UMA ESCOLA COMPROMETIDA COM A FORMAÇÃO DE LEITORES
Por Beatriz Joana dos Santos | 21/06/2017 | EducaçãoUMA ESCOLA COMPROMETIDA COM A FORMAÇÃO DE LEITORES[1]
Beatriz Joana dos Santos[2]
“A boa leitura é aquela que nos leva para dentro do mundo que nos interessa viver.” Paulo Freire
RESUMO: O artigo vem mostrar a importância da leitura para a construção do conhecimento, buscando a descrição compreensiva dos modos de olhar, sentir e vivenciar a importância da leitura na vida e no aprendizado do educando. Pretende-se também, em um breve relato mostrar a importância da gestão escolar na formação de leitores, visto que a escola é um ambiente que deve oferecer situações que propiciem e que desperte nos alunos o desejo pela leitura, e que possa ampliar as habilidades dos mesmos para que se tornem leitores autônomos e tenham sucesso na sociedade da informação e da tecnologia. Para isso foram feitas algumas pesquisas bibliográficas sobre o assunto.
PALAVRAS- CHAVE: O papel da escola, o papel do gestor, formação do leitor.
INTRODUÇÃO
O artigo abordará a experiência e observação que tenho com pedagoga na Escola Pedro Aleixo, município de Alta Floresta D’Oeste e faz uma reflexão sobre a escola como fonte de formação de bons leitores, tendo a gestão escolar como mediadora desse processo.
A escola é um espaço privilegiado para estimular o gosto pela leitura, mas infelizmente, as salas de aula estão longe de serem celeiros de leitores, salvo por algumas exceções.
Na maioria dos casos a experiência que deveria ser prazerosa se torna uma tarefa burocrática, e as crianças depois de se tornarem jovens e adultas acabam não lendo mais nada, mas, obviamente é possível mudar esse quadro.
O objetivo, é mostrar que a escola neste contexto deve ser órgão capaz de implementar a leitura na Educação Infantil e Séries Iniciais, motivando os jovens leitores através de uma mudança de concepção, ou seja, transformando a leitura como algo agradável, fonte não apenas de informação, mas principalmente de lazer.
Conclui-se que a leitura é importante, pois ela é a base para que o ser humano possa aprender, ensinar e evoluir.
A sua grandiosidade não pode ser vista apenas com processo de alfabetização, mas também como algo além, que sirva para a compreensão do mundo em que se vive.
Como afirma FREIRE, 2004: 53: “saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.
O PAPEL DOS GESTORES E DOS EDUCADORES
A leitura é uma das competências mais importantes a ser desenvolvida pela escola, disso ninguém duvida. O grande desafio está em como fazer este trabalho ser bem sucedido.
LERNER, 2002: 27-29 afirma que:
“O desafio é (...) formar leitores que saberão escolher o material escrito adequado para buscar a solução de problemas que devem enfrentar e não alunos capazes apenas de oralizar um texto selecionado por outro. (...) O desafio é conseguir que os alunos cheguem a ser produtores de língua escrita, conscientes da pertinência e da importância de emitir certo tipo de mensagem em determinado tipo de situação social, em vez de se treinar unicamente como copistas que reproduzem – sem um propósito próprio – o escrito por outros, ou como receptores de ditados cuja finalidade – também estranha – se reduz à avaliação por parte do professor. (...) O desafio é conseguir que a escrita deixe de ser na escola somente um objeto de avaliação, para se constituir realmente num objeto de ensino (...) chegar a leitores e produtores de textos competentes e autônomos”.
Os gestores tem a função de acompanhar, avaliar, monitorar o desempenho dos educadores, avaliando a repercussão na aprendizagem dos educandos, precisam buscar as necessidades que existem dos educandos de suas escolas estarem imersos em um ambiente leitor, tendo a oportunidade de gostar de ler, para tornar este ambiente de alfabetização em um espaço que motive o desejo pela leitura, despertando-a como algo necessário e tentador.·.
Segundo LERNER, 2002: 28:
“O desafio é formar pessoas desejosas de embrenhar-se em outros mundos possíveis que a literatura nos oferece, dispostas a identificar-se com o semelhante ou a solidarizar-se com o diferente e capazes de apreciar a qualidade literária”.
Durante o tempo de observação desenvolvido para este trabalho foi possível ver que a escola tem alguns fatores que trazem consigo a rejeição a leitura.
Como diz Ferreira, 2009:71, destaca-se:
“Ausência de uma pratica democrática em sala de aula [...] desvalorização do espaço da biblioteca;concepção do livro como instrumento de transmissão de normas linguísticas ou comportamentais; inexistência ou oferta restrita de texto nos lares dos alunos [...]”.
É preciso, pois, a partir desta realidade criar algumas estratégias para mudar este quadro e fazer com que a leitura seja um processo comunicativo e presente no dia a dia das pessoas. É preciso que gestores estejam atentos para criar os mecanismos necessários para despertar nos educandos o gosto pela leitura.
