UMA DIDÁTICA PARA A PEDAGOGIA HISTÓRICO CRITICA: ANÁLISE DE UM DOS PASSOS, A PROBLEMATIZAÇÃO
Por Mayara dos Santos | 14/12/2016 | EducaçãoAniuslaine Aliny Comissio[1]
Jocineli Polis Colombo[2]
Mayara dos Santos[3]
INTRODUÇÃO
A didática da Pedagogia Histórico Crítica, pautada na filosofia do Materialismo Histórico Dialético de Marx e na psicologia Histórico Cultural de Vigotski, tem como marco referencial a teoria dialética do conhecimento que fundamenta a concepção metodológica, o planejamento do ensino e aprendizagem bem como a ação docente.
Pelo método dialético de construção do conhecimento compreende-se que essa construção aconteça a partir de bases materiais, pela relação de existência social dos homens e o processo de transformação que é empregado por estes sobre a natureza, que também o modifica.
Pensar educação nesse sentido é compreender que ela deva ocorrer de forma contextualizada. Exige uma postura educacional reflexiva, evidenciando a construção histórica do conhecimento produzido pelos homens em suas relações de trabalho.
Por conseguinte, temos de acordo com Gasparin (2002), cinco passos que formam a didática da pedagogia histórico crítica. São eles: Prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final. Esses passos visam uma aquisição relativamente significativa de conhecimento pelos educandos, objetivando um equilíbrio entre teoria e prática.
Dentre eles, discorreremos sobre a problematização procurando entender sua natureza e função por meio de uma análise do segundo capítulo do livro Uma Didática para a Pedagogia Histórico Crítica de João Luiz Gasparin (2002).
PROBLEMATIZAÇÃO: EXPLICITAÇÃO DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS DA PRÁTICA SOCIAL
A problematização faz parte do processo de teorização da prática escolar, que permite o desdobramento e análise do conteúdo, interligando e contrastando com a prática social inicial dos alunos. É o elemento essencial na relação entre teoria e prática em que se dá início o trabalho com o conteúdo sistematizado.
É por meio do questionamento, da dúvida, da problematização, que professor e aluno juntos, constroem o conhecimento. Todavia temos que compreender que problematizar não é só formular questões ou perguntas, pois nem toda pergunta contém um problema. Na problematização temos conflitos que fazem parte de todo o problema apresentado.
Para que o conteúdo seja significativo para o aluno, é necessário que ele compreenda as relações que o formaram e sua relevância atualmente, entendendo assim a necessidade de ser estudado. Passando do conhecimento empírico ao conhecimento teórico científico.
Segundo Lopes (2002), o maior problema em questão é o processo de apropriação do conhecimento pela escola, a retirada dos conceitos de sua historicidade e problemática. Os saberes ensinados aparecem como saberes sem produtores, sem origem, sem lugar, transcendentes ao tempo, ensinando-se apenas o resultado, isolando-os da história de construção do conceito, retirando-os do conjunto de problemas e questões que os originaram.
Se na prática social inicial – nível de desenvolvimento atual do educando – busca-se fazer uma sondagem sobre o que professor e aluno já sabem sobre o conteúdo, na problematização explicitam-se os principais problemas postos pela prática social. É o momento em que o professor discute com os alunos, levantando questões problematizadoras, partindo da troca de experiências oportunizadas pela prática social inicial. Considerando as múltiplas facetas, pelas quais o tema exposto pode ser abordado, verificando suas contradições. Essas dimensões do conteúdo serão trabalhadas então na instrumentalização.
A problematização representa o elo entre prática social inicial e instrumentalização. Tem como finalidade selecionar as principais interrogações levantadas na prática social. Essas questões são aquelas das quais se buscará respostas/soluções. Para tanto se torna necessária à definição dos conteúdos aos quais se deve dominar para resolução de tais problemas.
Segundo Lopes (2002) nesta perspectiva de ensino, os currículos escolares tornam-se inadequados à realidade em que estão inseridos, pois estão centrados em conteúdos muito formais e distantes do mundo vivido pelos alunos, sem qualquer preocupação com os contextos que são mais próximos e significativos para os alunos e sem fazer a ponte entre o que se aprende na escola e o que se faz, vive e observa no dia a dia. É neste âmbito que a contextualização do ensino toma forma e relevância no ensino, já que se propõe a situar e relacionar os conteúdos escolares a diferentes contextos de sua produção, apropriação e utilização.
É neste sentido que Gasparin levanta em seu texto a problemática a respeito da definição dos conteúdos a serem estudados. Questiona sobre o que deveria vir primeiro, o conteúdo ou as questões sociais. Entende que seria ideal que os professores definissem os conteúdos fundamentando-se na prática social e nas necessidades sociais. Em contrapartida sabe que os conhecimentos a serem trabalhados, são produto universal e histórico, assim não é possível estabelecer o que deve vir primeiro. As duas possibilidades podem ser usadas concomitantemente com o mesmo propósito.
