UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA DA EDUCAÇÃO PELA VERTENTE DE DURKHEIM, GRAMSCI E BOURDIEU.

Por JEOVANE SOARES RODRIGUES | 11/07/2014 | Educação

UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA DA EDUCAÇÃO PELA VERTENTE DE DURKHEIM, GRAMSCI E BOURDIEU. Jeovane Soares Rodrigues Resumo: Este trabalho propõe uma análise sob o ponto de vista dos sociólogos: Émile Durkheim, Pierre Félix Bourdieu e Antônio Gramsci na educação e suas interferências e teorias no processo educativo. Os teóricos aqui estudados afirmam que educação e a escola precisam ser entendidas num sentido amplo, que vai de uma mudança de comportamento a um processo contínuo gerando a transformação social - considerando o crescimento intelectual dos indivíduos. Isso só pode ocorrer com a adaptação dos princípios pré-estabelecidos pela sociedade e transforma-la de acordo com a realidade de cada escola. Palavras-chave: Escola – Educação – Análise Sociológica. Abstract: This paper proposes an analysis from the point of view of sociologists: Émile Durkheim, Pierre Bourdieu and Félix Antonio Gramsci and its interference in education and theories in the educational process. Theorists studied here argue that education and the school need to be understood in a broad sense, ranging from behavior change to a continuous process generating social change - considering the intellectual growth of individuals. This can only occur with the pre-adaptation of the principles established by the company and transform it according to the reality of each school. Key - words: School - Education - Sociological Analysis. Para entendermos o papel da educação e da escola e buscarmos alternativas de mudanças é imperativo estudarmos a educação dentro da sociedade, com os seus determinantes e condicionantes, romper com a visão a histórica de sociedade, apontando para um caminho mais dialético entre as contradições existentes. Sendo assim, analisaremos as ideias de três sociólogos: Émile Durkheim, Pierre Félix Bourdieu e Antonio Gramsci. Analisamos o pensamento de Durkheim: Aqui estão, esta categoria de fatos que apresentam características muito especiais: eles consistem de maneiras de agir, pensar e sentir externas ao indivíduo, que são investidas de um poder coercitivo pelo qual exercem controle sobre o indivíduo. Consequentemente, já que consistem de representações e ações, não podem ser confundidas com fenômenos orgânicos ou físicos, que não tem experiência senão dentro e através da consciência individual. Na concepção de educação para Durkheim está atrelada com a sua teoria sociológica que compreende que a sociedade muda o indivíduo. A educação é um conjunto de moral e regras que é transmitido para os educandos sem a suas vontades individuais. Sendo assim, Durkheim diz que a sociedade é diferente dos indivíduos por ela é o resultado de uma internalização de uma consciência coletiva. E o principal meio do aprendizado de uma consciência coletiva é a escola. Na teoria sociológica de Durkheim, a educação, ou seja, a escola tem o peso fundamental. É a base mais importante, pois na escola há socialização de todas as regras desta consciência. A educação tem como foco em enquadrar nas perspectivas do meio social que estamos inseridos. Esse é o meio da mecanização da ordem social. Caso contrário, o indivíduo não é normal socialmente falando. Toda a escola atual está baseada neste sistema. Do ato da matrícula do aluno até a sua formatura. Todas as regras que não são apreendidas no âmbito doméstico familiar serão internalizadas na escola para poder viver em sociedade tais como: como comportar, acatar as ordens dos mais velhos, cumprir as atividades estabelecidas, usar o uniforme escolar ou do trabalho, e dentre outras. Não há um momento da formação do questionamento. E a mola mestra da engrenagem é o professor. Cabe ao educador transmitir todos os princípios educacionais estabelecidos socialmente falando e tentar fazer o aluno pensar além dos muros da escola. Salienta Freire (2002) Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em relação uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. (p.22) Para isto, é preciso que o professor tenha uma postura crítica, reflexiva e transformadora, desenvolvendo o seu trabalho numa ação coletiva, escola-família-comunidade, e que esta prática esteja fundamentada numa metodologia que permita articular dialeticamente teoria e prática, sem privilegiar nenhum grupo ou classe social. Fazer com que o aluno sinta-se vivo e pertencente da realização da classe social. No atual momento em que estamos atravessando, nessa transição para o terceiro milênio, quando se fala tanto em globalização, e a educação de qualidade para buscar a compreensão do homem integral, é preciso urgentemente repensar a educação em todos os sentidos, romper com essa tendência dominante e desumana de educação e investir em novas propostas curriculares baseadas nos pressupostos de uma educação emancipadora e numa prática pedagógica e sócio interacionista, construtiva e interdisciplinar, que visem realmente uma educação de qualidade, pois esta é o fator primordial de desenvolvimento, ao nível da cidadania e da competitividade. Maria Clara A. C. Fernandes (2012) diz que Gramsci (1990), defende o trabalho como princípio educativo e a escola como ação educativa direta das exigências da produção. É possível entender a diferença entre a “educação para o trabalho” e o “trabalho como princípio educativo”. Seu conceito