Sabe-se, conforme FREIRE, 2008:47 que é praticando a leitura que se aprende ser um bom leitor, já que:
“Se é praticando que se aprende a nadar, se é praticando que se aprende a trabalhar, é praticando também que se aprende a ler e a escrever. Vamos praticar para entender e aprender para praticar melhor”.
No espaço da educação infantil, as crianças não encontram textos para aprender, mas aprendem com eles, não buscam textos para estudar ou para se alfabetizar, mas, nesse convívio, aprendem sobre si, sobre os outros e sobre os modos de viver coletivamente.
É neste sentido que FREIRE, 31:2004, afirma que:
“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. [...] ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar”.
Muito, além disso, ler e produzir textos nas escolas deve estar associado à ação simbólica sobre o mundo, onde o educando consiga constituir-se como um sujeito que pensa, sente e dialoga.
CHARTIER; CLESSES; HÉBRARD, 1996: 115: “para uma criança, os conhecimentos são em primeiro lugar, construídos dentro da experiência do mundo na qual ela se move, age, e fala com adultos e outras crianças”.
A escola deve ter como objetivo formar cidadãos críticos, com opiniões próprias e força de caráter. Isso, em grande parte, se dá com a leitura. Sua prática traz consequências maravilhosas, os conhecimentos de mundo se ampliam prazerosamente, e não ocorrem por imposição.
Vemos isso em LERNER, 2002:95 quando afirma que:
“Para que a instituição escolar cumpra com sua missão de comunicar a leitura como prática social, parece imprescindível uma vez mais atenuar a linha divisória que separa as funções dos participantes na situação didática. Realmente para comunicar às crianças os comportamentos que são típicos do leitor, é necessário que o professor os encarne na sala de aula, que proporcione a oportunidade a seus alunos de participar em atos de leitura que ele mesmo está realizando, que trave com eles uma relação ’de leitor para leitor”.
Através da leitura o educando pode desvendar a existência ao seu redor, e, ao romper seu horizonte de expectativas, amplia seu universo de entendimento.
Na criação e formação de sua própria identidade, o público da educação infantil e séries iniciais precisam ser estimulados. Criando-se fantasias, despertando o seu potencial imaginativo, aflorando seu pensamento infantil e sua capacidade intuitiva para a realidade, pois como diz LERNER, 2002:79-80:
“Na escola [...] a leitura é antes de mais nada um objeto de ensino. Para que também se transforme num objeto de aprendizagem, é necessário que tenha sentido do ponto de vista do aluno, o que significa-entre outras coisas-que deve cumprir uma função para a realização de um propósito que ele conhece e valoriza. Para que a leitura como objeto de ensino não se afaste demasiado da prática social que se quer comunicar, é imprescindível “representar”- ou “reapresentar”-, na escola, os diversos usos que ela tem na vida social”.
A partir dai cabe ao educador ser o intermediário nesse processo, pois a interação entre educador e educando é de fundamental importância na busca do conhecimento. O educador precisa ser o espelho para seus educandos, precisa gostar de ler e mostrar isso em sala de aula.
Pois conforme FREIRE, 1987: 12:
Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo, ou seja, o atode educar, de se ensinar a ler, precisa se constituir em um pacto entre o educador e o aluno.
A BIBLIOTECA
A biblioteca escolar é uma aliada no apoio às atividades pedagógicas e para ampliar os conteúdos oferecidos em sala de aula, e, além disso, contribui para estimular e para incentivar o hábito e o gosto pela leitura.
Segundo PEREIRA, 2009: 45:
[...] “biblioteca como um espaço privilegiado, em que se dá o encontro do leitor com diversas formas de registro do conhecimento. É nesse espaço também, que pode se estabelecer o diálogo entre indivíduos que compartilham informações, impressões, experiências. É importante que esse local seja agradável e ofereça condicões para a interação entre os sujeitos e para a apropriação de informacões por parte dos leitores. Quanto maiores as oportunidades de diálogo, tanto melhores serão as trocas de experiências. Quanto maiores as oportunidades de leitura, maiores serão, também, as possibilidades de se formar leitores autônomos”.
Para isso precisa ser um espaço acolhedor, convidativo, que venha de encontro ao desejo de leitura que existe no educando. Precisa ter uma pessoa responsável (bibliotecário) que oriente e ajude os educandos a deixar os livros organizados, a cuidar para não rasgar, não sumir e poder manter este espaço para o uso de todos.
De acordo com SILVA(2009:116):
“A biblioteca da escola deve estar organizada de modo que proporcione aos alunos e aos demais membros da comunidade escolar a busca pela leitura. Além disso, ela coopera com as ações da escola, pois fornece aos estudantes espaço parapesquisa e estudos nos momentos de aprendizagem. Para tanto, faz-se necessário estabelecer uma ação pedagógica integrada entre a biblioteca e a sala de aula, e entre a biblioteca e a comunidade escolar”[...].
