UMA IGREJA SOFREDORA

Por Paulo de Aragão Lins | 31/08/2009 | Bíblia

UMA IGREJA SOFREDORA

 

by Dr. Paulo de Aragão Lins

 

A cidade de Esmirna, na Antigüidade, foi por muitos anos uma cidade muito rica, antes de ser destruída totalmente no século VI a.C. Mais tarde, por volta do ano 300 a.C. foi reconstruída por Alexandre, o grande. Daí para frente, tornou-se uma das cidades mais importantes e prósperas da Ásia Menor. Esmirna era o local de uma das sete igrejas mencionadas em Apocalipse.

 

Esmirna significa “Mirra”.

 

A mirra é um arbusto que cresce nas regiões desérticas, especialmente na África (nativa da Somália e partes orientais da Etiópia) e no Médio Oriente. É também, o nome dado à resina de coloração marrom-avermelhada obtida da seiva seca dessa árvore (Commiphora myrrha). A palavra origina-se do hebraico maror ou murr, que significa "amargo".

 

A igreja de esmirna passou por grandes amarguras, na realidade, Jesus disse para ela: “Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás”.

 

Era uma igreja sofrida, que enfrentava tribulações e isto em meio à pobreza que potencia qualquer tribulação. Mas o Senhor disse que ela era rica. 

 

Ainda havia ali um grupo de falsos judeus, aqueles que a Bíblia chama de “judaizantes”. Eram pessoas que desejavam impingir na igreja as coisas velhas do judaísmo, desprezando a nova luz, a aurora do Evangelho puro pregado pelo Senhor Jesus.

 

A carta a Esmirna é a carta à Igreja perseguida. Esmirna é considerada pelos historiadores como o local do primeiro martírio cristão existente. A história da Igreja narrada por Eusébio em sua obra denominada "História Eclesiástica", nos conta que foi em Esmirna que Policarpo, um discípulo do Apóstolo João, e principal pastor da Igreja, foi martirizado no ano de 159 d.C.

 

Os relatos indicam que o procônsul romano, Antonino Pius, e as autoridades civis tentaram persuadi-lo a abandonar sua fé e entregar seu rebanho, quando já avançado em idade e preso pelos seus inquiridores, respondeu com autoridade: ‘Eu tenho servido a Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou?” A atitude de Policarpo levou-o a ser queimado vivo em praça pública.

 

Os fabricantes de mirra esmagam a planta várias vezes, até o momento em que ela exala o perfume característico, um dos mais balsâmicos que existem. Assim como a mirra produzia sua fragrância através do esmagamento, esta igreja foi completamente esmagada por todos os lados. A própria mensagem de Cristo atesta isso: “Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico)”. A perseguição tornava-se intensa, os bens da Igreja e de seus membros eram confiscados um a um.

 

Os cristãos de Esmirna foram literalmente esmagados, tornando-se um cheiro de perfume suave para Deus, mas jamais se desesperaram ou se entregaram ao materialismo.

 

A palavra de Jesus a Policarpo e a igreja pastoreada por ele, foi: “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida”.

 

A primeira lembrança que o Senhor Jesus traz para a igreja é que ele esteve morto e reviveu. Jesus sabia que muitos ali morreriam, por isto quis mostrar que não se deve temer a morte, pois depois dela virá a gloriosa ressurreição.

 

Paulo enfatizou isto muito bem, quando disse: “Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos”. 2 Tm 2.11.

 

Existe, hoje, uma mensagem generalizada que o crente não pode sofrer. Existem “orações poderosas” para espantarem o fantasma do sofrimento da vida dos fiéis.

 

Mas não fui eu quem disse:

 

Rm 5.3 -  E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência,

 

Rm 12.12 -  Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração;

 

2 Co 1.4 -  Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.

 

2 Co 4.17 -  Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente;

 

At 14.22 -  Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus.

 

Os pregadores do Evangelho não são sádicos, nem os crentes são masoquistas, a grande realidade é que nós sofremos. A grande virtude, a grande graça, não é se esquivar do sofrimento, mas é enfrentá-lo com brio.

 

Mais uma vez cito o apóstolo Paulo, que além de doutor em outras coisas era doutor em sofrimento. Ele padeceu muito, mas veja o que ele disse:

 

“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados. Perseguidos, mas não desamparados. Abatidos, mas não destruídos. Trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos”. 2 Co 4.8-10.

 

Foi ele que em sua vida de apóstolo/missionário enfrentou o que ele descreve tão vividamente:

 

“São ministros de Cristo? Falo como fora de mim, eu ainda mais. Em trabalhos muito mais. Em prisões muito mais. Em açoites sem medida. Em perigo de morte muitas vezes. Dos judeus cinco vezes recebi quarenta açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo. Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha raça, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos. Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejuns muitas vezes, em frio e nudez. Além dessas coisas exteriores, há o que diariamente pesa sobre mim, o cuidado de todas as igrejas. Quem enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu me não abrase? Se é preciso gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza. O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é eternamente bendito, sabe que não minto. Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas guardava a cidade dos damascenos, para me prender. Mas por uma janela desceram-me num cesto, muralha abaixo. e assim escapei das suas mãos. 2 Co 11.23-33.

 

Doeu em sua alma, irmão(ã)? Na minha doeu. Sempre repito que talvez o pior sofrimento de Paulo é o sofrimento que os verdadeiros cristãos enfrentam nos dias de hoje. Quero colocar em letras maiúsculas e em negrito este quadro o qual nosso irmão Paulo teve que enfrentar: EM PERIGOS ENTRE FALSOS IRMÃOS.

 

Aqui, em minha cidade, João Pessoa, pastores oferecem dinheiro para membros de conjuntos musicais de outras igrejas se mudarem para as deles.

 

Vão à busca de pastores e ministérios que já estão “cobertos”, oferecendo-lhes “cobertura”.

 

A famosa “pesca de aquário” está por demais disseminada por aqui. Acho que somos a cidade campeã nesse esporte famigerado. Mas, não se espante, todos eles tem um argumento sólido e aparentemente lógico para a pescaria que fazem. Eles dizem:

 

“Não ligo se alguém me critica por pescar em aquários. Faço isto porque sei que minha igreja e meu ministério podem oferecer coisa bem melhor para estes coitados que estão comendo palha em suas igrejas”.

 

Puxa vida, que sem-vergonhice! Que hipocrisia! Que fingimento! Que falsa devoção! Que embuste! Que engano! Que intrujice! Que logro!

 

Se você se lembrar de mais alguns sinônimos semelhantes, pode aplicá-los, porque o certo é chamar esses charlatães de golpistas, malandros, tapeadores, marotos, patifes, tratantes, velhacos, vadios, vagabundos, trapaceiros, ladrões, vigaristas, gatunos e ratos.

 

Vão trabalhar, preguiçosos! Deixem a mamata do pesque-pague!

 

No tempo do apóstolo Paulo eles já existiam. Paulo os denunciou: “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo”. 2 Co 11.13.

 

São discípulos daquele que gosta de transfiguração e se transfigura em anjo de luz.

 

Vamos suportar a tribulação de dez dias?

 

(Refs. Ap 2.8-11.)