Europa há alguns séculos passados.

   Só Deus sabe o quanto amores à distância são cruéis; a saudade e a imaginação humana agem como cânceres malignos contra o amor, despedaçando-o ou fortalecendo-o. E com nosso amigo Franz não seria diferente. Noites mal dormidas, muitas dúvidas e garrafas de vinho: essa é a sua combinação favorita.

   Cansado da ponte aérea São Paulo – Goiânia, ele não vê a hora desse tormento acabar. “Eu estarei aí, com um anel para o seu dedo anelar”, canta Johnny Cash exterminando o silêncio do seu escritório.

   Servindo-se de mais um copo de vinho e terminando a sua reflexão sobre a vida, ele conclui a carta endereçada ao seu amor: “...(...) e quando as idéias que eu acredito parecem não suprir a falta que você me faz, é quando eu sei que você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida.”