UM NOVO OLHAR A CADA NOVA MUDANÇA NO MUNDO DO TRABALHO.
Por Mendoca Júnior José Augusto | 13/05/2009 | EducaçãoUM NOVO OLHAR A CADA NOVA MUDANÇA NO MUNDO DO TRABALHO.
José Augusto Mendonça Júnior.
*Graduando do sétimo período do Curso de Educação Física – UFMA.
RESUMO.
Este artigo tem como objetivo compreender as diversas mudanças ocorridas no homem e no mundo do trabalho e suas influências no âmbito da Educação Física no Brasil e, tudo isso através do seu contexto histórico. Para a compreensão do assunto fez-se necessário buscar dados históricos relacionados aos vários modelos de produção, além, de fazer indagações a respeito deles e de sua inter-relação com a disciplina. Todavia, é com essa compreensão das mudanças e suas influências que se pode ter consciência de perceber com um olhar capaz de fazer análise sobre o contexto histórico em mudança.
Palavras-chave: Trabalho. Trabalhador. Modo de produção. Educação Física.
1. INTRODUÇÃO
O homem começou a sua empreitada no curso de sua existência buscando a sobrevivência. A partir de isto, ele passa a usufruir e transformar a natureza em seu benefício, de tal forma que modifica sua própria natureza, ou seja, ele a humaniza.
E desta forma, ele dá início ao chamado trabalho, trabalho este que para muitos significa libertação e que para outros, tortura, obrigação.
No início de sua existência a palavra trabalho tem o significado etimológico, e vindo do latim tripaliare e de substantivo tripalium que é um aparelho de tortura, que servia para prender escravos e também animais arredios.
Para os gregos e os romanos, segundo ARRUDA & MARTINS (2003), o trabalho manual não era digno, sendo realizado apenas pelos escravos. Já para o cidadão grego cabia o chamado ócio, que significa tempo livre, não se preocupar com a sua subsistência, preparar o copo e o espírito, e para os romanos, trabalho significa negócio (negar o ócio).
Entretanto, para as autoras citadas acima, na Idade Média essa visão totalmente obscura do trabalho manual é minimizada, pois Santo Tomás de Aquino propõe a equivalência entre o contemplativo e manual, mesmo tendo uma melhor visão ao primeiro.
No entanto, com a ascensão da classe burguesa, que tinha em sua origem o trabalho como maneira de sobrevivência e libertação. Surge um novo embate, qual seja a relação entre aquele que pensa e aquele que faz, ou seja, o dono do trabalho e o trabalhador.
Com o aparecimento das fábricas o trabalhador é diluído em três esferas. Conforme Ugarte (2007), afirma:
Corpos, ferramentas e o tempo natural trabalharam integrados por séculos. Como exemplo, citamos a arte de tecer, uma das mais antigas atividades humanas. Um processo complexo, que envolvia muitos fios, dispostos na urdidura, que combinados e entrelaçados transformavam-se em tecidos; os pés guiando o tear e as mãos selecionando os fios e carretéis. (UGARTE, 2007, p. 2).
Mas, com o surgimento das fábricas apresenta-se o capitalismo que por sua vez trouxe mudanças na vida social e econômica da época. Onde se passou a trabalhar em troca de salário, sendo necessário vender a força de trabalho e se submeter a uma nova mensagem de mundo do trabalho, ou seja, a divisão das tarefas, que era bem diferente da manufatureira da Idade Média. Com esse perfil, o capital lança no cenário a retenção do lucro, peça chave para o capitalista, com extensas jornadas de trabalho.
Para melhor explicar, relata Ugarte (2007), que:
a implantação dos novos meios de produção, inclusive, corpos construídos para o trabalho.Quando se acelerou o processo de industrialização, as famílias foram retiradas de seu território e levadas para trabalhar em fábricas, morando em cantos fétidos que marcaram o início do meio urbano. A jornada de trabalho chegava a 14 horas. Desterritorializada, a pessoa, antes vista por inteiro – mente, corpo e espírito –, perde o seu centro e fica nas mãos manipuladoras do poder. (UGARTE, 2007, p. 3).
Outro olhar está lançado em direção ao conhecimento que o trabalhador tem que adquirir para se enquadrar nesse novo panorama da produção, fragmentado, especializado, ou seja, ele não tem mais o conhecimento da fabricação do produto como um todo, somente de parte dele. O Homem assume uma característica materialista, onde ele precisa ser útil e aceitar tudo bestialmente, assim como deseja o detentor de sua força de trabalho. Segundo Ugarte (2007), podemos dizer:
que a visão da energética e do materialismo que permeavam os finais do séc. XVIII e o séc. XIX e a construção de corpos 'docilizados' e utilitários para o trabalho caracterizam uma época que teve como consequência uma epidemia de fadiga e neurastenia que demonstram o desânimo reinante diante da mudança brutal na organização social e nas relações com o tempo, objetos e natureza: o início da aceleração do 'tempo' ou melhor, da mudança do ritmo natural dos corpos, que antes entremeavam trabalho e lazer; a troca das ferramentas conduzidas pelo homem por máquinas que ditavam tempo e ritmo impostos ao corpo; da desterritorialização dos grupos transformados em operários em um novo mundo 'urbano', longe de suas terras e de sua comunidade vivendo em condições precárias; das medicalizações e dos esquadrinhamentos dos corpos. (UGARTE, 2007, p.3).