de educação está associado ao ato hegemônico em que não existe uma educação neutra desvinculada dos fatores ideológicos de uma classe social dominante. Gramsci defende que haja a práxis, ou seja, a união dialética entre a teoria e a prática em qualquer campo de atuação. Pois, somente com o exercício da práxis é que o indivíduo adquire autonomia. Os agentes principais para as mudanças sociais seriam os intelectuais, a escola como instrumento para conquista a cidadania. Assim, a escola não deveria ser um meio ambiente de reprodução da ideologia dominante, mas um lugar de tal ideologia, criticando-a e construindo uma contra a ideologia com a finalidade de promover a difusão cultural entre as classes. Em seus relatos, Gramsci apresenta a criação de uma escola unitária cujo objetivo é por meio das práxis possibilitar a formação de um pensamento filosófico que seja capaz de confrontar as ideologias. Gramsci vai além dos princípios aqui citados de Durkheim. É possível ver em Gramsci um posicionamento de uma pedagogia critica tão comentado por Paulo Freire. Podemos entender o pensamento Freiriano nas linhas de Santiago(2012) “A consciência crítica é, portanto, uma forma de sabedoria à qual correspondem os objetivos do conhecimento gerado pela educação. Ou seja, a intencionalidade pedagógica no trato com o conhecimento, seja ele científico ou popular, é a relação homem/mundo. Nessa perspectiva, o currículo escolar será sempre dinâmico e nele não pode haver conhecimentos/conteúdos descontextualizados, pois é a realidade social que coloca em discussão, no âmbito curricular, os “temas”, cujo interesse geral lança questões e busca respostas para as nossas ações no mundo. Em diálogo com a ciência historicamente elaborada, os saberes e os significados culturais, em transição para a consciência crítica, produzem o conhecimento e induzem ao uso de tecnologias a partir de uma clara visão de seus efeitos na sociedade, nas relações de poder e no compromisso de cada um com o planeta e com as condições de vida das gerações vindouras. (p.7)”. O pensamento mais emblemático de Gramsci (apud Golfe 1998) é: “A tendência democrática de escola não pode consistir em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada cidadão possa se tornar governante”. Partindo desse pressuposto, a educação, enquanto é também a concretização de uma concepção de mundo, concepções esta atrelada as matrizes do poder, compõe-se com tal hegemonia; A educação assim visa ocultar privatizando o público. (O insucesso escolar na sala de aula é atribuído à responsabilidade individual dos alunos), ou universalizando o particular (a educação organizada segundo os interesses de classe dominante é posta como um direito de todos). Ocorre que na sala de aula de hoje, existe sempre a possibilidade da realização de um pedagógico que parta do senso comum, não para justificar o compromisso com a ideologia hegemônica, mas para explicar razões que caminham na direção histórica, de se construir uma nova concepção de mundo, condizente com os interesses da maioria e não com os de uma classe exploradora. Chauí (1980) diz que uma ideologia se torna hegemônica na sociedade quando não necessita de signos visíveis para se impor. É hegemônica quando de maneira espontânea, flui como verdade igualmente por todos. O próximo sociólogo, em tese, Pierre Bourdieu(apud Golfe 1998) criou conceitos tais como: Habitus consiste numa matriz geradora de comportamentos, visões de mundo e sistemas de classificação da realidade que se incorpora aos indivíduos. Campo consiste no espaço que ocorrem as relações entre os indivíduos, grupos e estruturas sociais, espaço este sempre dinâmico e com uma dinâmica que obedece a leis próprias. Capital Cultural é caracterizada nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados. Esses conflitos consagram valores que se tornam aceitáveis pelo senso comum. O domínio do capital cultural favorece o desempenho escolar na medida em que facilita a aprendizagem dos conteúdos e códigos escolares. E violência simbólica mostra o processo pela qual a classe domina economicamente e impõe a sua cultura aos dominados. Exemplifica-se na imposição legitima e dissimulada com a interiorização da massa dominante reproduzindo as relações do mundo do trabalho. Em suma, o que isso tem haver com a escola para Bordieu? A grande contribuição de Bourdieu da sociologia na educação foi que a instituição de ensino e formação não é neutra. Todos os parâmetros citados estão presentes na escola implícitos ou explícitos em determinados momentos. Formalmente, a escola trataria a todos de modo igual, todos assistiriam as mesmas aulas, seriam submetidos aos mesmos exames e forma de avaliação, obedeceriam as mesma regras e, portanto, supostamente, teriam as mesma chances. É possível observar nas ideias do sociólogo que as chances são desiguais, alguns estariam numa condição mais favorável do que outros para atenderem as exigências, muitas vezes implícitas, da escola. Uma frase simbólica desse processo do autor é: “A escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferências de capitais de uma geração para outra. E nela que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. Ou seja, os alunos tendem a serem julgados pela quantidade e pela qualidade de conhecimento que já trazem de seus lares, além de varias heranças, como postural corporal, desenvoltura, habilidades físicas. Os próprios alunos menos favorecidos, acabam encarando a trajetória dos