UMA NOVA METODOLÓGIA PARA A MATEMÁTICA

Por janaina fernandes | 02/07/2009 | Educação

FINOM - FACULDADE DO NOROESTE DE MINAS

JANAÍNA FERNANDES LACERDA

UMA NOVA METODOLÓGIA PARA A MATEMÁTICA

BRASÍLIA DE MINAS

2008

FINOM-FACULDADE DO NOROESTE DE MINAS

JANAÍNA FERNANDES LACERDA

UMA NOVA METODOLÓGIA PARA A MATEMÁTICA

Artigo Cientifico apresenta à Faculdade de Educação da FINOM, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Matemática.

BRASÍLIA DE MINAS

2008

UMA NOVA METODOLÓGIA PARA A MATEMÁTICA

Janaína Fernandes Lacerda 1

RESUMO

A educação nos últimos anos tem passado uma série de transformações e cada dia a sociedade exige uma melhor qualificação profissional exigindo um conhecimento eclético. Nesta vertente a Matemática é encarada por muitos como algo inacessível e o que fazer diante deste impasse? Exigência do mercado de trabalho de um profissional polivalente e conhecimentos fracionados. Nesta perspectiva esse artigo buscou através de análise bibliográfica entender as dificuldades no entendimento da Matemática. Como metodologia foi feita leitura de teóricos que embasassem a pesquisa no sentido de entendimento da condição do ensino da Matemática atual. Como resultante deste trabalho percebeu-se a necessidade do educador agir como intermediário do conhecimento matemático e o educando buscando construir o tripé escola, alunos e professores de forma comprometida e facilitadora na construção do conhecimento matemático.

Palavras-Chave: Matemática, Prática, Meio Social, Escola.

Introdução:

Atualmente muitas pessoas culpam a sua falta de aptidão para a Matemática como responsável pelas suas dificuldades em aprende-la de maneira satisfatória, entretanto acabam que utilizando no seu cotidiano a Matemática sem muitas vezes notar a presença da mesma. Sendo assim se fez necessário elaborar uma discussão que pudesse determinar quais os verdadeiros motivos que vão levar as pessoas a desenvolverem esse "temor" para com a Matemática, sendo esta tão próxima e pertinente à vida de todos? Seriam os métodos? A falta de incentivo em casa? A carência econômica de grande parte da população? O que dizer mesmo nas pessoas com alto poder aquisitivo e ainda assim ignora a Matemática alegando não ser para eles a compreensão dessa disciplina? Esse emaranhado de dúvidas que motivou a busca de respostas através de pesquisas e análise bibliográfica para determinar a conclusão deste artigo.

.Nesta vertente essa pesquisa científica buscou diagnosticar as deficiências em relação a Matemática, apontar os possíveis erros que a escola e a sociedade possa ter cometido para contribuir com essa realidade e ainda apresentar possíveis vertentes de solução para essa realidade apresentada.

Desenvolvimento:

A Matemática sempre acompanhou o homem desde a sua formação quando o mesmo tomava determinadas decisões se alimentava ou caçava nas mais variadas atitudes do homem em todo o seu espaço geográfico de convivência temos a matemática acompanhando o homem. Entretanto é comum afirmamos que a Matemática como disciplina não é pertinente a todos os indivíduos que alguns já nasceram predestinados a aprenderem à Matemática enquanto que a grande maioria deve evitá-la, pois não foram predestinados. Mas como evitar algo que é tão inerente à existência do homem, seria possível? E o que dizer da predestinação quanto a esta ou aquela disciplina. Talvez dentre as disciplinas a Matemática seja a que primeiro entra em contato consciente e direto com o indivíduo desde as suas primeiras opções e visões de mundo. Neste sentido Luis Márcio Imenes afirma:

No nosso dia-a-dia, nas salas de aula, em nossas casas, nas mesas de bares, nos mais diversos lugares, torna-se "lugar comum" ouvir comentários do tipo: "A matemática é pra poucos", "A matemática é abstrata", "A matemática é a ciência exata", "A matemática desenvolve o raciocínio lógico". Até nos acostumaríamos com essas frases, se elas não nos doessem, nos gritassem e nos indicassem os sintomas de algo crônico e profundo. Como uma ferida cálida a nos incomodar. E, talvez o pior, é bem provável que pratiquemos essas idéias, ou talvez venhamos a praticá-las. (IMENES, 2002, p. 47)

Entende-se que, para o ensino não somente da Matemática, mas qualquer outra disciplina, ser realizado com sucesso, deve-se a princípio ter o conhecimento inerente ao ser humano de forma ilimitado e não discriminatório, ou seja, todo ser humano é apto a aprender. O que ocorre é que muitos profissionais desanimam diante dos obstáculos e torna-se mais cômodo sentenciar uma grande parcela da sociedade humana como desprovida de capacidades mentais para o entendimento da Matemática. Essa realidade é preocupante em um país que carece de uma educação de qualidade comprometida com o desenvolvimento humano e social do individuo.

