UMA NOITE DE NATIVIDADE

Por Edson Terto da Silva | 04/12/2018 | Família

Havia algo diferente naquela noite amena e muito agradável. A calma era tanta que ela até era contraditória em relação ao nome da fazenda, até então batizada por Atividade. E o nome procedia, pois ali era local de muita atividade mesmo , seja pelas labutas diárias nas plantações, os comércios de leite e de animais e em determinadas épocas do ano pelos abates mais ostensivos de alguns dos bichos para serem consumidos em grandes encontros de famíliares e amigos.
Mas naquela noite ainda mais clara devido a uma enorme estrela que de tão brilhante parecia fazer as demais desaparecerem do céu, não havia movimentação humana na fazenda. Ao que parece, proprietários, empregados e agregados tinham todos saído para comemorações fora dali.

E pelo pouco que alguns dos animais puderam ouvir e entender, os comentários era que naquele ano não haveria os terríveis sorteios da morte, que invariavelmente levavam alguns deles para panelas e depois para a mesa, sempre rodeada por pessoas  falando e bebendo muito e devorando as vidas sacrificadas e tantos eram os risos que aparentemente por ali não havia remorso algum.

Mas aquela noite era mesmo diferente. Reinava paz e sem a presença humana tudo o que se via era calma entre todos ali, vacas, bezerros, bois, porcos, ovelhas, frangos e até o peru não apresentava a apreensão de anos anteriores. Até mesmo os sons dos animais das matas pareciam diferentes naquela noite. Eram mais suaves os cantos de pássaros e os ruídos de anfíbios e de insetos. Um ou outro mamífero emitia alguns sons, mas nada que parecesse ser ameaçador.

A curiosidade dos animais fica aguçada com uma movimentação, que parece ser humana, na entrada da fazenda. Será que estavam enganados e que os donos voltaram para os sorteios da morte? Os cães nem latiram com a movimentação na entrada da fazenda, devia ser mesmo os donos da propriedade é o que por certo pensavam alguns dos animais.

Mas a movimentação envolvia dois estranhos. Em verdade, seriam três em breve, pois na entrada da fazenda estava um casal, sendo a mulher grávida, prestes a dar à luz. O homem aparenta certo desespero e busca um local que possa oferecer um pouco de conforto para a mulher que já está em trabalho de parto. 

A luz acessa no fundo da propriedade rural parecia aos seus olhos ser um farol que indicava caminho e esperança. E foi para lá que o homem se encaminhou com a esposa grávida. Era uma espécie da paiol, mas ao se aproximar e ver uma manjedoura ele conclui ser um estábulo. Foi o tempo de conseguir que a mulher se deitasse sobre o feno que fazia do chão a cama mais macia que pode arrumar naquele momento e ela começou dar à luz. 

Nasceu ali um menino saudável e, embora por pouco tempo, o choro da criança foi forte e à todo pulmões. Amparado pelos pais, o menino agora está risonho, feno e palhas são espalhados na manjedoura que naquele momento é improvisada como berço para a criança, que agita os pezinhos. 

Alguns dos animais como por instinto maternal ou apenas por curiosidade se aproximam para reverenciar o recém nascido e alguns deles, como um carneirinho e uma vaca mansamente se acomodam perto da manjedoura. Dá para sentir a emoção e o clima de paz. Poucos perceberam, mas alguns dos animais trouxeram algumas frutas, leite, ovos e espigas de milho como se oferecessem uma espécie de banquete ao casal.

E sem que os animais se assustem, logo aparecem três homens bem vestidos que se ajoelham diante do menino e entregam aos pais dele presentes que trouxeram ao recém nascido. Um dos desconhecidos traz nas mãos uma letra "N"  e a entrega ao pai da criança e  diz que possivelmente a letra fazia parte do nome da fazenda, pois ele lera na placa escrito somente atividade, portanto faltava o "N" de Natividade.

Ao lado da manjedoura, uma das ovelhas com olhar terno acaricia delicadamente seu cordeirinho bem no momento em que aquela estrela se fez ainda mais brilhante e a noite de tão clara praticamente se transformou em dia... FELIZ NATAL! JESUS ABENÇOES TODOS!