UMA INTERPRETAÇÃO PARA O SURGIMENTO DO PORTUGUÊS E DO ESPANHOL NA AMÉRICA DO SUL

Por Lorena campos | 06/07/2009 | Educação

O SURGIMENTO DO PORTUGUÊS E DO ESPANHOL NA AMÉRICA DO SUL

Fernando Vitorio[1]

Lorena Campos[2]

Paulo Ricardo Damasceno[3]

RESUMO

A história do surgimento da língua portuguesa e da língua espanhola é bastante semelhante, principalmente quando se refere a sua origem e criação. Ao discorrer deste trabalho explicaremos tais semelhanças a partir de fatos históricos que foram imprescindíveis para o surgimento e para disseminação dessas duas línguas na América do Sul. Para isto, teremos que partir da Península Ibérica pré-romana até a colonização da América do Sul por Portugal e Espanha. Tendo como propósito apresentar e esclarecer algumas influencias de línguas antigas nas línguas portuguesa e espanhola, destacaremos alguns aspectos geográficos e históricos.

PALAVRAS-CHAVES: Língua portuguesa, língua espanhola, influências e colonização.

Antes da romanização – período pré-romanico (Península Ibérica)

As línguas da Europa e da Ásia são provenientes de uma língua pré-romanica que era designada pelo termo indo-europeu, porém, esse indo-europeu apresentava um conjunto de línguas faladas- sem registros escritos- o que acarretou por sua vez, sucessivas alteração com o decorrer do tempo.Todas as línguas oficiais dos países da Europa ocidental, exceto o basco, pertencem a ramos da família indo-européia: o helênico (grego), o românico (português, italiano, francês, castelhano, etc.), o germânico (inglês, alemão) e o céltico (irlandês e gaélico). Porém há outro ramo, o eslavo, que engloba diversas línguas atuais da Europa Oriental. Com isso podemos perceber que apesar das línguas serem designadas indo-européias, não é correto afirmar que eram faladas por indo-europeus, pois, não se tratava de raças ou povos, mas sim de um conjunto de línguas, como afirma Tomaz Tadeu da Silva (1994, p.12):

"O indo-europeu não constitui propriamente uma íngua no mais vulgar do termo: poder-se-á, no entanto, imaginar uma língua de base, comum (koiné) a diversos grupos humanos (...)".

Por volta do II milênio a.C., o grande movimento migratório de leste para oeste dos povos que falavam línguas da família indo-européia terminou, com isso eles atingiram seu território quase definitivo, passando assim a ter contato permanente com povos de origens diversas, que falavam línguas não indo-européias. Um dos grupos foi o grupo dos celtas, que se instalou na Europa Central, na região que atualmente corresponde à Boêmia (República Tcheca) e Baviera (Alemanha).

De inicio, os celtas estavam situados na parte central da Europa, porém entre o II e o I milênio a.C. foram se expandindo e ocupando regiões diversas, até que no século III a.C. já ocupavam mais da metade do continente europeu. Os celtas eram nomeados de acordo com a zona de ocupação: celtíberos na Península Ibérica, gauleses na França, bretões na Grã-Bretanha, gálatas no centro da Turquia, etc.

A expansão territorial dos Celtas foi reduzida com a chegada de outros povos, principalmente os romanos. Devida a pressão dos romanos sobre os celtas o território ocupado por eles foi encolhendo, e com isso as línguas célticas empurradas ao longo dos séculos até as extremidades ocidentais da Europa, subsistindo em regiões da Irlanda (o irlandês é inclusive uma das línguas oficiais do país), da Grã-Bretanha e da Bretanha francesa.

Período românico

A expansão territorial do império romano se deu por dois lados, por mar e por terra. No ângulo Noroeste constituiu uma primeira área chamada de Galego-português, onde ocorreu a evolução do latim que ali era falado e encaminhou para um sistema lingüístico próprio. A romanização da Península Ibérica teve inicio no ano 218 a.C, e tinha como objetivo estabelecer o poder político, militar e conseqüentemente impor sua língua como forma de manter o poder do grande império. Todos os povos que habitavam a Península, com exceção dos Bascos, adotaram o Latim como língua e mais tarde todos abraçaram o catolicismo como religião.