Se levar em conta tais afirmações o que dizer desses poucos que consegue aprende-la de maneira satisfatória sem muitos problemas. Se a educação fosse destinada aos já pré-destinados em cada área talvez já não mais existissem os professores, pois se o individuo já nasce com o conhecimento ou com a predisposição seria muito cômodo ensinar.

Comparar a aprendizagem da Matemática com aptidão, ou melhor, a falta de aptidão torna-se incoerente uma vez que aptidão para música, para poesia, para dançar requer supostamente uma herança genética que contribui pra o desenvolvimento ou não, além do mais não se ensina música, danças, poesia de forma compulsória e indiscriminadamente a todas as pessoas o que inviabiliza totalmente a pré-destinação do conhecimento matemático.

O ser humano nasce na sua individualidade como um ser capaz, apto a aprendizagem, entretanto o meio o qual o mesmo está inserido pode ser determinante neste processo de construção do conhecimento e cabe ao professor a honrada e difícil tarefa de conduzir essa transformação que implicará na vida deste cidadão.

E é acreditando na capacidade humana sem distinção que se procura o entendimento nas dificuldades da aprendizagem da Matemática, para partir de tal conhecimento criar-se estratégias que possam conduzir para a aprendizagem homogênea. (DOWBOR, p. 51, 1998)

O que se vê é a confusão entre "interesse" e "aptidão" para a Matemática. Esse interesse pode ser: construído, alicerçado e desenvolvido. O professor, munido da linguagem adequada, sensibilidade, boa vontade, paciência e dedicação, pode gradativamente levar seus alunos a elevados níveis de conhecimento matemático e a uma utilização sistemática desse conhecimento. E até mesmo em alguns casos, a Matemáticos ou professores de Matemática, dependendo dos respectivos "interesses", não "aptidões".

Faz-se necessário refletir sobre as realidades sociais desses sujeitos, sobre seus lares, suas estruturas familiares, quem são seus pais e mães? Médicos e médicas, pedreiros, engenheiros e engenheiras, professores e professoras, presidiários e presidiárias, traficantes, vendedores e vendedoras ambulantes? O que esse ou aquele sujeito teve em sua mesa? Qual o seu café da manhã ou almoço ou jantar? (Se teve). Por que alguns têm e outros não? Quanto tempo o pai ou a mãe passa com esse filho? Eles ajudam-no a fazer os deveres? Acompanham-no na vida escolar? Qual o vocabulário de um e outro? O que determina a aprendizagem ou não é um conjunto de fatores ligados à vida cotidiana do sujeito, e dizer que alguém não tem capacidade de aprender, porque não nasceu pra isso, é por demaisinfeliz. O meio social o qual o indivíduo está envolvido influencia diretamente no seu processo de aprendizagem seja na Matemática ou outra disciplina. Culpar o indivíduo como o responsável pela sua limitação na aprendizagem da Matemática ou ainda culpar a própria natureza humana o qual o mesmo foi concebido é muito mais cômodo de que encarar essa deficiência como uma necessidade de incitá-lo desde a sua infância a ter um contato com a Matemática e faze-lo notar ainda que a Matemática esta no seu dia a dia. (MACHADO, p. 78, 2005)

É preciso repensar seriamente nas dificuldades impostas pelo formalismo da linguagem matemática, nas dificuldades impostas pelo modelo político-econômico vigente em nosso país, que só ajuda no processo de segregação social em âmbito cultural, econômico, tecnológico e cultural, nas dificuldades impostas pela "instituição" escola, que em muitas das vezes no através do seu processo de avaliação comete uma seleção desumana tarjando alunos como incapazes diante de uma dificuldade tida como natural e em alguns casos até mesmo aceitáveis pelos educadores.Refletir e inferir sobre esses assuntos é um caminho na busca de soluções sérias, não mirabolantes, nem milagrosas, mas eficazes. (DOWBOR, p. 53, 1998).