bem-sucedidos como resultante de um esforço compensado. Salienta o autor que três conjuntos de disposições e de estratégias de investimento escolar que seriam adotadas tendencialmente pelas classes populares, classes medias e pelas elites. O primeiro desses grupos, pobre em capital econômico e cultural, tenderia a investir de modo moderado no sistema de ensino. Pois o investimento no mercado escolar tenderia a oferecer um retorno baixo, incerto e ao longo prazo. Esse mesmo grupo social tenderia a adotar o liberalismo em relação à educação dos filhos. A vida escolar dos filhos não seria acompanhada de modo muito sistemático e nem haveria uma cobrança intensiva em relação ao sucesso escolar, atualmente é vulgarmente conhecida como a “terceirização do saber”. A escola tornou se um depósito de crianças e cabe à mesma ser responsável por todo esse saber e imposto àquilo que dever ser ensino as crianças. As classes médias, ou pequena burguesia, tenderiam a investir pesada e sistematicamente na escolarização dos filhos. As famílias desse grupo social já possuiriam um volume razoável de capitais que lhes permitiria apostar no mercado escolar sem correr tantos riscos. As chances dos filhos das classes médias alcançarem o sucesso escolar são superiores, pois empreendem uma série de ações que gerará o capital cultural. Finalmente as elites econômicas e culturais. Esses grupos investiriam massivamente na escola, porém, de uma forma bem mais descontraída, pois o sucesso escolar no caso desse grupo é caracterizado como normal. Assim, as elites estariam livres da luta pela ascensão social, pois já ocupam as posições dominantes da sociedade não dependendo, portanto, do sucesso escolar dos filhos para ascender socialmente. A escola na sociedade capitalista é a instituição mais eficiente para degredar as pessoas, por dividir e marginalizar parte dos alunos com o objetivo de reproduzir a sociedade de classes, existindo assim duas redes de escolarização: uma destinada aos filhos da classe dominante e outra destinada aos filhos da classe trabalhadora. O processo de escolarização é diferente para cada uma das classes sociais, embora a ideologia tente mostrar que é o mesmo. A classe dominante recebe uma escolarização que lhe permite obter os conhecimentos necessários para o seu exército de classe dirigente, para isso, esta classe recebe da escola a “instrução” e a “formação”. Enquanto que a classe trabalhadora passa por uma rede de escolarização que lhe possibilita apenas exercer um trabalho disciplinado dentro de sua condição de classe dirigida, ficando apenas precariamente com a instrução, sem esquecer que muitos membros desta classe ainda são excluídos do saber. Por fim, a “Sala de Aula” dentro do processo escolar seria o principal local onde ocorrem as primeiras relações com o contexto social, pelo o qual estamos inseridos e para que todos os objetivos sejam alcançados é necessário que o ser humano, professor, educador assume o papel consciente de seus objetivos para o educando. Como sabemos a vida seria tomada como a melhor sala de aula de cada um. Não são poucos os ditados populares que dizem, que “a melhor escola, e a escola da vida” ou, simplesmente o que a vida ensina. Pois a sala de aula não é aquele espaço físico inerte de instituição escolar, mas aquele espaço físico dinamizado, prioritariamente pela relação pedagógica. Ambos os autores retratam a educação não pode se limitar à transmissão de conhecimentos, é necessário que nós, educadores, desenvolvamos em nossas salas de aulas, um trabalho humanístico de construção de pessoas. Também é possível ver nos pensamentos dos autores que a imposição é tática utilizada pelos detentores do poder para atingir seu objetivo: continuar com o poder. Dessa forma, não pode haver aprendizagem porque aquilo que é imposto pela escola não desperta nenhuma relevância para os alunos. Para tal, a prática educativa não pode ser ingênua, temos que desenvolvê-la tomando por base o contexto político-econômico e social no qual estamos inseridos. É possível analisar as posições sociológicas dos autores é que a escola assuma o seu papel de mudanças, visando à melhoria da qualidade de vida do educando, mesmo com todas as regras necessárias para viver em sociedade. E é imprescindível que o professor esteja comprometido não só com o pedagógico, mas também com o social. Assim sendo, nós profissionais da educação, estaremos contribuindo para a formação de indivíduos comprometidos com a construção de uma sociedade democrática, apoiada nos alicerces sociológicos dos autores citados e na justiça e no bem estar social. REFERÊNCIAS BRANDÃO, Zaia (org.) A Crise dos Paradigmas e a Educação. São Paulo: CortezEd., 1994. Acessado em 12 de junho de 2014. Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2012/trabalhos/Maria%20Fernandes.pdf Acessado em 16 de junho de 2014. Disponível em: http://www.nhu.ufms.br/Bioetica/Textos/Livros/O%20QUE%20%C3%89%20IDEOLOGIA%20-Marilena%20Chaui.pdf Acessado em 12 de junho de 2014. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/225/217 – p.7 Acessado em 12 de junho de 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n19/14625.pdf Acessado em 12 de junho de 2014. Disponível em: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/AUP840/4dossie/martinoli01/TP1-mx-web.pdf MANACORDA, Mario Alighiero. O Princípio Educativo em Gramsci. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

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