UM POUCO DA NOSSA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Por Dorotéa Sanglard | 04/05/2016 | EducaçãoUM POUCO DA NOSSA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
*Dorotéa Sanglard
Por que rever a história passada? Só olhando e conhecendo o passado é que saberemos porque somos e como somos. Segundo Saviani,
“Considerando que é pela história que nós nos formamos homens; que é por ela que nós nos conhecemos e ascendemos à plena consciência do que somos; que pelo estudo do que fomos no passado descobrimos ao mesmo tempo o que somos no presente ao mesmo tempo o que no presente e que podemos vir a ser no futuro, o conhecimento histórico emerge como uma necessidade vital de todo ser humano”[1].
É bem verdade que cada indivíduo se constrói na relação com os outros. E essa é uma constante nas relações de crescimento. Uma especificidade caracteristicamente humana.
Em 1549, chegam ao Brasil os padres jesuítas. Por 20 anos os jesuítas foram os únicos educadores no Brasil. Durante esses anos imbuídos da fé cristã deixam suas marcas na história da educação brasileira. Fundaram escolas que ensinavam a ler, a contar e a escrever.
Em 1759, os jesuítas foram expulsos de Portugal e suas colônias. Criou-se um abismo decorrente dessa saída que não foi preenchida de imediato. Em março de 1808 a família Real desembarca no Rio de Janeiro. E com essa mudança é que a educação e a cultura tomam força. Cria-se instituições culturais e científicas, de ensino técnico e dos primeiros cursos superiores. Todos os avanços que aconteceram com certeza foram a partir das necessidades da família real. Percebe-se um maior investimento em curso superior e um menor investimento nos ensinos iniciais.
No ano de 1822, com a independência de Portugal, mudanças aconteceram. Surgiram as políticas educacionais. Uma dessas mudanças foi que “pela primeira vez se associou apoio universal e educação popular – uma como base do outro”[2]. Na constituição de 1824 ficou firmado “instrução gratuita a todos os cidadãos”. Em 1827, criaram-se “escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e vilarejos, envolvendo as três instâncias do Poder Público”[3]. Mas a ideia não vingou e a educação superior também não.
Em 1920, surgiram as universidades do Rio de Janeiro, em 1927 a de Minas Gerais, e em 1934 as de Porto Alegre e de São Paulo. Em 1937, instaurou-se o Estado Novo, com uma constituição autoritária, houve retrocesso na educação. Após a queda de Getúlio Vargas, em 1945 muitos projetos foram retomados. O Projeto Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi enviado ao Congresso Nacional em 1948 e foi aprovado em 1961, Lei nº 4.024.
Com a Revolução de 1964, se iniciou um período autoritário, o sistema educacional passou por mudanças. Investimentos em todos os níveis da educação, sempre em defesa da escola pública, universal e gratuita. “Em 1969 e 1971, foram aprovadas respectivamente a lei 5540/68 e 5692/71, introduzindo mudanças significativas na estrutura do ensino superior e do ensino de 1º e 2º graus”[4].
Em 1988, outra constituição foi promulgada, o investimento foi “para a universalização do ensino fundamental e erradicação do analfabetismo”[5].
Com o tempo, família e escola se aproximaram e passaram a ser cada vez mais importantes e participativas na experiência formadora do indivíduo centralizado no universo educativo, o homem carrega em si a cultura vigente do seu tempo.
Em um contexto de pobreza econômica aparece um homem que não aceitou uma vida comum, num lugar comum. Nasce em Pernambuco, em 1921, um homem de alma controversa com “humildade intelectual e afetiva e a simplicidade foram traços marcantes de seu caráter”[6]. Paulo Freire acreditava que a “educação que é uma ação desveladora do mundo e do sujeito”[7].
Paulo Freire, educador brasileiro, conhecido pelo método de alfabetização de adultos. Para ele “o objeto maior da educação é conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, levá-las a entender sua situação de oprimido e agir em favor da própria libertação”[8].
Critica a prática de ensinar transmitindo o conhecimento. Pois para ele “a missão do professor era possibilitar a criação ou a produção de conhecimentos”. Ele pensa que para o professor “um papel diretivo e informativo, portanto, ele não pode renunciar a exercer autoridade. Segundo o pensador pernambucano, o profissional de educação deve levar os alunos a conhecer conteúdos, mas não como verdade absoluta. Freire dizia que ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas”[9].
Freire valoriza a cultura do aluno que é a “chave para o processo de conscientização”[10]. Este é o ponto central para seu método de alfabetização. “Basicamente, o método propõe a identificação e catalogação das palavras –chave do vocabulário dos alunos”[11]. Essas palavras da vida das pessoas, dos alunos é que serão significativas para a aprendizagem dos adultos não alfabetizados. Por exemplo: um trabalhador da construção civil conhece bem um tijolo. E essa palavra que o levará ao processo de alfabetização.
O método de alfabetização de adultos de Paulo Freire consiste em três etapas:
“O primeiro é aquele em que o educador se inteira daquilo que o aluno conhece, não apenas para poder avançar no ensino de conteúdos, mas principalmente para trazer a cultura do educando para dentro da sala de aula. O segundo momento é o de exploração das questões relativas aos temas em discussão – que o aluno construa o caminho do senso comum para uma visão crítica da realidade. Finalmente, volta-se do abstrato para o concreto, na chamada etapa da problematização: o conteúdo em questão apresenta-se dissecado, o que deve sugerir ações para superar impasses. Para Paulo Freire, esse procedimento serve ao objetivo final do ensino, que é a conscientização do aluno”[12].