A invasão romana na Península Ibérica ocorreu ao mesmo tempo que a conquista, esse processo de conquista foi estendido desde a costa mediterrânea até o interior e à costa do oceano atlântico. Com a chegada dos europeus e a imposição de sua língua e cultura, ocorreu um processo de aculturação, um dos fatores determinantes para o processo da aculturação foi à expansão do latim e a fundação de algumas cidades. Esse processo de aculturação segundo A. G. Johnson (1997: pág.52), seria:

"Entendemos por aculturação, um processo de assimilação em que um grupo dominante pode impor com tanta eficiência sua cultura a grupos subordinados que estes se tornam virtualmente indistinguíveis da cultura dominante".

Também por conta da romanização, ocorreu uma divisão na Península Ibérica, em dois hemisférios: Hispania Citeriror – iniciada por via terrestre abarcando as regiões nordeste-norte e leste; Hispania Ulterior – iniciada por via marítima, que corresponde às regiões suldoeste-sul e oeste.Em relação à lingüística, a Hispania Citerior teve mais importância, pois nela os contatos lingüísticos trouxeram uma série de influências lingüísticas que deram origem, posteriormente, a novas línguas. Por outro lado, na Hispania Ulterior a distância entre colonos e colonizadores dificultou a influência lingüística do latim com as línguas ali faladas. Por esse motivo o latim falado na região sul é mais conservador e mais próximo do latim de Roma.

Com isso, a língua latina, acabou se impondo como língua oficial, obtendo a função de fator de ligação e comunicação entre vários povos. Porém, no período de 409 d.C. a 711 povos germânicos se instalaram na Península Ibérica. Essa migração ecoou não só na parte de divisão das terras, mas também, na língua falada pela população, pois esta, que já não era uniforme, passou a desenvolver um processo de diferenciação regional, ou seja, em cada região se encontra uma forma diferenciada no falar dos povos. Porém o rompimento definitivo da uniformidade lingüística da Península Ibérica só ocorrerá mais tarde, acarretando assim à formação de línguas bem diversificadas.

Por volta de 711 houve a invasão dos mouros, com isso o idioma árabe foi difundido na Península Ibérica, tornando-se idioma oficial nas regiões conquistadas pelos mesmos, mas a população continua a falar o romance.

Historia do português

O português tem sua origem no latim, porém, as invasões na Península Ibérica por outros povos, geraram algumas modificações, e uma delas é a formação do galego-português, vejamos:

No século XI, à medida que os antigos domínios foram sendo recuperados pelos cristãos, os árabes foram expulsos para o sul da península, onde surgem os dialetos moçárabes, a partir do contato do árabe com o latim.

Com a Reconquista, os grupos populacionais do norte foram se instalando mais a sul, dando assim origem ao território português, surgindo assim o reino independente de Portugal no século XII, da mesma forma que, mais a leste na Península Ibérica, os leoneses e os castelhanos também foram progredindo para o sul e ocupando as terras que, muito mais tarde, viriam a se tornar no território do Estado espanhol. Com isso o galego-português se consolidou como língua falada e escrita da Lusitânia. E nessa nova língua foram escritos os primeiros documentos oficiais e textos literários não latinos da região, a exemplo podemos citar os cancioneiros, que escreviam poemas medievais.

À medida que os cristãos avançam para o sul, os dialetos do norte interagem com os dialetos moçárabes do sul, começando assim um processo de diferenciação do português em relação ao galego-português. O rompimento do galego-português em galego e português tem início com a independência de Portugal, que ocorreu por volta de 1185, e só se consolidou com a expulsão dos mouros em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o país a mais uma de suas conquistas.O português, "[...] já separado do galego por uma fronteira política, torna-se a língua oficial de um país cuja capital é Lisboa [...]" (Cunha, 2001, p.41). Porém, é em Coinbra ao Norte e Évoa ao Sul, que estão implantadas as instituições de cultura mais importantes, e no eixo de Lisboa – Coimbra passa a formar desde então o centro do domínio da língua portuguesa.

Entre os séculos XIV e XVI, com a construção do império português de ultramar, a língua portuguesa se faz presente em várias regiões da Ásia, África e América, sofrendo influências locais, presentes na língua atual em termos como jangada, de origem malaia, e chá, de origem chinesa. Com o Renascimento, aumenta o número de italianismos e palavras eruditas de derivação grega, tornando o português mais complexo e maleável. O fim desse período de consolidação da língua - ou seja, de utilização do português arcaico - é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.

