Uma análise sobre o Documento Christifidelis Laici
Por Samuel Colombo Pirola | 03/05/2017 | ReligiãoUma visão geral da Exortação Apostólica Christifideles Laici[1]
Título: Christifideles Laici – Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo
Data: 30 de Dezembro de 1988
Motivo: A grande participação de fieis leigos no Sínodo dos Bispos de 1987.
Autor: João Paulo II
Natureza do Documento: Exortação Apostólica
Destinatários: Aos Bispos, aos Sacerdotes e Diáconos, aos Religiosos e às Religiosas e a todos os fieis leigos.
Visão Geral: Em um primeiro momento apresenta-se a Introdução, que se divide em sete subtópicos. O Capítulo I, por sua vez, vai tratar da Dignidade dos fieis leigos na Igreja-Mistério. O Capítulo II trata da participação ativa dos fieis leigos na vida da Igreja-comunhão. Já o Capítulo III traz a corresponsabilidade dos fieis leigos na Igreja-missão. O quarto capítulo trata sobre os bons administradores da multiforme graça de Deus. O quinto e último Capítulo fala sobre a formação dos fieis leigos. João Paulo II finaliza a exortação fazendo um apelo e uma oração para Nossa Senhora.
Introdução: Os fieis leigos pertencem ao povo de Deus que é representado na imagem dos trabalhadores da vinha, tratado no Evangelho de Mateus (Mt 20, 1-2). Esta parábola faz abrir os olhos para a imensa vinha do Senhor e a multidão de pessoas, homens e mulheres, que Ele chama e envia para trabalhar nela.
O Senhor continua a passar e chamar mais trabalhadores para a sua vinha (Mt 20, 3-4), e dirige-se assim a todo homem e mulher que venha a este mundo. A Igreja do Concílio Vaticano II, numa renovada efusão do Espírito de Pentecostes amadureceu uma consciência mais viva para a missionariedade. A chamada é para todos os fieis leigos, não somente para sacerdotes, pastores, religiosos e religiosas.
Na situação em que o mundo se encontrava, tanto eclesialmente, como socialmente, economicamente e politicamente, todos os fieis leigos devem se engajar no serviço. O Evangelho de Mateus (Mt 20, 6-7), vai trazer que não há lugar para o ócio, uma vez que é muito o trabalho que a todos espera na vinha do Senhor. É por meio dos fieis leigos que a Igreja de Cristo torna-se presente nos mais diversos setores do mundo, como sinal e fonte de esperança e de amor.
Capítulo I: Este capítulo trata sobre a dignidade dos fieis leigos na Igreja-mistério. Num primeiro momento fala sobre o Mistério da Vinha, esta serve para exprimir o mistério do povo de Deus. É mistério porque o amor e a vida do Pai, do Filho e do Espírito Santo são o dom totalmente gratuito oferecido a todos aqueles que nasceram da água e do Espírito. Só no interior do mistério da Igreja como mistério de comunhão se revela a identidade dos fieis leigos.
Através do Batismo é que o fiel leigo é identificado. Por este mesmo Sacramento ele se torna filho no Filho, como que um novo nascimento; um só corpo em Cristo, numa incorporação com o próprio Cristo; e Templos vivos e santos do Espírito, na qual recebe a marca e unção indelével do mesmo Espírito.
Os fieis leigos participam do tríplice múnus (sacerdotal, profético e real), de Jesus Cristo. Do sacerdotal, pois incorporados em Cristo Jesus, os batizados unem-se a ele e ao seu sacrifício. O múnus profético habilita o fiel leigo a aceitar, na fé, o Evangelho e a anunciá-lo com palavras e obras. E o múnus real chama os fieis leigos ao serviço do Reino de Deus e a sua difusão na história.
Dentro de um mundo secular, o fiel leigo é chamado a viver na santidade. Ele é chamado a viver no mundo, embora não seja do mundo, e é enviado no meio deste para dar continuidade a obra redentora de Jesus Cristo. Todos dentro da Igreja partilham de uma vocação comum para a santidade. Esta santidade para os fieis leigos deve ser vivida como uma obrigação exigente e que não se pode renunciar, como que um sinal luminoso do infinito amor do Pai que os regenera para uma vida santa.
Capítulo II: Este capítulo trata sobre a participação dos fieis leigos na vida da Igreja-comunhão. A comunhão dos cristãos com Jesus tem por modelo, fonte e meta a mesma comunhão do Filho com o Pai no dom do Espírito Santo.
Cada fiel leigo encontra-se em relação com todo o corpo e dá-lhe o seu próprio contributo. A Igreja, é dirigida e guiada pelo Espírito que distribui diversos dons e carismas a todos os batizados, chamando-os a ser, cada qual a seu modo, ativos e corresponsáveis. Na Igreja encontram-se os ministros ordenados, estes são uma imensa graça para a vida e missão da Igreja.
Com relação aos ministérios dos leigos, quando a necessidade ou a utilidade da Igreja o pedir, os pastores podem, segundo as normas estabelecidas pelo direito universal, confiar aos fieis leigos ofícios e funções, que embora ligados ao ministério de pastores, não exigem, contudo, o caráter de Ordem.
O Espírito Santo enriquece a Igreja ainda com os carismas. A descrição e a classificação do Novo Testamento faz desses dons são um sinal de sua grande variedade. (1Cor 12, 7-10). Os carismas, são graça do Espírito Santo que tem, direta ou indiretamente uma utilidade eclesial. Os carismas não param de florescer entre os fieis leigos. Estes devem ser recebidos com gratidão e todos os carismas estão em referência e dependência dos pastores da Igreja.
