Uma leitura do: imbondeiro mbondo baobab.
Por Solineide Maria Oliveira | 17/05/2016 | LiteraturaUma leitura do:
imbondeiro
mbondo
baobab
(Livro com textos de Madeleine Richard e ilustrações Annik Watson).
Por: Solineide Maria de Oliveira do Patrocínio Rodrigues - 15/05/2016.
Quando cheguei em Luanda pela primeira vez, o que mais me impressionou foram: o sol, que combina com a cor da terra, vermelho-Angola; a cor do mar, num azul incontável e… O imbondeiro. Em toda oportunidade perguntava sobre tal árvore, o imbondeiro. Perguntava para os mais chegados, os da família do lado de cá (família que se desgarrou de mim há tempos e que encontro depois dos quarenta).
No entanto, as respostas eram pequeníssimas e minha impressão da árvore, imensa. Minhas perguntas continuavam a desejarem respostas, mas as respostas sobre ela (a árvore) não davam conta de minha admiração-espanto.
Não precisava entender sobre a cor do sol, diferente, forte, imenso, vermelho como a cor da terra. Sabia, intimamente, talvez por também pertencer a um país de terra que foi pintada de vermelho por tanta luta…. Tanta colonização…. Tanta barbárie contra sua natureza…. Sobre o mar, também não precisava de repostas, porque ele me acompanha desde sempre. Acho que já fui marinheiro…. Acho que já fui pescador, acho que já fui do mar…
O que precisava saber era o que significava aquela árvore… E consegui as respostas no livro de Madeleine Richard e de Annik Watson que dão a dimensão visual do que a escritora escreve, com ilustrações ilustres. Primeiro me espantei com a capa, numa textura de tronco, cor do imbondeiro, cor desse espetáculo, sobre o qual gostaria tanto de saber mais. Depois me espantei com os textos, uma poesia andarilha, belíssima como são o poema dos andarilhos da natureza.
Abrir o livro de Madeleine, foi como entrar nessa árvore… Mbondeiro… E à cada página, através da leitura de seus poemas, foi como se o próprio imbondeiro me respondesse, gentilmente, as perguntas que tinha guardado sobre ele… ela? Cada poema uma resposta, cada poema um sorriso interior. Cada poema um apaixonamento superior…
A poetisa inicia sua semeadura de textos poéticos, explicando que a árvore já foi mais prestigiada e que, “no entanto, hoje em Angola, o imbondeiro foi destronado pela mulembeira” (…) (RICHARD, p. 15)
A “ancoragem” dos imbondeiros foi eleita por entre as terras de Baía de Luanda, Benfica e Musulu (ao Sul). Ali é que está, em maior número, o baobab, “o velho solitário, apinhado como um africano de dispensário” (RICHARD, p. 28).
Pouco tempo tem, o mbondo, para não deixar de existir. Desaparecer é diferente de deixar de existir… Mas os dois eventos causam dores incuráveis. No entanto, o imbondeiro consegue existir tricentenariamente… “Três séculos depois, eles lá estão para provar” (RICHARD, p. 29). A flor do imbondeiro se abre uma única vez e “o desabrochar e a fecundação devem acontecer durante uma única noite” (RICHARD, p. 38). Essa pressa da flor, em virar semente de novo, sugere ser a poesia mais bonita dessa árvore…O desejo de continuar e a necessidade de que isso seja possível faz fecundação da flor acontecer… E “fecundada, sua metamorfose já terá começado. E se tornará mukwa” (RICHARD, p. 39).
Todo o livro é mais do que palavra, verso, manifestação de arte. Quer sejam os poemas, quer sejam as ilustrações: o livro é o próprio imbondeiro se oferecendo como resposta à vontade de viver que, existe, plena em cada ser vivo. Também representa, o livro, maneira de dizer palavras que o próprio baobab diria de si mesmo.
A poetisa teria conseguido ouvir a árvore e, com a agudeza peculiar dos grandes sentidores das coisas (os humanos-seres), reforçada pela comunhão da ilustração poética. Agora ancoraram em mim, as respostas que não pensei que encontraria.
Embora restem dúvidas sobre muito do que foi e poderá vir a ser o imbondeiro, por ora, estou extasiada… Porque fui jubilada pelo contato da poesia que é o imbondeiro, através das palavras de Madeleine Richard. Obrigada poetisa. Obrigada Annik Watson, pelas poesilustrações. Obrigada Jorge Rafael, meu marido, pelo presente (o objeto livro).
Obrigada imbondeiro…