Um oráculo sobre a ambição
Por Daniela da Silveira | 17/01/2017 | ReligiãoO sábio ancião Eivor, o vidente Avery e o jovem maduro guerreiro Pedragon
Um oráculo sobre a ambição
O maduro guerreiro Pendragon, saiu a procura do sábio ancião Eivor que junto do velho vidente Sir Avery se encontrava envolta da fogueira aquecendo seus corpos do mortífero frio que fazia na província de Uppsala, ao encontrá-los, convidou-se a sentar junto dos dois anciões e após um longo e silencioso olhar nas chamas crepitantes da vigorosa fogueira, cabisbaixo inquiriu o velho sábio Eivor e lhe perguntou: sábio Eivor, porque os homens são tão ambiciosos? Após um breve silêncio o velho Eivor lhe respondeu: Jovem e maduro guerreiro Pedragon, de todas as desonras, a ambição é a pior das desonras cometida pelos homens ao deus Odin.
E o velho respirou profundo e taciturno continuou a falar: Jovem Pedragon, O ambicioso tal como a serpente, sempre está à espreita da presa, o ambicioso sempre quer mais e mais e sem se contentar ele continua querendo sempre mais... O ambicioso reúne em sí todos os vícios, pois o libidinoso deseja somente o sexo desenfreado, o guloso deseja somente a maior quantidade de comida, o vaidoso deseja somente fartar-se de sí, porém o ambicioso não! O ambicioso se torna guloso, covarde, vaidoso, libidinoso, mortífero, mentiroso, falso, traidor, etc… Desenvolvendo na alma todos os vícios que melhor lhe aprouver para conseguir o objeto de sua ambição. O ambicioso deseja o poder sobre tudo! Poder, eis a palavra que define o ambicioso, pois ele não tem natureza própria e assume a natureza do seu par, fazendo de tudo para agradá-lo até que se assente no trono no qual não lhe pertence e nem nunca pertenceu. O ganancioso tal como o guloso ou o libidinoso, tem gana por um desejo que lhe satisfaz, o ambicioso não! Ele quer o poder e o poder implica tudo em absoluto, ele quer o destaque em todas as posições!
Mais uma profunda pausa e o velho Eivor continuou: Cuidado com aquele que tem sede de poder! pois aquele que tem sede de poder lhe aplaude o tempo todo e faz das mãos instrumentos de bajulação, porém não lhe sobrará tempo para carregar a alça do seu caixão quando morto for em batalha, pois o ambicioso bajulador estará ocupado com as mesmas mãos na sua corôa e em tudo que você tem.
Para o ambicioso, qualquer meio justifica o seu fim que é estar no poder.
Fuja meu filho enquanto é tempo e se afaste de toda serpente sedenta de poder, pois este já está com sua mente governada pela maior das maldições "a busca insaciável e irascível pelo destaque que o poder exerce"
Seja como o gênio dos desejos, e conceda todos os desejos a quem lhe solicitar, pois em verdade, todo iludido acha que é portador de algo, quando tudo é obra do divino.
Não se assente em nenhum lugar, ou em nenhum reino, pois todos os reinos lhe pertence, pois tudo pertence aquele que nada quer, pois sabedor é, que tudo ao criador pertence.
O ambicioso não goza da amizade, pois faz dela um meio para atingir os seu fins pessoais, o ambicioso não tem amigos e sim oponentes e usurpadores, o ambicioso não tem amigos e sim são ególatras, o ambicioso dorme com um olho aberto e outro fechado, pois tudo que tem não lhe fora herdado por direito natural e sim trocado por subserviência, o ambicioso traz em sí a eterna maldição de estar sempre jogando, e não tem um só momento para relaxar no lombo dum cavalo e observar as estrelas, o ambicioso desconfia de um abraço, desconfia de um sorriso, desconfia de uma traição, pois ele enxerga no próximo os vícios que os tem sedimentado em sí mesmo.
