Uma democracia que devia ser o poder do povo

Por Roberto caetano alfredo | 15/05/2017 | Filosofia

             Universidade Eduardo Mondlane 

                  Faculdade de Filosofia          

Depois do acordo de paz de 1992 assinado pelo antigo presidente da república Joaquim Alberto Chissano e Afonso Dlakama o actual maior líder da oposição, Moçambique passa a ter o sufrágio eleitoral que influenciou sobremaneira para que se designasse o Estado moçambicano de democrático. Pese embora que essa democracia tenha predominado somente a nível de teoria. Agora depois de se assistir um cenário de deixar andar e terminar num buraco negro que não é negro é vermelho por estar possuído de sangue de compatriotas a negarem esse processo democratizador.

Agora muitos anos passam, mas a preocupação perdura. Embora a actual preocupação não está ligada à questão em saber “quem deu o primeiro tiro?”, “quem engravidou a nação para parir a democracia?” ou “quem deixou andar e terminar em ver compatriotas a sentir o sabor insalubre de ser moçambicano, enquanto que outros vendem fragmentos de paz a cada dia que passa em troca de pagamento de uma suposta dívida que devesse ser soberana. Mas o maior problema não reside em saber quem fez ou que faz.

Num país democrático que desconhece o sabor da vera democracia, preocupa-me a incompetência em dar sal às definições. A única coisa que se sabe melhor é dissolução Estado-Partido, seguindo a ideia de Bauman o Estado moçambicano já fez streap-tease e agora não está a conseguir recuperar as roupas se é que algum dia as teve. Em 2016 assistimos um cenário que eu em seguida darei nome. E falo com reservas pois agora, morreu o espírito de deixar andar, e das cinzas desse espírito surgiu a forma mais cruel de mostrar que não sabemos ouvir opiniões diferentes.

O que noto nos dias que correm é que a democracia idealizada na Grécia antiga, já não é incorporada, não é aplicada, cada democracia que se encontra sofreu um processo metamórfico que transformou a democracia em elitocracia ou se preferem há uma mudança que não devia acontecer. Uma mudança que confina a massa cinzenta de todo Homem. E eu pergunto, “como pagar essa divida privada publicada?” porque é publico o que é do conhecimento de todos. Eu ouço falar dessa dívida, embora desconheça até a cor do dinheiro de que se fala.

E agora por causa da ausência de uma vera democracia temos visto um cenário que por mim é o derradeiro estágio da impotência de um Estado que é a incapacidade de resolver os problemas pacificamente. E o povo no poder, que outrora estava a sobreviver bem, agora não mais aguenta o fardo do endividamento público, dantes dormia-se ministro e acordava-se cidadão, agora mesmo antes de dormir despertamos com uma dívida que ultrapassa nossa renda de cinco anos.

E agora? Quid democracia? Num país que tentou combater a pobreza e acabou gerando mais pobres absolutos e também ricos absolutos na tentativa de remediar a situação, envenenamos ainda mais. Mas como já se sabe as cinzas não mais ardem. A não ser que nossa fé na paz seja a Phoenix e ressurja das cinzas sem que seja tarde como a coruja da Minerva.

O que sei é que o maniqueísmo mercantilista que se alicerça no capitalismo financeiro não combina com a democracia. Pois o capitalismo não abre espaço para um progresso concomitante ao progresso humano, isto porque visa a acumulação de dinheiro e não a produção de riquezas. Seguido a reflexão feita por Boaventura de Sousa Santos, depois do endividamento avultado, um Estado torna-se uma Estado falhado, ou seja, uma Estado que não está em condições de impor condições. O actual Estado, sem tardar irá criminalizar o protesto, vai criminalizar as manifestações sejam pacíficas ou não. Pois este Estado teme o seu povo.

Mas isso deve-se ao facto do poder económico não ter sido democratizado e tão-somente democratizar-se a dívida pública que não é totalmente pública. E transformando este país num país de incrédulos, infiéis e também fez com que surgisse uma nova profissão aqui que é o “lambebotismo” que vem acompanhada da outra que é “escovar”, essas duas profissões são incompatíveis ao bom funcionamento de um Estado que se quer democrático.

Robertocaetanoalfredo@gmail.com