Ainda segundo a autora:
O rápido desenvolvimento da ciência no século XIX, acelerado pela industrialização capitalista, volta-se para o corpo, pela necessidade de 'docilizar' os corpos' para que esquecessem seus estilos de vida arraigados desde os antepassados e se transformassem em uma força de trabalho produtiva e disciplinada. Assim, esses corpos passam a ser esquadrinhados, perscrutados e estudados minuciosamente. O salto no desenvolvimento da sociedade capitalista foi dado com a exploração brutal desses corpos e com dispositivos disciplinares e coerção para a produtividade, como o homo-motor. (UGARTE, 2004, p. 2).
Numa outra tela, UGARTE (2004), denota que no final do século XIX os trabalhadores começam a se organizar para lutar por melhores condições de trabalho e salário, pois as mudanças decorrentes da equiparação entre as classes trabalhadoras e os movimentos sociais, além de sofrer desequilíbrios quando o capital entra em crise (por exemplo: 1980) visam salvar o seu acumulo lucrativo.
Assim também, Antunes (2002) afirmar:
a crise experimentada pelo capital (a partir dos anos 80), bem como suas respostas à crise, das quais o neo-liberalismo e a reestruturação produtiva da era da acumulação flexível são expressão, têm acarretado, entre tantas conseqüências, profundas mudanças no mundo do trabalho. Dentre elas podemos inicialmente mencionar o enorme desemprego estrutural, um crescente contingente de trabalhadores em condições precarizadas, além de uma degradação que se amplia, na relação metabólica entre homem e natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de mercadorias e para a valorização do capital. (ANTUNES, 2002, p. 15).
Este neo-liberalismo citado vem em decorrência das crises econômicas que envolveram a queda nas taxas, além de contrapor-se ao poder dos surgidos sindicatos e dos movimentos operário e do afastamento dos investimentos estatais na produção.
Com os princípios taylorista baseados no método científico de racionalização da produção, segundo a análise de SILVA (2008), visava o aumento da produtividade, a economia de tempo, a supressão de gestos supérfluos.
Para melhor explicação sobre ao assunto Silva (2008), afirma:
O princípio básico da gerência científica é a fragmentação do processo de trabalho na divisão de tarefas proposta por Taylor, sempre ficou patente um claro hiato entre quem planeja e quem executava uma determinada atividade produtiva. (SILVA, 2008, p. 2).
Não muito diferente, e até mesmo de uma forma melhorada, surge também os princípios fordistas, os quais intensificaram ainda mais a divisão do trabalho. Suas características são baseadas no consumo em massa, com um aumento na produtividade, tais quais os princípios tayloristas, porém, com uma diminuição na jornada de trabalho que passou a ser de oito horas com um pagamento de cinco dólares norte-americanos. Em relação ao trabalho, ele ficou fragmentado, especializado, precário e com divisão de tarefas. Outra aparente característica é quanto ao embate das forças que produzem, qual seja as do dono e a do trabalhador, ou seja, aquele que pensa e aquele que executa.
Segundo os escritos de Fraga (2005):
O fordismo, método de racionalização da produção em massa, teve início na indústria automobilística Ford, nos Estados Unidos, onde esteiras rolantes levavam o chassi do carro e as demais peças a percorrerem a fábrica enquanto os operários, distribuídos lateralmente, iam montando os veículos. Este método integrou-se a teorias do engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor, que ficaram conhecidas com taylorismo. Ele buscou o aumento da produtividade através do controle dos movimentos das máquinas e dos homens no processo de produção. O empregado, seguindo o que foi determinado pelos seus superiores, deveria executar uma tarefa no menor tempo possível. (FRAGA, 2005, p. 2).
Porém, o fordismo entra em crise nos anos 60, pois segundo ANTUNES (1995), a produtividade estava caindo e os trabalhadores estavam aumentando o poder aquisitivo e as taxas de lucro despencavam.
Então, entra no cenário do mundo do trabalho o toyotismo que assume uma nova forma a ser seguida pelo trabalhador, que deveriam ser neste momento, polivalentes e multifuncionais, tal como afirma SILVA (2008), que em sua gênese, identificou-se uma técnica que permitiu ao capital de forma intensa o período de "trabalho morto" na cadeia produtiva (lazer) ganhando, assim, a consciência de parte dos trabalhadores com uma falsa argumentação. Estes princípios superariam o fordismo e o taylorismo, ou seja, seriam substituídos pelo trabalho moderno, participativo e tecnicamente mais preparados.
No toyotismo, outra característica importante decorrente do novo modelo de sistema produtivo foi o sistema produtivo flexível, ou seja, aquele que evita a acumulação de estoques, pois ele se baseava de acordo com a demanda. Além disso, apresentou novos termos como: terceirização e trabalhos temporários, que permitiram o aumento do lucro.