Na formação do português podemos observar três fazes, conforme o trecho extraído do artigo "Do Latim, ao Português Arcaico, ao Português Moderno" de Adriano A. da Costa Filho:

a) Fase inicial: Século III Antes de Cristo. Com a invasão dos romanos, onde se falava o latim clássico pelos magistrados e latim vulgar pela soldadesca romana, a população lusitana que, já tinha uma língua antiga gerada dos celtas e iberos, começou a misturar e aderir à língua latina, isso foi até o século VII da nossa era, ou seja, até o fim do domínio romano, com a invasão moura.

b) Fase Média: Século VII – Invasão dos mouros. Nessa altura começou a acontecer à mistura da língua gerada pelos romanos, com a língua dos mouros, novos termos foram introduzidos e surgiu a língua portuguesa, já mais próxima ao português arcaico.

c) Fase Arcaica: Século XII – Início 1189, ano da fundação de Portugal. Com a fundação de Portugal como nação, surgiu a língua portuguesa arcaica que perdurou até a sistematização feita nas primeiras gramáticas, por Fernão de Oliveira em 1536 e João de Barros em 1540.

d) Fase Moderna: Século XVI, após surgirem as duas gramáticas mencionadas. A afirmação definitiva da nossa língua deveu-se a Luiz de Camões, Sá Miranda e Antonio Ferreira."

Historia do espanhol

A língua espanhola teve sua origem numa região na parte norte da Península Ibérica chamada Castela (terra dos castelos). Por isso, ainda hoje esse idioma é conhecido como "castelhano", assim como nos mostra Rodriguez (2000, p.1):

"O espanhol originou-se no centro da Península Ibérica, no reino de Castela, daí sua denominação de castelhano, mais tarde concorrendo com a de espanhol, devido a ter-se tornado a língua oficial de Espanha, sobrepondo-se a outras línguas do território espanhol".

Aos poucos, os nobres castelhanos foram aumentando seus territórios, e ao fim da reconquista – quando não havia mais o domínio dos mouros em solo hispânico -, os castelhanos já tinham conquistado muito prestígio social, o que acarretou na imposição da língua castelhana a todos os demais habitantes da região que eventualmente viria a tornar-se o país que hoje conhecemos como Espanha. Existem na Espanha, até os dias atuais, povos que falam outras línguas que possuem uma grande tradição cultural – o catalão, o basco e o galego – entretanto, tais línguas, não conquistaram uma importância política, econômica, ou militar, nem ao menos semelhante, ao que o castelhano possui.

No ano 218 a.C. desembarcou em Anturias um exército romano que vinha combater contra os cartaginenses, na guerra em que a cidade de Roma sustinha contra os mesmos. Começando assim uma dominação que duraria, mas de seis séculos.

Logo em seguida a Hispania foi declarada província romana, e seus conquistadores, dotados de grande sentido prático e talento organizador, foram colonizando a maior parte do território e explorando seus recursos humanos e naturais. Os hispanos, que se viram obrigados a incorporar um modo de vida implantado pelos romanos, sendo assim, tiveram de aprender, entre outras coisas, uma nova língua, o latim. Ainda que as velhas línguas resistissem em alguns lugares durante muitos anos – um bom exemplo disso é o basco atual -, foram pouco a pouco se curvando perante as inúmeras vantagens que oferecia o uso de uma língua comum, uma língua de intercâmbio, que era mesmo que contra a vontade dos hispanos, indispensável para a relação de entendimento com os dominadores.

Entre os séculos III e VI, a língua que evoluía na Espanha assimilou germanismos através do latim falado pelos povos bárbaros romanizados que invadiram a península. Com o domínio muçulmano, a influência do árabe — idioma dos conquistadores berberes — foi decisiva na configuração das línguas ibéricas, entre as quais se incluem o castelhano/espanhol e o português.

