Um filósofo no comércio de perecíveis

Por Marcelo Da Silva Crabi | 03/05/2017 | Filosofia

Ver pessoas o dia todo indo e vindo, trocando dinheiro em mantimentos que as farão mais felizes, talvez. Apenas talvez. Um supermercado pode ser um livro lido, não são letras, mas são códigos que comunicam, assim como tudo no mundo que nos cerca.

Se pararmos para observar, um mercado tem seus setores: o dos produtos de higiene, para as pessoas comprarem coisas para se limpar com mais facilidades; dos alimentos para evitar a dor da fome; das bebidas, principalmente as alcoólicas, para deixar suas vidas mais evadidas do “real”.

Depois de encher um carrinho de tudo isso, vai trocar por dinheiro, com a moça do caixa. Moça do caixa, ela também está ali para que sua vida não seja mais sofrida. Precisa do dinheiro, para também comprar mantimentos – e cá estamos novamente pensando ciclicamente o mercado.

Volta e outra, nesse mundo, encontramos sempre quem olha pra isso tudo e questiona. Olha para os corredores e tenta achar lógica em tudo, acha banal tanta besteira que a maioria fala ao seu redor, tenta achar motivos para ir todos os dias ao seu trabalho, às vezes, quase inútil. Quase, pois sua falta dói mais.

Leio o mundo pensando que, as pessoas buscam o tempo todo, meios de não sofrer. Tudo que fazem é para não sofrer. Não sofrer com a dor da fome. Não sofrer com a falta de roupas. Não sofrer com a falta de remédios para se curar. Assim, se esquecem da alma doente que carregam, e para não pensar nela, as pessoas compram todo tipo de bobagem para sustentar suas existências vazias.

Nada disso é novidade para o filosofo que trabalha nesses mesmos corredores. Uma mente célebre sofre mais. Sofre pelos outros, sofre por ela mesma, tortura-se em depressões, tenta a todo tempo explicar o vazio da vida, questiona a si mesmo, se está certo sobre tudo isso, e depois, acaba por se acostumar.

Ler livros é inútil, tanto quanto ler o mundo que está diante nossos olhos, mas... Se tudo for útil não sobra nada para pensar. A única conclusão é morrer. Procurar utilidade nas coisas é matar a reflexão, que é pão do filósofo.

Se o filósofo é triste por tudo isso, é porque não encontrou a arte que casa com sua alma. Ele saberá que encontrou, quando todas as pessoas o quiserem por perto, para hora ou outra, perguntar-lhe o sentido da vida. Cada dia uma resposta, cada dia mais filósofos.