2. E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL, O QUE TEM A VER COM ESSAS MUDANÇAS?
Por incrível que pareça, a Educação Física está mergulhada até o pescoço nos processos produtivos que vieram aparecendo, mas para tanto é preciso ver a história, pois ela é crucial para o entendimento dessas inter- relações Educação Física e o mundo do trabalho.
A Educação Física no Brasil vem exigir da sociedade, por exemplo, no período colonial escravocrata de acordo com CASTELLANI FILHO, (1994), "que estigmatizaram a Educação Física por vinculá-la ao trabalho manual, físico, desprestigiadíssimo em relação ao trabalho intelectual, este sim, afeto a classe dominante, enquanto o outro fazia-se pertinente único e tão somente aos escravos".
Deste dito acima, é notória a comparação com os princípios gregos e romanos, por exemplo, o menosprezo pelo trabalho manual, que embora, na Idade Média fora minimizado, ainda se dava maior respeito ao trabalho contemplativo. Outra característica é em relação ao trabalhador, que em sua casa detinha o conhecimento completo da sua produção, ou seja, ele conhecia todo o processo da construção de seu produto.
Mas, como a modernidade e o surgimento das fábricas, nascem como já foi citado, um novo modo de produzir lucro, de máxima produção em curto período de tempo, de supressão de gestos desnecessários, de racionalizar a produção, de acúmulo de capital, que especializa e fragmenta o processo da produção. E isso trouxe a necessidade de forjar o trabalhador brasileiro, para que ele pudesse se enquadrar de acordo com essas novas exigências, principalmente no manuseio das máquinas. Além disso, o caráter racionalista vindo dos princípios taylorista e fordista se adéquam às idéias médicas que regiam a Educação Física no Brasil.
De acordo Ugarte (2004):
A Educação Física se funda nesse contexto, dentro da área médica, com novos aparatos, para que os corpos adquiram resistência física e mental na luta contra a fadiga e contra a neurastenia; seja qual for o contexto social do sujeito, sua fome, seu desgaste. Também os estudos da ergonomia, 'a ciência da fadiga, das relações entre o homem e a máquina no processo de trabalho. (UGARTE, 2004, p. 44).
Assim, Silva (2008), fala a respeito destes princípios dentro do âmbito escolar:
As escolas, com locais dessa produção de comportamento social, vincularam-se rapidamente à busca do padrão urbano-industrial taylorista e sua função de moldar o homem moderno. Advém desse modelo a estrutura arquitetônica fechada e retangular, os espaços funcionalmente divididos, os tempos racionalmente definidos e organizados, os currículos desenhados do primeiro ao último dia de aula, os recursos pedagógicos que definiam todos conteúdos (mesmo antes de ser conhecer o perfil do aluno), os padrões de avaliação rígidos (em escala, tendo como referência o padrão de homem urbano-industrial, seus saberes e comportamento). (SILVA, 2008, p. 3)
A partir desse relato, se pode ver a Educação Física mais uma vez procurando se ajusta com o que pede o modelo de produção vigente, de tal maneira a ser responsável pela preparação de um homem "marionete" que só se mexe quando quem está no comando permite, ou seja, forja um homem dócil e capaz de produzir quieto.
Porém, é importante ressaltar que os modos de produção anteriores entraram em crise como foi relatado anteriormente dando lugar a um novo princípio: toyotismo. Este por sua vez, entrou na área da Educação com suas características, tais com a comercialização da instituição, a terceirização e a precarização dos serviços.
3. CONCLUSÃO.
Portanto, é propício desvendar os olhos e torná-los novos a luz da crítica em prol da compreensão dos vários caminhos percorridos pelo homem em busca de sua sobrevivência, tal qual seja através da história do trabalho e das mudanças nele ocorridas, mas não somente nele, mas também no homem que trabalha.
REFERÊNCIAS.
ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho. 6. ed. São Paulo: Boitempo, 2002.
ANTUNES R. L. Adeus ao trabalho?: ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1995.
ARRANHA, M.L; MARTINS, M.H.P. Filosofando: introdução à filosofia. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2003.
CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. Campinas: Papirus, 1994.
FRAGA, A. B, Da rotina à flexibilidade: análise das características do fordismo fora da indústria. Revista Habitus, vol. 3, nº 1, 2005. Disponível em: < http: //habitus.ifcs.ufrj.br. > Acesso em: 27 de outubro de 2008.
SILVA, P.T.N. Educação Física e reestruturação produtiva: do homem boi ao ócio criativo. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL EDUCAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO E CIDADANIA, Paraíba, 2008. Disponível em: < http://ptnerys@uol.com.br. > Acesso em: novembro de 2008.
UGARTE, M.C.D. Corpo Utilitário: da Revolução industrial à Revolução da Informação. In: IX Simpósio Internacional Processo Civilizador, 2007. Disponível em: < http://ceci.du@terra.com.br. > Acesso em: junho de 2008.
UGARTE, M. C.D. Homo Motor, ciborgues e... aha! Pessoas da Revolução Industrial à Revolução da Informação. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação Física, Universidade de Campinas. Campinas, 2004. Disponível em: < http://libdigi.unicamp.br. > Acesso em: outubro de 2008.