No sul, sob domínio árabe, as comunidades hispânicas que conviviam com as comunidades judaica e árabe falavam moçárabe. Esta é a língua na qual foram escritos os primeiros poemas, as Jarchas, que conservam uma forma estrófica de origem semítica, a moasajas. Em quase oito séculos de interação (711-1492), os povos falantes do Árabe deixaram no castelhano um abundante vocabulário de aproximadamente quatro mil termos. Com o tempo foram caindo em desuso,embora ainda hoje haja vestigios de palavras de uso comum como tambor, adobe, alfombra, zanahoria, almohada, e a expressão ojalá, como em português "oxalá" que significa "queira deus" (literalmente: queira Alá).

Na formação do castelhano/espanhol, podemos distinguir três períodos: o medieval ou castelhano antigo (dos séculos X ao XV), o espanhol moderno (entre os séculos XVI e XVII) e o contemporâneo, que vai da fundação da Real Academia Espanhola até os dias atuais.

Saindo da península ibérica... Já na América do Sul

Segundo alguns registros não-oficiais, o primeiro registro visual do continente por europeus ocorreu por volta de 1498, por um navegador português chamado Duarte Pacheco Pereira. Nos anos subseqüentes, o espanhol Vicente Yáñez Pinzón, o genovês Cristóvão Colombo e o português Fernão de Magalhães, todos a serviço de Castela, costearam e exploraram o litoral sul-americano em diferentes pontos. Por volta de 1500, Pedro Álvares Cabral chega oficialmente ao Brasil e toma posse da nova terra para Portugal. As explorações continuaram nos anos seguintes, porém com outros exploradores, Sebastião Caboto, Diogo Botelho Pereira, Nicolau Coelho, Alonso de Ojeda, Francisco de Orellana, entre outros.

Por volta de 1494, frente ao achamento do Novo Mundo por Colombo, Portugal e Castela se apressaram em negociar a partilha das novas terras. A divisão do planeta em dois hemisférios foi oficializada no Tratado de Tordesilhas, com a aprovação do papa espanhol Alexandre VI. Com intenção semelhante a dos demais, o britânico Walter Raleigh explorou a costa norte do continente, do Orinoco ao Amazonas.

Os espanhóis descem pelo Panamá e desembarcam na costa do Império Inca, liderados por Francisco Pizarro, Gonzalo Pizarro, Hernando de Soto e Diego de Almagro. Em uma rápida guerra, o imperador, Atahuallpa, é seqüestrado e executado, com isso, destroem o maior Estado da América de então. Nas décadas seguintes ocorreu um genocídio dos povos nativos (os índios) por meio de ataques ou transmissão de doenças contra as quais os indígenas não tinham imunidade, isso ocorreu principalmente nas zonas que os portugueses ocupavam por essa razão a população indígena foi praticamente aniquilada e não deixou vestígios sequer dos traços étnicos dessa raça. O resultado dessa conquista foi um violento decréscimo demográfico, reduzindo assim drasticamente a população indígena do continente.

A América do Sul ficou dividida praticamente entre os dois reinos ibéricos – Portugal e Espanha, com áreas de colonização litorânea ocidental-pacífica para Castela (Espanha) e a oriental-atlântica para Portugal. Espanhóis se instalaram no Prata, no Caribe e nos Andes, utilizando a infra-estrutura de cidades e transportes dos incas, além de iniciar a exploração de minas de prata em locais como Potosí.Em contra partida os portugueses investiram principalmente no extrativismo do pau-brasil e, mais tarde, na plantação de cana-de-açúcar. A ocupação portuguesa, a princípio, foi exclusivamente concentrada na faixa litorânea. O planalto das Guianas foi ocupado por ingleses (no Orinoco e Essequibo) e franceses (no Oiapoque e Maroni) e mais tarde chegaram os holandeses.

A colonização ibérica trouxe o concretismo religioso católico, com a fundação de missões católicas para conversão dos nativos. O trabalho foi conduzido especialmente pelos jesuítas, membros da Companhia de Jesus fundada pelo espanhol Inácio de Loyola. Os jesuítas, como Bartolomeu de las Casas, tiveram papel fundamental na defesa dos indígenas contra a exploração por trabalho escravo. Povos como o guarani, na bacia do Paraná, foram protegidos durante três séculos pelos missionários. Porém pela falta de mão de obra indígena os europeus foram praticamente obrigados a comprar africanos para trabalhar nas áreas de colonização (principalmente na área de plantação de cana-de-açúcar), o que fez com que surgisse e aumentasse cada vez mais o tráfico negreiro da África para a América do Sul.