O ambicioso teme se olhar no espelho, pois a ambição lhe rouba a face e lhe obriga a usar uma máscara para cada ocasião, o ambicioso quer estar em alguma posição e é só isso que importa! O ambicioso é aquele que vai a guerra não por saber lutar e sim como uma ave de rapina ele vai aos campos de batalha só para se apropriar dos restos dos grandes guerreiros mortos em honrosa luta. A alma do ambicioso apodrece no reino de Helgardh, pois nem o sagrado senhor Odin vem reclamar sua alma já corrompida e putrefata em vida.
O ambicioso mesmo não sabendo reinar e nem tendo talento para isso, resolve assumir o trono do Rei, não pelo bem comum e sim somente para acumular poder, o ambicioso não sabe o que faz ali, somente quer estar ali. No vocabulário do ambicioso não existe gratidão, pois segundo sua viciada forma de pensar, a gratidão revela humildade e para o ambicioso a humildade é uma fraqueza incorrigível. O ambicioso nunca será grato a nada e a ninguém, pois teme revelar a mão que lhe ajudou nas eternas batalhas da vida.
O ambicioso é violento e violentador, pois sempre que vê revelada sua fraqueza faz questão de anular seus opositores, por fim o ambicioso desconhece o sentido da palavra amigo e não sabe que um amigo é justamente aquele que nos revela a nossa maior virtude e o nosso maior vício. O ambicioso por ter a alma envenenada pela ambição, mata o Pai e o filho para que nunca saibam a sua origem. O ambicioso não tem origem pois ele nasce da ambição que não se limita no meio para conquistar o seus fins, o ambicioso nasce do nada porque na verdade nada é...
A conversa foi interrompida pelo silvar de um corvo que ali acabara de passar, o velho vidente Avery que até aquele momento a tudo ouvia no mais absoluto silêncio, resolveu se pronunciar: Vamos até minha casa, pois Odin enviou o seu corvo sinalizando um presságio e por esse motivo jovem Pedragon, vou revelar o que os deuses lhes falam através das Sagradas Runas de Odin.
Ao ler as Sagradas Runas de Odin, o velho inspirado por Mímir a fonte de toda a sabedoria, emite um oráculo:
“Haverá um tempo que o mundo novo será governado apenas por imperitos ambiciosos, haverá um tempo que toda a humanidade inverterá o sentido da palavra humildade e irão se achar bons e talentosos para tudo, irão buscar o aplauso ambicioso dos também ambiciosos asseclas bajuladores, e o mundo será constituído em grande parte por ambiciosos, o novo mundo verá na humildade uma fraqueza ou uma covardia ao dizer: Eu nisso não sou bom ou isso eu não estou apto a fazer, e o mundo irá lhe chacotear, pois reconhecer seus limites será visto como uma fraqueza e todos não terão limites... Haverá muitos Reis e nenhum súdito, haverá muitos mestres e nenhum discípulo, haverá muitos sacerdotes porém nenhum aprendiz e todos irão querer ser videntes e não mais haverá consulentes, pois todos irão se achar exímios em tudo, desconsiderando assim o don natural e o talento individual no qual cada um nasce ungido e faz dele sua missão.
E você jovem guerreiro... será visto como louco, pois a maldita ambição não fará morada em seu pobre coração, irá ganhar prestígios e posições diante de Reis que louvaram seus feitos, porém a todas posições irá negar e renegar, pois irá atender a um pedido gritante que se encontra oculto no silêncio dos olhos desejosos dos teus irmãos ambiciosos, cujo olhar brilha por uma oportunidade e por uma porta aberta, mesmo que essa porta os levem para um abismo. Haverá muitos que irão navegar em barcos suntuosos mesmo sem saber içar a vela, e você irá recuar como um bom gênio da ambição e não porque você seja ambicioso porém irá receber esse título porque lida com a ambição alheia, e a todos concede e realiza o desejo de ambicionar um lugar, mesmo que esse lugar seja a bigorna onde O sagrado Thor golpeia seu martelo divino. Serás neutro e a tudo e a todos generosamente concederás, concederá o leme do barco, mesmo que o tripulante seja imperito no assunto, satisfará a vontade dele mesmo que por obra dele o barco afunde com todos a bordo, pois essa é sua missão: permitir que todos realizem seus ambiciosos desejos, pois não terás lugar algum e não terás nada e se alguém desejar um lugar que você ocupa ou supostamente esteja, imediatamente serás dado sem questionamento e sem ressentimentos, pois teu reino serás o vazio das ambições, pois em ti trará o antídoto que anula a ambição, porém a verás em todos que ausentes do criador a manifesta em si, serás dono do vazio e do nada, pois aquele que achar que você ocupa algum lugar e desejar ocupa-lo somente por ambição e sem comprometimento, você então abrirá mão do seu lugar no vazio, para que vazio seja o ser que ocupa-lo, pois só você se sustentará no vazio, pois traz em si a leveza que os ambiciosos não tem, traz em sí a consciência de que a tudo ao divino Odin pertence, e mesmo sem nada ter, irão querer aquilo que a ilusão e a ausência divina fazem crer que você tenha, será oferendado como o senhor dos comércios onde nos cais dos portos lhe clamarão pela boa negociação que você trará, á tudo você conquistará mas só aos ambiciosos irá atender os desejos, e de lá do alto do seu vazio existencial da ambição que nada têm, irá gargalhar com a aflição da ambição daqueles que tudo desejava sem nada ter.