O mundo caminha com grandes avanços tecnológicos que interliga as pessoas e ao mesmo tempo exclui grande parte de analfabetos, subalternos econômicos se vêem limitados à imposição de um mundo preparado pela elite e para a elite. O conhecimento não está limitado a ser fracionado exige-se um indivíduo eclético e não mais limitado a um determinado ramo da educação tornando-se altamente qualificado no que se diz ser mais a sua afinidade e desprezando as demais áreas do conhecimento. O mundo busca e abre as portas àquele profissional polivalente, o que exige uma retomada na educação como forma de transformação do indivíduo preparando-o pra uma sociedade mais exigente e qualificada sendo que nessa perspectiva da educação atual Snyders afirma:

Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista, mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das ciências da educação e das metodologias de ensino. O conceito de "aprender fazendo" de John Dewey e as técnicas Freinet, por exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia. Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova, amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na educação do futuro. (SNYDERS, 1988, p. 96)

A arte de educar supera o simples fato de transmissão de conhecimento que até então é muito praticado por diversos profissionais da área e apesar de ser remota a discussão sobre uma educação mais prática em que o indivíduo realmente consegue enxergar um sentido no aprender, ainda assim nos deparamos com profissionais que isolam atrás de um tido conhecimento restrito a poucos ceifando, parte da população criando uma sensação de desconforto como que se aprender Matemática fosse limitado, designado e não é permitido a toda a sociedade o domínio dessa ciência.

Enquanto que o profissional da educação se achar em pedestal o detentor do conhecimento e o educando um simples receptor do conhecimento a educação do país não conseguira transformar a nossa sociedade em um lugar melhor de se viver.

Deve-se preocupar com o educando quanto todo o seu processo educacional desde a sua iniciação escolar alfabetizando-o não só em sua língua materna como também na linguagem Matemática, construindo o seu conhecimento segundo as diferentes etapas de desenvolvimento congnitivo, um bom ensino nesse nível é fundamental em que segundo Vygotsky:

[...] o aprendizado das crianças começa muito antes delas freqüentarem a escola. Qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia. Por exemplo, as crianças começam a estudar aritmética na escola, mas muito antes elas tiveram alguma experiência com quantidades – elas tiveram que lidar com operações de divisão, adição, subtração e determinação de tamanho. Conseqüentemente, as crianças têm a sua própria aritmética pré-escolar, que somente psicólogos míopes podem ignorar (VYGOTSKY, 1989, p. 94-95).

Cabe primeiramente a escola e os educadores a desenvolverem um processo de ensino e aprendizagem da Matemática de forma aplicativa e bem trabalhada, apesar de que o meio o qual o educando possa contribuir negativamente neste processo, ainda assim a instituição escola tem como pelo ao menos amenizar essa dificuldade da aprendizagem da Matemática como algo natural aplicado no cotidiano das pessoas de uma forma muito mais real que outras disciplinas evitando quefuturamente os alunosapresentem dificuldades graves, quanto a construção deficiente do pensamento lógico-abstrato. Nessa dificuldade do emprego do abstrato Nilson Machado aborda como uma deficiência da Matemática atual em que o mesmo afirma:

Atualmente o ensino da Matemática se apresenta descontextualizado, inflexível e imutável, sendo produto de mentes privilegiadas. O aluno é, muitas vezes, um mero expectador e não um sujeito partícipe, sendo a maior preocupação dos professores cumprirem o programa. Os conteúdos e a metodologia não se articulam com os objetivos de um ensino que sirva à inserção social das crianças, ao desenvolvimento do seu potencial, de sua expressão e interação com o meio. (MACHADO, 1994, p. 75)

O fato é que existe uma série de empecilhos que dificultam a aprendizagem da Matemática seja eles da ordem social, econômico, político ou cultural, entretanto a instituição escola e seus educadores podem amenizar tal descompasso em que o indivíduo ignora e às vezes até mesmo repudia a Matemática não entendendo o mesmo que no seu cotidiano está em contato com a Matemática nessa vertenteSchielimanafirma:

(...) Por que muitos pedreiros, carpinteiros e marceneiros, analfabetos, usam o teorema de Pitágoras sem nunca terem ouvido falar dele? Todos podemos desenvolver um "pensamento matemático", em algum momento de nossas vidas? Vemos nos sinais de trânsito, meninos, meninas, adolescentes, adultos vendendo doces, frutas, brinquedos, os mais variados objetos. E muitos desses não freqüentam a escola ou freqüentaram-na ou deixaram de freqüentá-la há muito tempo. Mesmo quando o faziam, em geral apresentavam inúmeras dificuldades em operar com adições, subtrações, multiplicações e divisões, sem contar com dificuldades na escrita, leitura e fala. Em suma, eram fracassados escolares, no sentido mais amplo do termo. E agora, nos sinais, realizam essas operações com desenvoltura e naturalidade, recebem dinheiro de seus fregueses, dão troco, calculam os preços de um ou de vários produtos, dividem os lucros. E realizam esses cálculos com exatidão e na maioria das vezes mentalmente. Não erram no troco, pois senão vai-se embora o lucro, ou os fregueses, e, em ambos os casos, é prejuízo. Já no ambiente escolar não conseguem ou conseguiam realizar os mesmos tais cálculos. Como explicar isso? Como entender esses sujeitos e fazer da escola um lugar onde possam se desenvolver com plenitude e exercer sua cidadania com dignidade. (SCHIELIMAN, 1990, p. 126)

A dificuldade em aprender está também no ambiente "escola". Do contrário, tanta gente não aprenderia, em outros espaços, a lidar com valores monetários (ambulantes), com geometria (pedreiros), estando distantes da escola. Quaisquer que sejam as respostas àquelas questões se houverem, valerão à pena. Entender os motivos dessa aversão à matemática e à escola será um primeiro passo, dos muitos que precisam ser dados no sentido conhecer essa "moléstia' e tentar sua cura, que é transformar nossas escolas, torná-las eficientes, torná-las públicas (no sentido lato da palavra), uma escola de todos e para todos. Professores, pesquisadores, estudiosos, educadores de um modo geral saem com ganhos em suas diversas áreas de atuação, se buscarem o cerne dessas e de outras questões, se não se prenderem a preconceitos, se pautarem suas práticas na busca de soluções, se pautarem suas práticas na busca de um sonho possível, a nossa educação básica, por que não de nossa escola pública.( GADOTTI, p.68, 2000)

Cada vez mais o papel da escola torna-se mais importante no entendimento e na transformação social de seus educando, seja tendo a sensibilidade de notar as deficiências que os alunos encontram no seu meio familiar e social buscando os ajudar no processo da aprendizagem da Matemática sendo necessário a construção de uma escola participativa e que preze pela harmonia desenvolvendo uma relação agradável entre todos os envolvidos no processo educativo.

Conclusão:

Não é utopia uma sociedade em que o conhecimento seja acessível de forma plena a todos, uma vez que o ensino público a cada dia vem alcançando mais pessoas, entretanto para a efetivação desse desejo de plenitude do conhecimento, a figura do professor como mediador e da escola como estrutura física pedagógica para o desenvolvimento do cidadão tem que passar por transformações em busca da facilitação da aprendizagem para o aluno.

Coloca-se por terra então a teoria mística de uma sociedade predestinada para a Matemática, somos todos capazes de atingir os mesmos objetivos e que precisa ser feito é uma nova metodologia em que a Matemática seja mais humana, mais prática e a escola assuma um papel cativante na vida do estudante, ai sim conseguiremos alcançar a plenitude do conhecimento, seja matemático ou quaisquer outra disciplina.

.REFERÊNCIAS

DOWBOR, L. A reprodução social. São Paulo: Vozes, 1998.

*FREIRE, Paulo. – Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa – São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 2000.

IMENES, Luiz Márcio P. - Um Estudo Sobre o Fracasso do Ensino e Aprendizagem da Matemática - São Paulo. 2002.

MACHADO, Nilson J. Lógica e linguagem cotidiana - verdade, coerência, comunicação, argumentação. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

MACHADO, Nilson J. Matemática e Realidade: análise dos pressupostos filosóficos que fundamentam o ensino da matemática. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1994.

SCHIELIMAN, Ana Lúcia.Na vida dez, na escola zero. 4ºed. São Paulo: Cortez, 1990.

SNYDERS, G. A alegria na escola. São Paulo: Manole, 1988.

VYGOTSKY, L.A. - A Formação Social da Mente - São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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1 Graduada em Matemática pela Faculdade Unimontes, aluna de pós graduação Lato Sensu em Matemática da FINOM.