Disputas pelas colônias...

A União Ibérica, formada por volta de 1580, extingue na prática as fronteiras das zonas de colonização na América do Sul, alterando profundamente a dicotomia de ocupação até então existente entre lusos e castelhanos. Os dois povos, subordinados à mesma coroa, ganham a permissão de transitar livremente entre as duas áreas colonizadas — embora, na prática, o intercâmbio humano seja pouco.

Uma das principais mudanças exercidas pela União Ibérica é o fato de que Portugal passaria a ser inimiga dos adversários da Espanha, como Inglaterra e as recém-emancipadas Províncias Unidas dos Países Baixos. Fazendo assim com que potências como Inglaterra, França e Holanda invadissem e ocupassem áreas de dominação dos reinos ibéricos, como a Guiana, Pernambuco e as ilhas Malvinas, além de várias ilhas no Caribe. Os espanhóis não conseguiram recuperar mais estas terras, enquanto que os portugueses só conseguiram expulsar os invasores após a recuperação da independência com a Revolução de 1640.

Do lado espanhol a divisão administrativa das colônias fez com que se formassem alguns vice-reinos: o Vice-Reino do Prata (onde hoje é atualmente a Argentina, Uruguai e Paraguai), o Vice-Reino de Nova Granada (atualmente Colômbia, Venezuela, Equador e Panamá), o Vice-Reino do Peru (atual Peru, Bolívia e norte do Chile) e uma capitania, a Capitania Geral do Chile, enquanto que o lado português teve duas divisões, o Estado do Maranhão e o Estado do Brasil, que depois foram unificados e nomeado Vice-Reino do Brasil.

Pouco a pouco foi surgindo uma nova classe social e étnica, com base na miscigenação entre colonos ibéricos e os índios, essa miscigenação deu origem os mestiços ou gentio (na América Portuguesa) e os mestizos ou criollos (na América Hispânica). Nas áreas de escravidão, ocorreu o mesmo entre europeus e africanos, surgindo assim os mulatos, cafuzos e mamelucos. Assim como os nativos, os mestiços eram forçados a pagar impostos abusivos, entretanto tinham mais acesso à cultura e de certa forma se viam herdeiros do patrimônio cultural católico e europeu. Aos poucos, esta nova raça começou a se rebelar contra o sistema de dominação colonial.

No final do séc. XVIII alguns lingüistas perceberam que línguas antigas faladas na Europa, como, latim, grego e o sânscrito tinham semelhanças notórias em sua gramática, indicando assim seguinte afirmação de Rodríguez(200, p.1):

"O português e o espanhol são línguas que têm muito em comum porque ambas tiveram a mesma origem, surgiram no mesmo período histórico em áreas geográficas contínguas, em princípio limitadas à Península Ibérica. Ambas adquiriram seu patrimônio tradicional do latim hispânico, levado pelos romanos durante os vários séculos que ocupavam toda ou grande parte da Península".

As mudanças do latim ao português e o espanhol

Podemos perceber que com o passar do tempo e a influência de outras línguas o latim foi modificado até chegar no português e no espanhol, veremos algumas dessas mudanças.

Segundo Câmara Junior,

"é inconcebível, por exemplo, que de súbito, no território lusitânico da Península Ibérica, uma forma latina como lupum pudesse ter passado imediatamente para lobo, sem a longa cadeia evolutiva que na realidade se verificou" (1972a, pp.35-36)

Sendo assim podemos perceber as mudanças em cada idioma:

Latim EspanholPortuguês

Clamarellamarchamar

Clavellavechave

Plenullenocheio

Plicare llegarchegar

Mais alguns exemplos de mudança são descritos por Jose Joaquim Nunes no artigo - "Sobre a transformação do latim em português"-, veremos então um trecho:

"Como qualquer ser vivo que, antes de atingir a forma que o distingue dos outros, passa por fases diversas, que lhe vão alterando as feições, as línguas, antes de se fixarem, sofrem sucessivas e constantes modificações. Assim, por exemplo, entre os vocábulos latinos factu- e falce- e os actuais feito e fouce, devem admitir-se os intermédios faito e fauce. Igualmente pessoa, v.g., não de um jacto de persona-; esta palavra, na boca da plebe romana, soava pessona-, daqui, pela ressonância especial comunicada à vogal pela nasal seguinte, passou a pessõa e desta forma à actual, donde três estádios para o mesmo vocábulo, sem que se possa determinar quando um desapareceu para dar lugar ao outro..."