Eis a sua sina "servir a todos servindo ao todo", que espera que você generosamente ceda sua posição do vazio para aquele cujo peso da ambição o fara cair eternamente num abismo de tormenta que o poder traz...
E que Loki os receba de braços abertos e os purifique das suas ilusões”.
Algo mais, o oráculo não lhe falou...
E assim agradecido o guerreiro partiu, concluindo que sua missão iria ser árdua pela cobiça que sofreria e ao mesmo tempo iria ser branda, pois bastava ceder seu lugar e generosamente atender os desejos dos ambiciosos que nunca se sustentariam e flutuariam no vazio das ambições pois eram desejosos de poder o que os fazia pesar mil toneladas de vícios...
Concluí que daria aquilo que cada um queria, tal como o solo que a tudo semeia e nada nega até que a colheita chegue e cada um se alimente daquilo que plantou no seu caminho...
E assim partiu o não tão jovem mas já um tanto maduro guerreiro, Pedragon seguiu a risca o conselho do sábio e partiu sem olhar para trás, conquistou muitas e muitas riquezas a qual as depositava ao pé do seu Rei, até que um dia o Rei lhe oferece parte de sua riqueza, lhe oferece um reino, e lhe indaga o que mais desejas meu fiel, leal e guerreiro ímpar? diga e lhe darei! No qual Pedragon sem titubear lhe respondeu: a mim não falta nada alteza e se me permite desejo só me retirar e lavar meu já cansado e ensanguentado corpo nas águas de Njord.
Riqueza e poder! Eis a matéria prima que atormenta os ambiciosos, trazendo aflição para aquele que assume aquilo que por ambição não lhe pertence enquanto atributo. Poder e ambição, matéria prima no qual muitos se humilham como ratos sedentos por uma mísera migalha do pão da ambição, alimento este que entorpece os sentidos virtuosos e fomenta os vícios e as inclinações da carne.
E assim na sua última batalha, já cansado e coberto de sangue, olhou para o céu que trovejava a cada martelada de Thor e gritou aos nove mundos… “Ambição, eis o maior veneno da alma” e numa prece silenciosa e num último fio de vida disse: Odin meu Pai e Senhor, a ti entrego o único bem verdadeiro pelo qual os ambiciosos não lutam e não dão nenhum valor, a ti amado Odin entrego o meu único e incorruptível bem maior e lhe peço que aceite como oferenda a minha alma honesta e embebida no sangue que jorra dos corpos degolados e desejosos dos concupiscentes irmãos para que na sua iluminada presença eu possa ser purificado dessa nódoa do passado que envolve meu velho e cansado espírito...
E assim levado por uma Valquíria se foi para Valhalla o grande salão dos mortos de Odin e lá viverá a eternidade junto dos seus honrados irmãos de lâminas, até que o Ragnarok ou o dia da grande batalha final se concretize e junto do seu Senhor possa de uma vez por todas extinguir a, humana demasiada ambição humana.
Hail, Hailsa nobre senhor Odin.
Fim...