Os fieis leigos participam da vida da Igreja, não só pondo em ação seus ministérios e carismas, mas também de muitas outras formas. O fiel leigo participa da vida das Igrejas particulares e da Igreja universal, da Paróquia, na qual deve desenvolver um empenho apostólico. Juntamente com os sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, os fieis leigos formam o único povo de Deus e Corpo de Cristo. Cada um, em sua unicidade e irrepetibilidade, com o seu modo de ser e de agir, põe-se a serviço do crescimento da comunhão eclesial. O bem de todos torna-se o bem de cada um e o bem de cada um torna-se o bem de todos.
Capítulo III: O capítulo aborda sobre a corresponsabilidade dos fieis leigos na Igreja-Missão. Todos são chamados a comunhão missionária, sabendo que a comunhão gera comunhão e reveste essencialmente a forma de comunhão missionária. O Senhor confia aos fieis leigos, em comunhão com todos os outros membros do povo de Deus, uma grande parte de responsabilidade.
O fiel leigo é chamado a anunciar o Evangelho, através de uma nova evangelização, indo por todo o mundo, sem medo e com a vontade de anunciar, levando o Evangelho a quantos for possível. Além de anunciar a Palavra, o fiel leigo deve dar o Testemunho, servindo as outras pessoas e a sociedade, assim poderá ajudar a promover a dignidade da pessoa, preservando o inviolável direito à vida, exigindo o respeito, a defesa e a promoção dos direitos da pessoa humana. Todo fiel leigo que se dedica a missão deve ter a liberdade de invocar o nome do Senhor e é na família que ele encontrará o primeiro espaço para o empenho social.
Neste ambiente o fiel leigo deve abrir-se a caridade, que será a alma e o sustentáculo da solidariedade, a caridade, com efeito, anima e sustenta a solidariedade ativa que olha para a totalidade das necessidades do ser humano. Os fieis leigos ainda, não podem abdicar absolutamente de sua participação na política, e devem buscar e prezar pelo bem comum. O fiel leigo ainda deve se colocar no centro da vida econômico social, bem como se inserir na cultura como meio para a evangelização.
Capítulo IV: Este capítulo vai falar que os fieis leigos são bons administradores da multiforme graça de Deus. Ele inicia falando sobre a variedade de vocações que se encontram entre os fieis leigos. Segue afirmando que os jovens são a esperança da Igreja, e merecem uma atenção especial, constituindo-se assim como um grande desafio para o futuro da Igreja. Eles são sujeitos ativos, protagonistas da evangelização e artífices de uma renovação social.
Quanto as crianças, estas são o alvo do amor delicado e generoso de Jesus, é para elas que está reservado o Reino dos Céus. É na idade da infância e adolescência que se abrem preciosas possibilidades operativas tanto para a edificação da Igreja quanto para a humanização da sociedade.
Ainda trata dos idosos e o dom de sabedoria que provem deles. O dom que o idoso traz consigo identifica-se com o de ser, na Igreja e na sociedade, a testemunha da tradição da fé, o mestre de vida e o obreiro da caridade.
O capítulo continua falando sobre a questão das mulheres, sendo necessário e urgente defender e promover a dignidade pessoal da mulher, e a sua igualdade com os homens. A mulher tem uma participação ativa e responsável na vida e na missão da Igreja. Embora não tenham sido chamadas para o apostolado próprio dos Doze, muitas mulheres acompanharam Jesus no seu ministério e dão assistência ao grupo dos Apóstolos.
Com relação aos doentes e atribulados, a exortação vai dizer que a pessoa humana é destinada à alegria, mas todos os dias experimenta variadíssimas formas de sofrimento e dor. A Igreja vai afirmar que participa do sofrimento dos menos favorecidos e afirma que também os doentes são enviados como trabalhadores da vinha do Senhor. O homem que sofre é caminho da Igreja. É necessário uma ação pastoral em favor dos doentes e dos que sofrem, e o doente deve ser considerado como um sujeito ativo e responsável na obra de evangelização e de salvação.
A última parte do capítulo fala que existem inúmeros estados de vida e vocações para os leigos, e esta diversidade aponta para a riqueza infinita do mistério de Jesus Cristo. Assim, dentro do estado de vida laical há lugar para várias vocações, diversos caminhos espirituais e apostólicos que dizem respeito a cada fiel leigo. “Cada qual viva segundo o carisma que recebeu, colocando-o a serviço dos outros, como bons administradores da multiforme graça de Deus” (1Pd, 4,10).
Capítulo V: O último capítulo vai tratar sobre a formação dos fieis leigos. É necessário um amadurecimento contínuo e permanente para a missão. Dentro dessa formação o fiel leigo deve descobrir e viver a própria vocação, sabendo que é Deus quem chama e envia. A formação do fiel leigo deve ser integral para que se viva em unidade, sabendo que encontram-se na situação de membros da Igreja e de cidadãos da sociedade humana.
Alguns aspectos que devem ser observados na formação integral dos fieis leigos é a espiritual, a doutrinal, a catequese, a cultura, a doutrina social da Igreja, os valores humanos. Assim, os fieis leigos poderão ser colaboradores de Deus educador, e a formação reciprocamente recebida, deve ser dada por todos, e esta será mais eficaz na medida em que se dê abertura a ação de Deus.
Referências Bibliográficas
JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici. São Paulo: Paulinas, 1989.
[1] O autor, Samuel Colombo Pirola, é Bacharel em Filosofia, graduando em Teologia e pós-graduando em Liderança e Administração Eclesiástica.