UMA NOITE SEM DORMIR

Por Jocinei dos Santos | 21/10/2010 | Crônicas

Uma noite sem dormir

Sete horas da noite, da janela do segundo andar podia avistar uma densa fila de carros que não conseguiam trafegar livremente na rua onde pela manhã eu costumava passear sobre as calçadas. Estava chovendo muito, eu acabara de marcar um encontro com Isabel, uma garota que eu conheci em São Paulo no ano passado e que na época estava a trabalho aqui em Belém. Marcamos no teatro para ver uma grande peça que estreava naquela noite, era um bom momento para conversamos, tínhamos muito que conversar. O espetáculo começaria logo, mas a chuva não queria me deixar sair. Com o telefone em cima da cama, pensei em ligar para ela e pedir que marcássemos um novo encontro que poderia ser perto do meu apartamento, mas Isabel poderia não entender.
Fui até a janela novamente para ver se ainda chovia muito, então vi o céu totalmente coberto por um imenso lençol de nuvens que molhava o chão da minha rua e que atrapalhava o meu encontro. Isabel era uma mulher muito bonita, quando a conheci, ficamos muitos amigos, mas depois de um tempo eu passei a gostar dela de verdade, ela nunca soube de nada, só sabia que éramos amigos e nada mais que isso. Sempre que íamos a um restaurante ela pedia comida italiana, era seu prato favorito. Eu deixava a minha imaginação rolar e quase não ouvia o que ela me dizia, ter sua presença naquele momento era tudo pra mim. Um dia eu estava a pé quando voltava do trabalho, ela parou e me ofereceu carona, eu disse a ela que o dia que eu comprasse o meu carro também a convidaria para passear comigo por toda a cidade em noite de Natal. Ela sorriu pra mim e me perguntou se eu tinha namorada, eu disse a ela que sim, mas eu estava mentindo, queria dizer aquilo apenas para ver a reação dela. Então ela disse que a minha namorada deveria ser a pessoa mais feliz do mundo. Eu sorrir. Mas depois de um tempo eu retornei para Belém e não a vi mais mantínhamos contato somente pelo telefone, até que um dia ela me contou que estava vindo aqui para minha cidade de férias, aquela noite seria o nosso primeiro encontro, apavorado fui até o banheiro para tomar um banho de ducha quente, e fiquei pensando como estaria ela me esperando na porta de entrada do teatro, deveria está deslumbrante. Enquanto a água caia sobre o meu rosto eu então pensava em uma solução para encontrá-la. Ao terminar o banho peguei a toalha e sair assim, fui até a janela novamente e a chuva caía com mais intensidade, pensei em pegar um táxi, mas não tinha como, a rua estava totalmente alagada, transito parado e eu ali naquele quarto do apartamento humilde onde eu morava, queria fazer milhões de coisas, mas não encontrava solução. Foi então que peguei o telefone para falar com ela, disquei os números, mas não completou a chamada, eu estava mesmo perdido, gritar para ela me escutar não adiantava, naquele momento meu grito seria em vão, a chuva estava bem forte, ninguém me escutaria, cansado de olhar para a paisagem do lado de fora da janela, fechei-a e deitei na cama com o travesseiro sobre a minha cabeça, e fiquei ouvindo o barulho do toque da chuva na rua, sobre os carros, e sobre o guarda-chuva que Isabel talvez usasse naquele momento. Eu comecei a pensar nas coisas que poderiam acontecer depois daquele momento. Por exemplo: de ela não falar mais comigo, ou de achar que eu não queria vê-la. ? eu não queria que ela pensasse qualquer coisa deste tipo, por isso levantei-me, vestir um bom par de roupas, joguei bastante perfume em mim e resolvi descer até o último andar, foi então que eu entendi que realmente eu não poderia sair, o pátio do prédio estava totalmente alagado, pessoas não entravam pessoas não saiam daquele lugar. Naquela hora eu quis morrer de ódio de mim, da chuva e de todas as coisas que estavam ao meu redor, mas eu sabia que era tudo em vão.
Aquela noite eu me sentir um fracassado, desprezado, bicho da pior espécie, bati por várias vezes com a cabeça na parede, aquilo que eu estava fazendo era o fim de tudo. Fiquei lá fora esperando a chuva passar em cima da escada, e olhava para o relógio, cansado, às dez horas da noite, eu resolvi subir para o meu quarto e comecei a chutar as coisas que estava lá dentro. Liguei a TV e fiquei assistindo ao noticiário nacional, aconteciam tantas coisas ao meu redor enquanto que eu me iludia com um encontro. Olhei novamente o relógio e vi que já eram três horas da manhã, eu não tinha dormido nada, foi então que eu desliguei a TV e fui deitar na cama do mesmo jeito que eu estava preparado para sair, não conseguir tirar nem os sapatos. Quando amanheceu, levantei, tomei um banho e sair para comprar pão em uma padaria que ficava logo na esquina do meu apartamento. Não havia mais carros parados, apenas o estrago da noite passada e as pessoas tirando água de suas residências. Eu ia caminhando em direção a padaria quando notei não tão distante de mim um carro branco que parou e então uma mulher cujo rosto não escondia que era Isabel, saltou em direção a uma loja de luxo acompanhado de um homem elegante que não me deixara em dúvida que pudera ser seu marido ou namorado visto que os dois deram-se as mãos. Refletir não menos que dois segundos e continuei o meu caminho.