A biblioteca é um ambiente favorável para a leitura, condição necessária ao desenvolvimento social e a realização individual. E sabe-se que a escola representa a única oportunidade de ler que muitos educandos têm, talvez, única oportunidade de contato com os livros que são identificados como livros didáticos, criar no educando o hábito de ler é um importante passo para o educador, e a biblioteca é o grande sustentáculo dessa missão.
Portanto, é necessário propiciar na biblioteca a leitura viva, diversificada e criativa, representando a forma de pensar, de agir e sentir de cada educando.
Segundo ALMEIDA JÚNIOR; BORTOLIN 2009:206-207:
“A biblioteca escolar precisa ser percebida como um ambiente de formação de leitores e pesquisadores, e os profissionais que nela atuam devem criar em torno das ações de leitura e pesquisa um clima de liberdade e ludicidade, porém para isso esses profissionais têm a difícil tarefa de estabelecer o limite entre a permissividade e a autoridade. [...] Nada mais motivador para professor e bibliotecário que ter alunos curiosos e desejosos”.
Para que aconteça essa ação pedagógica integrada o profissional responsável pela mesma deve ser um amante da leitura, deve saber dialogar com os educandos e com os demais profissionais da escola e deve compreendê-la como um local de desenvolvimento da leitura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dessas linhas buscou-se entusiasmo criador, principalmente pela confiança e convicção como educadora, de que o futuro está na educação, principalmente na Educação Infantil e Séries Iniciais.
Considerando a experiência que tenho como educadorade séries iniciais foi possível observar que o hábito de leitura pode se iniciar a partir da mais tenra idade, com atividades lúdicas adequadas à idade de cada criança e estimuladas pela família que é sem dúvida a base para a inserção da criança no mundo letrado.
Quando a criança é inserida na escola, o educador no exercício de suas práticas deve sugerir atividades em que a participação da família seja indispensável.
Para isso, atividades como ler, cantar e contar histórias para as crianças devem ser ações do cotidiano familiar e escolar. Dessa forma, a leitura deve ser concebida como método básico indispensável ao ensino aprendizagem, de maneira integrada a todas as disciplinas.
Conclui-se assim que a principal função da escola é desenvolver no educando a capacidade de aprender a aprender, e um dos principais instrumentos para esse aprender é o domínio da linguagem, adquirido através da leitura e da escrita.
Portanto, a escola deve inserir em seuprojeto pedagógico à formação dos leitores, sustentado por uma biblioteca com bom acervo e, por outros ambientes de leitura e circulação de livros.
Diante disso, compreende-se que o educador, em sala de aula é sem dúvida o responsável pela aquisição de práticas de leituras, elaborando táticas significativas na formação de leitores.
Para que isso seja um exercício autêntico, o educador deve ser um leitor efetivo e ter claro que somente aquele que lê e ama os livros é capaz de formar outros leitores.
Um educador sem preparação, que pouco lê que não possui recursos para conduzir seus educandos no caminho da leitura, que não possui técnicas e metodologias não se efetivará nesse processo.
Para tanto, precisamos de educadores comprometidos com o trabalho e que estejam dispostos a envolverem-se de tal maneira a quebrar barreiras para realização de um trabalho inovador.
Educadores e educandos nesse processo podem ser verdadeiros parceiros para compreender o que é o ato de ler.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA JÚNIOR, Osvaldo Francisco de; BORTOLIN, Sueli. Bibliotecário: um essencial mediador de leitura. In: Biblioteca escolar e práticas educativas. O mediador em formação. Campina, SP: Mercado das letras, 2009.
CHARTIER, Anne Marrie;CLESSES, Christiane, HÉBRARD, Jean. Ler e escrever: entrando no mundo da escrita. Porto Alegre:Armed, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. Paz e terra, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. Editora Cortez, 47ª edição, São Paulo, SP, 2006.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: três artigos que se completam. 49ª edição, São Paulo: Cortez, 2008.
LERNER, Delia. “É possível ler na escola?” LERNER, D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.
PEREIRA, Andréa Kluge. O que pode fazer a escola. Biblioteca na Escola. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2009.
SILVA, Rovilson José. Biblioteca escolar: organização e funcionamento. In: Biblioteca escolar e Práticas Educativas: O mediador em formação. Campina, SP: Mercado das letras, 2009.
[1]Artigo apresentado a Faculdade de Rolim de Moura como avaliação parcial no curso de Gestão Orientação e Supervisão com ênfase em Psicologia Educacional, sob a orientação do Professor Msc. Nelson Costa.
[2]Licenciatura Plena em Pedagogia. Professora na Escola Pedro Aleixo, Município de Alta Floresta D’Oeste-RO, biajoana2012@live.com.