Um show de hipocrisia e uma ode à homofobia
Por Joel Carlos Santana Santos | 09/11/2011 | Sociedade
A cada dia que se passa, tomo mais nojo do povo brasileiro. A estultice desse povo beira as raias do ridículo. Agora se mostram consternados com os gastos públicos em coisas “inúteis”, estão assustados com o que vídeos podem fazer com a “educação” das crianças (ou a falta de educação, orientação de berço propriamente dita). Nunca houve tanta preocupação com o papel da escola, e com o da família, como tem havido após o surgimento do kit gay. São jovens, velhos, homens, mulheres e, até mesmos, os próprios gays ofendidos e temerosos com uma campanha, uma mera campanha anti-homofobia; uma como outra qualquer, que gasta dinheiro público e mete o bedelho onde “não deveria”, intromete-se naquilo que é papel da família: crack, gravidez precoce, envolvimento de menores no crime, violência infanto-juvenil nas escolas, bullying, pedofilia, desonestidade, voto vendido e etc.
Nos últimos dias, os canais de TVs só mostraram opiniões contrárias à campanha contra a homofobia, do Ministério da Educação. Por que será? Não houve um único ser vivente autonomamente crítico, neste país, que pudesse ver o lado nobre da ideia? O que mais se esperará para que se principiem providências, que outras lâmpadas sejam estouradas no rosto de gente inocente? Que se matem mais homossexuais pelo simples preconceito e ojeriza à diferença? Ou que se separem os gays ilhados como os viciados nas crackolândias? Dá igual ou realmente não há nada que ver? O problema da homofobia não precisa de atenção? Pode-se gastar milhões com os Centros de Reabilitação, com internações de viciados, cadeias públicas, mas não com programas antiviolência homofóbica? O que seria um método adequado para se tratar de um assunto-tabu como esse?
É certo que pus em pé-de-igualdade dois eventos totalmente distintos, mas não são eles responsabilidades da família? Está aí o elo que os une. O crack é um problema social, de saúde pública, de segurança, de economia, de família, pessoal e de escolha. A sexualidade é sim uma ‘coisa’ pessoal, mas não uma escolha; entretanto, a homofobia é uma mazela social, de saúde pública, criminal e – além de perpassar à tutoria da família (seja quanto a vítimas ou a agressores) – é dever da escola esclarecê-la, como crime que é, e desmistificá-la, fazendo com que não pareça normal como a fofoca, a difamação, o bullying, a agressão à mulher, as drogas, as chacinas e etc. Um indivíduo homofóbico não entende que tem que respeitar o outro, que as pessoas são o que são e não é ele quem ditará regras nem mudanças.
Nas escolas, sempre se pôde discutir o aborto, a eutanásia, a ética de um pai que bate na esposa e ensina ao filho que é o homem quem manda, que ele é menino e pode, mas sua irmã não; pôde-se até falar de clonagem, de atentados terroristas, do mensalão, de vídeo games violentos, nelas pode-se até ouvir músicas que depreciam a mulher, que fazem apologia à violência, à pornografia, ao tráfico, que incitam os jovens contra a polícia, fazendo com que desconsiderem a lei e o contrato social (...), mas não se pôde, não pode e jamais se poderá falar de sexualidade, pois tais jovens vão ser influenciados a serem lésbicas, pederastas, pedófilos ainda que sua orientação penda para a heterossexualidade, o culturalmente normal ou coisa assim!
Nunca se viu uma campanha como essa antes, e por isso não houve homossexuais por aí? Só não vê quem não quer. Basta andar pelas ruas e muitos serão vistos. O que falta é respeito e esclarecimento. E não adianta tentar tapar o sol com a peneira: não há pai que se sinta confortável em falar de sexo com o filho, seja hétero ou homo, seja ele menino ou menina. Desde que o mundo é mundo que os filhos são criados como Deus criou batata. Poucos são os adultos de hoje que ouviram outrora do pai ou da mãe lições sobre masturbação, namoro, e muitos chegaram à adolescência acreditando em cegonha (Que peste de animal é esse? De que fauna?) e só descobriram a menstruação quando sujaram a roupa. É um tanto hipócrita achar que sexualidade se influencia por vídeos ou pela experiência alheia, senão: quantos filhos de machos héteros inveterados virariam bichas? E tem muitas por aí. O que este país precisa é de menos falso moralismo, que muitas vezes está escorado num senso pseudocristão (que Deus me perdoe) de alguém que não cumpre nenhum dos mandamentos: não matarás; honra teu pai e tua mãe e etc., faz feitiçaria, rouba, engana e mente, mas diz que não concorda com a homossexualidade.
E vivam o Brasil da hipocrisia e a homofobia... que Deus nos ajude daqui para frente!