Já as mudanças do latim ao espanhol, estão apontadas no estudo de Sergio Zamora em – "La evolución en los últimos cinco siglos- vejamos quais são elas:

oDesaparece aspiração dos h, o que confirma a versificação; Se funden en un único fonema la s sonora y sorda, prevaleciendo el valor sordo.

oFundir num único fonema o "s" sonoro e o surdo, prevalecendo o surdo; Las consonantes ç yz pasan a ser el fonema fricativo (con pronunciación equivalente a ts) que se escribirá ç durante el siglo XVI y pasará a tener el valor de la z (con su pronunciación actual) en el siglo siguiente, con lo que de esta manera se resolvió la vacilación ortográfica c, çConsoantes como ç e z passam a serem fonemas fricativos, (com pronúncia equivalente a ts), durante o século XVI se escreve ç, porem posteriormente terá o valor de z (que é a atual pronúncia); Las variaciones fonéticas que representaban x, g, j, se solucionaron también en favor del sonido velar fricativo sordo que en el XVII pasa a tener la pronunciación y grafía actuales de gy de j.

oVariações fonéticas representando x, g, j, também foram revertidos a sons fricativos surdos, que no século XVII terá a pronúncia e a grafia das atuais de g, y de j.

oDesapareció asimismo la distinción -b-, -v- que se neutralizó en -b- durante el siglo XVI.A distinção de v e b na pronuncia também desapareceu e se reverteu apenas no som de b.

oEn la morfología aparecieron los tiempos compuestos de los verbos, y se convierte en auxiliar el verbo haber.Na morfologia surgiram os tempos verbais compostos, tornando o verbo "Haber" em auxiliar (ex: habia dicho).

*Na sintaxe a ordem dos elementos numa oração fica mais rígida, e se coloca os pronomes átonos antes de verbo no infinitivo e no gerúndio.

*No ponto de vista léxico foram incorporados uma grande quantidade de neologismos. Vejamos alguns tipos:

Neologismo de forma - Consiste na criação de novas unidades.

Por prefixação - reiniciar (re- iniciar); reubicar (re-ubicar).

Por sufixação – (-ear) alocatear, (-al) opcional)

Por empréstimo – aldea global; módem.

Por emprego de sigla – RI (Red Iris), Ibertex.

Neologismo de sentido - Consiste em dar um novo significado a uma palavra já existente. Por exemplo os termos utilizados em informática. En la sintaxis el orden de los elementos de la oración se hace más rígido, y se anteponen los pronombres átonos a infinitivos y gerundios.

Bajar (fazer download de um arquivo).

Caer (é utilizado quando uma conexão é interrompida, ou seja, tem um sentido de perda)

Para terminar...

Concluímos com os estudos necessários para o desenvolvimento deste artigo, que existe um número grande de influências na formação do português e do espanhol. Percebemos então o quão semelhantes são essas duas línguas, isso se faz possível visto que tiveram uma mesma base – o latim-. Vimos também o percurso do latim saído da Península Ibérica até a América do Sul e o que isso acarretou na formação do português e do espanhol nesta mesma região.

Foi apresentado também a origem histórica do português e do espanhol, como forma de mostrar as mudanças sofridas por estes no decorrer do tempo e das interações com línguas diversas.

Referências

CÂMARA, Mattoso Jr.(1976) História e estrutura da língua portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro: Padrão

JOHNSON, A.G.(1997.) Dicionário de sociologia. Jorge Zahar, Rio de Janeiro

Kipnis,Renato. A colonização da América do Sul. São Paulo.



[1] Licenciado do curso de Letras com habilitação em língua portuguesa e língua espanhola e respectivas literaturas.

[2] Licenciada do curso de Letras com habilitação em língua portuguesa e língua espanhola e respectivas literaturas.

[3]Licenciado do curso de Letras com habilitação em língua portuguesa e língua espanhola e respectivas literaturas.