Uma Batata Livre, Leve E Souté
Por Mauro Teixeira | 02/06/2008 | CrônicasOntem, na hora do almoço, algo inusitado aconteceu. Fui a um restaurante self-service e fiz calmamente meu prato. Pesei, procurei uma mesa vaga e sentei-me para degustar os 547,6 g de puro prazer alimentício. Só que, acidentalmente, derrubei uma das batatas fritas no chão. Ignorei o fato e comecei a refeição. Nisso ouço um ruído estranho. Parecia o de alguém resmungando. Olhei para os lados e não consegui identificar de onde vinha aquele som pitoresco. Decidi voltar ao almoço antes que ele esfriasse. Mas o ruído continuava cada vez mais forte, até que sinto uma pontada o sapato. Era a batata quem resmungava. Recolhi ela, coloquei-a na mesa e questionei o porque de tanta indignação:
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E aí, batata? O que está pegando?
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Poxa, vocês humanos não têm coração mesmo!!
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Por que está falando isso?
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Por algum acaso você sabe o que passei para chegar até aqui?
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Não, conta aí, batatinha!
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Não me chame de batatinha. Eu fiquei vários meses debaixo da terra, sob chuvas, secas, agrotóxicos, pragas querendo me devorar, agricultores me ensacando e me jogando de qualquer jeito no caminhão, sendo cortado por facas enferrujadas nas mãos de homens rudes, jogado no óleo quente e ainda tomando um banho de sal pra que? Pra você me jogar no chão, seu verme narigudo!
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Epa, epa, epa. Narigudo não. Olha que te jogo no chão, piso e te transformo em um purê.
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Pode jogar, minha vida não faz mais sentido agora. Estou frita, vou parar no lixo
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É...realmente sua batata assou agora
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O pior é acontecer isso em um restaurante fuleiro como esse. Poderia ser uma batata souté em um restaurante francês...
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Ou ser um líder religioso nos países de língua espanhola
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Como assim?
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Nestes países, batatas são papas (batata em espanhol é papa)
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Mas o fato é que minha história de amargura terminou de forma patética
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Por que você não fala com seu primo surfista pra ele te ajudar?
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Que primo surfista?
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O Ruffles, a batata da onda
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Ah, não, ele mora em uma casa de batata-palha
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Mas não fica triste, bota uma batata sorriso nesse rosto
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Que jeito, não tenho forças para batatalhar por meus sonhos
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Vai atrás, põe a cara pra batater.
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Obrigado, você é um batata-doce de pessoa
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Que é isso, você que está recheada de qualidades
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Não, me sinto fraco e impotato
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Lembre-se: Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão, é nóis nas fritas, os mano pá, as mina pôu
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Nossa, que lindas palavras. Vou à luta
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O que vai fazer?
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Montar uma banda e tocar batateria.