É claro que na ordem prática escolar, os conteúdos precedem as questões sociais. São previamente estabelecidos, definidos por um currículo e aprovados antes mesmo do início das aulas, ou seja, antes do professor ter contato com o aluno e compreender sua realidade.
A explicitação e problematização dos conteúdos devem contemplar e revestir-se de dimensões históricas, econômicas, políticas, ideológicas, filosóficas, religiosas, técnicas, etc., que precisam ser tratadas juntamente a dimensão científica. São através delas em que se buscará resolver as questões da prática social, pois se entende que os conteúdos escolares devem ser instrumentos de compreensão da realidade, por meio da qual se tem em vista a transformação social.
Por meio de procedimentos práticos, a experiência docente sempre parte de um currículo, mas não deve ater-se única e exclusivamente a ele, deve visar no currículo à realidade, pois de nada adianta tentar ensinar os alunos através de conhecimentos distantes. Primeiramente é necessário usar aquilo que ele já possui, ou seja, tudo que ele já aprendeu até o momento de ser inserido na escola, ou no conteúdo que será abordado.
Sabemos que há uma bagagem de conhecimentos que os alunos já trazem consigo, que não são adquiridos na escola e que devem ser considerados. É aquilo que chamamos de conhecimento não formal ou informal e são aprendidos pelas relações estabelecidas no cotidiano. Quando o professor não leva em consideração aquilo que o aluno já conhece ele subestima os conceitos desenvolvidos durante as vivências práticas dos alunos, partindo para um trabalho que não leva em conta a riqueza das aprendizagens provenientes da experiência pessoal, fazendo com que observemos nos ambientes escolares, uma aprendizagem sem significação e, muitas vezes, frustrante para os estudantes, que não conseguem ter um desempenho satisfatório, e desconhecem a necessidade de estudar tal conteúdo.
Por isso é importante que nenhum conhecimento seja descartado, pois podem contribuir para que tenhamos alunos com maior interesse pelas aulas e facilitar a aprendizagem. O professor deve sempre procurar novas metodologias que chamem a atenção do aluno, sem descartar o conteúdo prescrito, mas conciliando conteúdo e realidade. Pois nenhum conhecimento deve ser descartado, devem ser considerados, todavia devem ser superados.
Para a aprendizagem efetiva, na problematização visa-se tornar as questões desafiadoras, partindo de diversas dimensões, visando formar um aluno capaz de compreender as relações que o rodeiam. O professor deve buscar meios de relacionar os conteúdos escolares, pois se entende que o quanto mais próximo da realidade prática do aluno, mais fácil será a aprendizagem. Para que haja um questionamento da prática social e do conteúdo escolar, o professor pode começar a analisar as dificuldades e propor uma reflexão com base no conteúdo a ser estudado, e que essa reflexão seja totalmente cooperativa. Assim ao evidenciar os problemas, se procurará entender as razões pelas quais eles existem, buscando possíveis soluções.
Nesse momento de socialização, é preciso que o aluno compreenda o porquê de aprender determinado conteúdo e qual sua relevância frente às questões e necessidades sociais. E o mais importante aproximar conteúdo à realidade da sociedade.
O conteúdo possui múltiplas faces que podem ser exploradas, trata-se de uma interdisciplinaridade, tendo em vista que dialoga a todo o momento com outros conteúdos, com outros conhecimentos, que podem ser de questionamentos, de confirmação, de complementação, de negação e de ampliação de aspectos não distintos.
Para definir as questões para estudo, é necessário que se parta do conteúdo em discussão para então desafiar os alunos. Ressaltando que todo trabalho deve ser pensado e preparado com antecedência e nunca improvisado, pois toda ação pedagógica deve ter uma intencionalidade.
Para trabalhar com o grupo de alunos o professor deve elaborar perguntas relacionadas à prática social, questões que expressem as dimensões da natureza do conteúdo, que podem ser relativas ou gerais. É importante que o docente para além de propor questões elaboradas com antecedência formule-as também junto com os alunos, a partir da discussão incitada pela prática inicial, anotando essas questões apresentadas, e mantendo-as sempre presentes, como forma de explorar o todo do conteúdo, transformando-o em desafio, demonstrando como o conteúdo programado se intercala com a prática social na busca de compreensão das questões sociais a serem resolvidas.
É importante que os alunos compreendam que ao transformar o conteúdo formal, estático em questões dinâmicas, transforma-se também o processo de construção de conhecimento. Evidenciando como as diversas dimensões, não são nada mais que a expressão da totalidade constitutiva da realidade vivida em certo momento histórico.
Com dois objetivos principais a fase da Problematização pode ser exemplificada, como: reconhecer e discutir sobre os problemas relacionados à prática social e o conteúdo, e a transformação do conteúdo e das práticas sociais iniciais, levando em conta os questionamentos de problematização e desafios.
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